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WOM Reviews – Armagedda / Cancer / Wampirvs Sinistrvs / Bâ’a / Blight / Akolyth / Hyems / Morte

WOM Reviews – Armagedda / Cancer / Wampirvs Sinistrvs / Bâ’a /
Blight / Akolyth / Hyems / Morte

Armagedda – “Svindeldjup Ättestup”

2020 – Nordvis

Armagedda é daquelas bandas que, felizmente, mantém viva a chama dos idos anos em que o Black Metal encapsulava, em si, Música e Sentimento. Fieis a bases primordiais, o seu início apresentava uma face “suja” e “visceral”, “primitiva” e “agressiva”, mais próxima daquilo que terá sido estabelecido pelos pilares do género (Darkthronian Black Metal). Com “Ond Spiritism: Djæfvvlens Skalder Anno Serpenti MMIV”, de 2004 – último álbum da banda até a edição deste – a banda optou em seguir uma outra linha criativa: um som muito mais trabalhado, complexo, rico e intrigante. 13 anos passaram e, verdade seja dita, ninguém esperava que houvesse algum dia novas deste duo sueco. Mas equivocados estavamos. 2020 trouxe a pandemia, mas também nos trouxe “Svindeldjup Ättestup”, a nova criação de A. Petterson (a mente por detrás da Nordvis Produktion) e Graav. Enigmática e meticulosa naquilo que apresenta, esta entidade sueca traz.nos um portento do Black Metal! Na senda do trabalho criado com o anterior álbum, é-nos dado a contemplar um conjunto de temas que, independentemente da sua duração, nunca soarão monótonos ou vazios de interesse. “Guds Kadaver (En Falsk Messias)” e a suas vocalizações quase faladas, que nos agarra e nos arrasta. O duo regressa, quando considera necessário, às raizes, para logo de seguida nos apresentar riffs que bebem de toda a envolvência natural e mística em que o mesmo vive. O desconstruir as regras / bases, de certo modo. As linhas estão estabelecidas, agora criemos as nossas linhas em cima destas. Que mais dizer? Uma das surpresas do ano, não haja dúvida disso. Daqueles regressos que se fará notar em anos vindouros, seja pela qualidade do apresentado, seja pela singularidade do mesmo. 11 minutos e 6 segundos que funcionam como o encerro do círculo, a serpente que morde a cauda… um opus que nos mostra de que material é, realmente, feita esta entidade.

9/10
Daniel Pinheiro

Cancer – “Opioid”

2020 – Edição De Autor

Não é preciso pensar muito para ver que Cancer é um nome mais que apropriado para uma banda/projecto de black metal depressivo. O duo australiano regressa para o seu segundo álbum e aquilo que nos traz é de uma enorme classe. Isto porque por vezes tem-se tendência a encontrar neste nicho do black metal propostas algo pretensiosas e até aborrecidas. Exactamente o que não temos aqui. Não há pudor em usar melodias e ainda bem porque estas encaixam sempre muito bem. Há um feeling melancólico que percorre este álbum mas também não é de forma a subverter o estilo onde se diz inserir. Consegue-se sentir o desespero mas também a violência sónica que o rótulo black metal já carrega. E nisso é surpreendente e refrescante. Um novo vício para 2020.

9/10
Fernando Ferreira

Wampirvs Sinistrvs – “Blood of the Vampyre”

2020 – Harvest Of Death

É com prazer que, mais uma vez, vejo os meus conterrâneos a apresentar um trabalho primoroso no que se refere à forma mais crua e pura do Black Metal. Ouvi uma amostra, há meses atrás, revelando uma entidade desconhecida para a maioria, com uma conexão bem próxima com o mundo vampírico. Essa entidade era Wampirvs Sinistrvs e o covil é Portugal. A melodia, oh a melodia. Escura e evocativa, sempre presente. Tem uma imagem quase romântica, arrastando-nos para uma cripta profunda e húmida, aguardando o retorno de Nosferatu. De ritmo lento, denso e quase sinfónico – de uma forma assustadora – é assim que vejo a música de WS. Voltemos aos anos 90, na França, a um grupo de músicos que decidiu mudar a forma como o Black Metal vinha sendo representado e criado; vamos voltar a uma época em que Black Metal tinha um significado e sua mensagem, uma era de Miséria e Degradação, Privação Humana e Morte. 4 faixas, 4 hinos de Nocturnos. Cada uma dessas faixas é destinada a provocar a mente de alguém em Angústia e Loucura. A visão francesa do Black Metal está presente nestas linhas, nestas notas. Vlad Tepes, Mutiilation, Belketre, os antigos e poeirentos criadores a casa retornaram.

8/10
Daniel Pinheiro

Bâ’a – “Deus Qui Non Mentitur”

2020 – Osmose

In spite of their formation in 2009, it’s only now that the American band Deadspawn releases its first album, “Pestilence Reborn”, after their two EPs. In previous reviews, I’ve already stated (more than enough) that I usually dislike albums that have little to no variability throughout their duration. However, ladies and gentleman, I think I’ve found one of those albums (it has little but noticeable variety) and I actually like it very much! Deadspawns style is focused around that particularly destructive darker form of death metal. From one end to another, this album is the beat-down of your lifetime without time for any type of rest (ok, taking out the mellow part of “From Ruins” which serves as a very good separating bridge between the two halves of the album). “Pestilence Reborn” is an album that opts for a teamwork approach instead of an approach that focus only in one single instrument, so yes there are “one or two” guitar solos but on the overall they are quite few, but hey, if you have good work on vocals, bass and drums why focus all the attention on the guitar? To end, I think is worth noticing that the main thing that effectively grabs the listener by his/her ears is the aggressiveness, which is think is better displayed by the unforgiving vocals. Basically, it’s a work that gives 100% on every aspect so it’s decisively a recommendation from me!

8/10
Daniel Pinheiro

Blight – ” Temple of Wounds”

2020 – Svart Records

O Black Metal canadiano tem duas “variações” dominantes: a abordagem de uns Blasphemy ou Antichrist, visceral e “bélica”, e a melancolia das planícies geladas e dos nevões intensos de uns Sorcier des Glaces ou Nocturnal Prayer (nota: estes são meros exemplos). Estas são as linhas de Black Metal das quais tenho conhecimento, saídas daquele território gelado. Mais haverá, correcto? Correcto. Hoje trago-vos um desses exemplos. Não encaixa na categoria de SdG e muito menos na de Blasphemy. Blight, como banda, está activa desde 2008, e nestes 12 anos, “Temple of Wounds” é o primeiro álbum (após uma série de Demos, EPs e Split, inclusivé compilações). A nível da criação, a mesma é capaz de agradar a fãs de Behemoth e Marduk, por exemplo. Um som muito limpo, uma produção que permite que o ouvinte atente a cada detalhe. Overall, um som bastante moderno, seja na produção, seja no acto criativo em si. Há todo um sentimento de ódio e raiva, por todo o álbum; constantes descargas de violência sob a forma de música. “Before the Monolith” carrega em si um groove bastante ritmado, aqui e ali. Nada expectável. Ritmos lentos e densos, pesados; andamentos acelerados e intensos. A alternância entre vocais ásperos, e mais próximos do Black Metal, e vocais limpos e melódicos, traz um dinamismo diferente ao produto final, tornando-o interessante nesse sentido. Como ponto menos positivo apontaria, talvez, a duração das músicas, todas acima dos 5 minutos. Acaba por ser, em casos, um esticar das mesmas. Pode resultar, pode dar em algo pesado e enfadonho. No geral é um trabalho agradável que agradará facilmente ao fã de Black / Death que procura melodia, agressividade, boa produção e bons riffs.

7/10
Daniel Pinheiro

Akolyth – “Akolyth”

2020 – Amor Fati

Amor Fati Productions, casa de bandas como Black Citadel, Kill, The One e Goat Torment, entre muitas outras, recebe o trabalho de estreia de Akolyth. “A Work of Ages”, tema com que o álbum abre, revela-se um autêntico desfilar de violência e agressividade. Durante os mais de 9 minutos somos fustigados com esta parede de som que nos é lançada, sem qualquer remorsos, com o único intuito de nos ferir. É demasiado dissonante, demasiado… não diria complexa, mas há demasiado a acontecer em apenas 9 minutos. É demasiado. O segundo tema já assume outros contornos, mais fáceis de ser assimilados e igualmente apreciados. Arrisco dizer que a banda pretendia que o ouvinte fosse recebido assim, de surpresa. E assim o foi, comigo pelo menos ahahah. De referir que cada um dos 4 temas supera a casa dos 9 minutos. Demasiado, não? Talvez seja. De destacar o trabalho de bateria… incessante descarregar nas peles. Ao terceiro tema a “besta” ganha outra envergadura, tornando-se muito mais aprazível, em muito devido a um dinamismo diferente, variações de ritmo e similares. Independentemente das variações impressas ao som, a descarga de “violência” é demasiada para mim, tal como foi, na altura em que saiu, o “Panzer Division Marduk”, e quanto muitos de nós nos q     uestionámos acerca daquela prestação na bateria ahahah hoje já a “vejo” com outros olhos. Ao quarto tema a coisa segue outro caminho – o mesmo do terceiro, de certo modo – terminando o álbum melhor do que iniciou. Há raiva não contida e um descarregar, nos instrumentos, que se reflecte no resultado final.

7/10 
Daniel Pinheiro

Hyems – “Anatomie des Scheiterns”

2020 –  Black Sunsed/MDD

20 anos de carreira é um número bastante respeitável, especialmente se estivermos a falar de uma banda de Heavy Metal, ainda mais se essa banda se dedicar ao Black Metal. De valorizar, senhores e senhoras. Alemães, apresentam-nos um som na língua de Engels. Possante e encorpado. Germânicos e o seu poderio bélico e subjugante, que se vai reflectir neste álbum, “Anatomie des Scheiterns”, editado pela Black Sunset (label alemã / asutríaca). Temos 7 temas, todos acima da casa dos 5 minutos, perfazendo um total de 48 minutos. Poder-se-ia tornar numa árdua tarefa, a da audição deste trabalho, mas curiosamente não. É um álbum com bastante fluidez e dinamismo. Sim, há momentos em que sentimos que os músicos esticaram demasiado a composição, mas tal não anula que haja qualidade e criatividade. Black Metal melódico, é aqui que assenta o apresentado pela banda, ao qual se associa toda uma linha muito marcial, muito identificável com aquilo que a banda demonstra ao longo destes 7 temas. Black Metal frenético, melódico, “militarizado”, que caminha constantemente em paralelo com aquilo que tivemos nos 90. Um trabalho muito bem conseguido e que respeitará os requisitos de muitos dos fãs de Black Metal de outrora…

Merecedor de nota: ” Nazi Black Metal Fuck Off” (statement da banda)

7/10
Daniel Pinheiro

Morte – “Demónios Abissais”

2020 – Art Of Propaganda Records

Pouquíssima informação me chegou acerca destes Morte. São do Barreiro, e só quem tem já assim uns aninhos sabe o peso que a Margem Sul teve no florescer do Heavy Metal em Portugal… ou do Hardcore, ou do Punk, ou da Cultura Artística / Musical em geral (Laranjeiro, bitches). Ah, conta com Melkor nas guitarras (Carnificina, Culto Macabro, Di.Soul.Ved, Neoplasmah). Falemos, então destes Morte: surgidos aquando de um cocnerto tributo a Black Cross, o trio presta a sua homenagem aos referidos e à 1.ª vaga de Black Metal – essencialmente. Um passo lento e denso, muito Celtic Frost, muito Atmosférico, contemporâneo. É um projecto interessante, admito. Cantado na língua mãe de Pessoa, são 8 temas no total (1 Intro + 1 Outro), sendo que dois destes são bónus (“Sexta-feira 13” e “Lord Satanas”, de Black Cross ). A banda refere que toma uma banda como Portal como influência, e apesar der não os “ver” no som da mesma, consigo perceber o sentido que pretendem com esta “comparação”: os detalhes mais atmosféricos, mais (quase) ambientais. As vocalizações são perfeitas para uma sonoridade mais lenta e pesada, arrastada quase – em momentos, atenção. Não são ignoradas as rasgadas mais inspiradas nos anos 90, não! Remetem-me realmente para os 90, mesmo em Portugal. Há imensa, imensa melodia. Melodia à qual a banda vai acrescentando camadas e camadas. Creio que denso e lento são as duas melhores formas de caracterizar o som dos Morte: “Demónios Abissais” tem um início tremendo! Destes Morte só conhecia o nome, assumo, falha minha! Não contava dar de caras com este som, admito, mas fui agradavelmente surpreendido. “Pacto Malévolo”, tema que “encerra” o álbum, é outro bom exemplo daquilo a que soam estes Morte, e o recurso à língua portuguesa ajuda a criar toda uma aura (real) em torno da banda. Uma excelente apresentação ao Mundo.

7/10
Daniel Pinheiro

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