WOM Reviews – Ashes For The Mute / Anaal Nathrakh / Winter Eternal / Friisk / Gexerott / Primitive / Nigrum Pluviam
WOM Reviews – Ashes For The Mute / Anaal Nathrakh / Winter Eternal / Friisk / Gexerott / Primitive / Nigrum Pluviam
Ashes For The Mute – “Celestial Revelations”
2021 – Edição de Autor
Ashes For The Mute, banda norte-americana de black metal bruto dos queixos que agora se inicia nos álbuns. E da melhor forma. “Celestial Revelations” é uma daquelas bombas que nos coloca o tempo em perspectiva: isto é, se tivesse sido lançado algures entre 1995 e 1999, seria certamente um clássico do estilo. Não que seja retro ou que evoque valores datados, mas porque a sua música seria apreciada de uma forma mais geral quando o estilo estava em alta em termos de popularidade. No entanto, popularidade é a última coisa que interessa aqui – e que provavelmente interesse à banda. Consegue ser épico sem ter temas propriamente longos, bruto sem entrar por caminhos death metal e cativante sem ser demasiado melódico – não que haja algum problema com isso. Gosto particularmente do ambiente e da produção que têm aquele “verniz” que dá o ar mais primitivo, ainda que isso não passe por uma abordagem mais orgânica. Uma excelente estreia de uma excelente banda.
9/10
Fernando Ferreira
Anaal Nathrakh – “Hell Is Empty, And All The Devils Are Here”
2007/2021 – Metal Blade
Saltando dois álbuns na ordem da discografia, a Metal Blade Records pegou no quarto álbum do duo britânico para voltar a apresentá-lo aos fãs. Devo dizer que contra a imparcialidade, tenho um carinho especial por este álbum porque foi o primeiro que me cativou definitivamente para o som da banda. Aquelas melodias épicas em conjugação com o peso triturador metálico – como um tema como “The Final Absolution” tão bem representa. Quase quinze anos depois, continua a ser uma bomba bruta de metal extremo – que começa a ir para além do black metal mas que continua a evocar o seu espírito blasfemo como ninguém. Níveis de violência épicos e um incrível bom gosto na composição. Duas coisas juntas que começaram a surgir cada vez mais na discografia dos Anaal Nathrakh a partir deste ponto.
9/10
Fernando Ferreira
Winter Eternal – “Land of Darkness”
2021 – Hells Headbangers
Trazemos um álbum que faz jus ao nome da banda (de um homem só) que o criou: Land of Darkness de Winter Eternal, um álbum que desde início transmite uma aura de frieza esmagadora num estilo de black metal de estilo mais clássico – a voz rouca e pouco editada e o instrumental equilibrado sem se retrair nos confins mais obscuros do género. Este trabalho é uma ode ao metal de cariz mais épico e pesado que tem grande facilidade em criar uma atmosfera para na qual o ouvinte se vê preso mesmo que não o queira fazer. Land of Darkness poderá não ser um trabalho que fique para sempre na memória daqueles que dedicam a sua vida ao black metal, mas trata-se claramente de um álbum que se encontra acima da linha de qualidade média das bandas mais underground que lidam com este subgénero.
8.5/10
Matias Melim
Friisk – “…Un Torügg Bleev Blot Sand”
2021 – Vendetta
E assim chega o álbum de estreia dos alemães Friisk, depois do EP de 2018 e o split com os Loth no ano passado. Black metal atmosférico e épico é obviamente onde se centram estes sete temas. Intensidade dramática que nos enfolfa na escuridão, tal como seria a nossa expectativa aliás. Ao contrário das fórmulas mais imediatas, os Friisk gostam sobretudo de dar ênfase aos ambientes que são criados através da conjugação dos tempos mais compasados e da forma como as notas respiram entre si. Claro que temos várias oportunidades para o headbang mas a tendência é mesmo para a atmosfera, excelente, tomar conta das operações. Para os fãs do estilo mais contemplativo e épico do black metal, é uma estreia que vai interessar.
8.5/10
Fernando Ferreira
Gexerott – “Hallucinetic Violet Ignition”
2021 – Satanath
Terceiro álbum dos colombianos que surge após oito anos de silêncio. A banda tem uma forma muito peculiar de black metal e diria que aqui atingem o pico máximo em termos de finesse. O black metal surge associado a campos mais extensos. É comum encontrar a descrição de black/doom metal, o que faz sentido mas talvez leve um pouco ao engano. Mais melódicos e mais apostados em criar atmosferas marcantes, eu diria que essa é a fórmula que leva a que tenhamos um álbum dinâmico e poderoso. Solos, riffs, dissonâncias e um espírito de progressão que em conjunto com os elementos black metal faz com que este seja um álbum surpreendente e viciante. Vicia inicialmente e depois vai surpreendendo a cada nova audição. O melhor é que se sente que não fica apenas por aqui e que a evolução vai continuar.
8/10
Fernando Ferreira
Anaal Nathrakh – “When Fire Rains Down From The Sky, Mankind Will Reap As It Has Sown”
2003/2021 – Metal Blade
Depois de “Codex Necro”, este EP demonstra como a banda, mesmo no início da sua carreira, conseguia causar um enorme impacto. Os riffs, para mim, sempre foram a arma mais desvastadora e aqui temos apenas seis temas mas todos eles têm a oferecer nesse departamento. A produção está menos suja que no álbum de estreia já citado mas ainda assim, o peso não é sacrificado. Mais uma peça do puzzle que é recomendado ter, ainda que saiba a pouco.
8/10
Fernando Ferreira
Primitive – “Metal Baphomet”
2021 – Murder
Este não é um nome enganador. Os brasileiros Primitive são mesmo primitivos na sua abordagem ao black metal e por primitivo não me estou a referir apenas à gravação que apesar de podre até é bastante competente e capaz para as exigências da música. Falo mesmo da abordagem primitiva da música extrema que está feita aqui, uma espécie de pré-segunda vaga do género mas que vai buscar também muitas coisas que pertencem à mesma, sobretudo nalguns dos principais riffs. A voz poderá requerer alguma habituação, mas a mesma também tem diversas abordagens que facilitam a que não se torne aborrecida. É um álbum directamente para o underground da cena e que vai impressionar/surpreender pela positiva.
7/10
Fernando Ferreira
Nigrum Pluviam – “Eternal Fall Into The Abyss”
2021 – Signal Rex
Para futura referência, quando o assunto for black metal podre e lo-fi, remeter para este álbum de estreia da entidade francesa Nigrum Pluviam. “Eternal Fall Into The Abyss” é podre. É podre de uma forma fofinha, ou seja, remete para as primeiras aventuras na música por quem já teve ou ainda tem black metal. Algumas boas ideias, um espírito idealista e mais paixão do que condições de gravação. Hoje em dia, este tipo de abordagem só faz sentido no black metal. E sim, ainda faz sentido. Continuo a achar que, tal como naquela época, o que se perde em qualidade musical ganha-se em ambiente e atmosfera. Claro que depois convém termos riffs – o riff é o eterno pilar da coisa – que sustentem o interesse ou de outra forma o mesmo acaba por esmorecer. Aqui até temos alguns riffs, mas fazia falta algum critério e selecção. Isso e na duração dos temas. Nostálgico será para alguns, para outros algo que é sempre actual e o que procura, para os restantes (e maior parte da população humana) vai passar ao lado.
5/10
Fernando Ferreira