WOM Reviews – Clouds Taste Satanic / Rorcal / Earthflesh / Clouds / Lord Drunkalot / Offernat / Mur / Devastating Light / Amammoth
WOM Reviews – Clouds Taste Satanic / Rorcal / Earthflesh / Clouds / Lord Drunkalot / Offernat / Mur / Devastating Light / Amammoth
Clouds Taste Satanic – “Cloud Covered”
2021 – Edição de Autor
Eu sei que já falei deste lançamento parcialmente já que parte dos temas aqui foram sendo lançados em quatro volumes/singles, sendo que aqui acrescem dois versões novas, sendo elas “Not Fragile / Free Wheelin’” dos Bachman-Turner Overdrive e “In the Flesh? / One of These Days” dos Pink Floyd, que surgem como versões magistrais, aliás, como é apanágio. Apesar de não soarem muito longeo do original em termos de melodia, o contexto stoner/doom e o facto de serem instrumentais fazem com que todos estes clássicos soem ainda mais pertinentes neste contexto. Não me canso de repetir que esta foi uma excelente ideia e recomendada não só aos fãs da banda mas para quem gosta de uma boa dose de músicas obrigatórias reinterpretadas. Daquelas para ouvir vezes sem conta.
9/10
Fernando Ferreira
Rorcal / Earthflesh – “Witch Coven”
2021 – Hummus Records
Os splits são fantásticos, duas bandas diferentes ou semelhantes juntas no mesmo disco. Aqueles splits que tentavam que houvesse uma relação entre as duas bandas (os chamados “war” tendo começado julgo eu pela Season Of Mist) mas as colaborações é, para mim, uma elevação a um novo patamar. Duas entidades unem-se criativamente para algo completamente novo e por vezes diferentes. É o caso dos Rorcal que se unem a Earthflesh, um projecto, curiosamente do anterior baixista dos Rorcal, Bruno. Um projecto experimental dentro do noise/drone. E o resultado são duas faixas que totalizam pouco mais de meia hora de música. É uma viagem onde nos perdemos no tempo e onde o habitual black/doom dos Rorcal assume novos contornos e peso, intensidade, algo que à partida até julgaria–se ser impossível. Excelente proposta que só peca por não ter sido ampliada com mais um tema.
9/10
Fernando Ferreira
Clouds – “Doliu”
2014/2021 – Personal Records
Vamos viajar até ao início da carreira discográfica dos Clouds. Não é uma viagem muito longa, afinal este “Doliu” data só de 2014 mas é bomv er como a genialidade do doom mais atmosférico (e até quase funeral doom) já abundava aqui nesta estreia. Sete temas que nos transportam (ou embalam) ao longo de uma hora, Sem dúvida que o conseguem fazer para quem é sensível à melancolia e intensidade dramática. O peso não é omnipresente, o peso da distorção isto é, embora a melodia do piano também tem o certo peso emocional e é entre esses dois registos que nos vamos alternando sempre com o impacto máximo. Para quem não conhecia o passado da banda – como foi o meu caso – esta é uma oportunidade única de apanhar o álbum de estreia de uma das grandes bandas de doom metal dos últimos tempos onde não é de estranhar a presença de Déhà, um dos grandes génios do estilo.
9/10
Fernando Ferreira
Lord Drunkalot – “Heads & Spirits”
2020/2021 – Planet K Records
Estreia fantástica dos Lord Druankalot, que diga-se de passagem têm um nome fantástico. E a capa é do mais mordaz possível. No entanto a sonoridade é bem séria, heavy doom tradicional e com grande feeling. Ouve-se com tal prazer que nem nos importamos que soe a Sabbath. E porque é que haveria de renegar a paixão de seguir aquilo que faz parte do seu ser. Digamos que esse tributo só poderia ser bem prestado se fosse feito com excelência, que é o que acontece aqui. Álbum gravado e lançado de forma independente no ano passado e agora repescado e muito bem pela Planet K Records.
8.5/10
Fernando Ferreira
Offernat – “Offernat”
2021 – Edição de Autor
Interessante nova banda que nos chega de Copenhaga e que confesso que me trocou as voltas. Ao ouvir o primeiro tema fiquei convencido que se tratava de algo mais a puxar ao hardcore, mas conforme o EP se desenrola, temos por aqui uma interessante abordagem ao sludge e até soa por vezes a post-metal, sobretudo o épico final “Shadow Of Flame”. Este é um projecto recente mas pela forma como juntam vários estilos e sensibilidades (aliás, o projecto, nascido em pleno confinamento, tem mesmo essa vantagem dos seus integrantes terem os mais diversos gostos e backgrounds), tem tudo para (continuar a) surpreender no futuro mais próximo.
8.5/10
Fernando Ferreira
Mur – “Truth”
2021 – Les Acteurs De L’Ombre Productions
Os Mur foram uma boa surpresa pessoal. Estando associados à Les Acteurs De L’Ombre, esperava algo mais tradicional na linha do black metal – embora essa linha não seja assim tão ortodoxa quanto possa parecer. Este EP surge dois anos após a estreia que não conheço, mas a avaliar por estes temas, a vertente pós-metal (nem faz se calhar sentido o black metal, tirando alguma da agressividade da voz) está em evidência mas depois temos também muitos outros elementos que tornam a coisa interessante. Algo que me fez confusão inicialmente foram os teclados meio retorcidos (pessoal da velha guarda, lembram-se de como ficava o som das cassetes muito gastas?) mas que confesso que veio trazer poder adicional aos temas. Poder e versatilidade. Não é um EP que vai converter imediatamente qualquer um mas será uma boa surpresa se lhe derem tempo para actuar. Podem começar pela excelente cover dos Talk Talk, brilhante, que compensa a electrónica faixa-título.
7.5/10
Fernando Ferreira
Devastating Light – “I Have Already Failed You”
2021 – Edição de Autor
Os Devastating Light são uma banda finlandesa de doom metal que se estreia este ano com o EP “I Have Already Failed You”. Este trabalho é composto por três faixas (I, II e III) e cada uma delas dura cerca de oito minutos. Em termos líricos, o álbum é apresentado num estilo minimalista (em 8 minutos são “cantadas” três frases) e associa-se ao lado psicológico (e não só) do sofrimento da existência no mundo atual. Acho que importa aqui criticar que, para mim, pessoalmente, as lyrics falham em dois aspetos essenciais. O 1º remete exatamente para o seu conteúdo. Mais especificamente, perante um mundo em que cada vez mais a sensação de sofrimento existencial se torna generalizada e cada vez mais pessoas ponderam sobre a questão (incluindo eu enquanto boomer de 24 anos), as letras deste álbum parecem verdadeiramente superficiais em comparação (aliás, lembraram-me mais aquela angústia adolescente por que todos passamos). Não é que os problemas que aborda “indiretamente” sejam superficiais (creio que seja acerca da devastação humana da Natureza e do conflitos inter-humanos que nos assombram enquanto produtos da nossa própria natureza), mas a forma como “são sofridos” e apresentados deixou-me bastante a desejar por mais. Em 2º lugar, a forma como estas letras são cantadas. O rugir distante e sem grande entendimento por parte de quem não tem as letras à mão, leva a que uma mensagem que tem tanta profundidade se perca neste estilo de canto. No que toca ao lado instrumental, acho que é um bom álbum principalmente pelos riffs escolhidos a nível da guitarra na última faixa. Portanto, é um trabalho que agrada, mas que cavando mais fundo me deixou um pouco cínico, talvez tenha sido o sofrer do fado e da filosofia pessoana que tornaram o meu apetite por sofrimento num monstro mais complicado de agradar (mas hey, só me queixo porque realmente me interessou e me levou a investigar, portanto são pontos positivos para a banda por me despertar o interesse entre tantos trabalhos cópias uns dos outros).
7.5/10
Matias Melim
Amammoth – “The Fire Above”
2021 – Electric Valley Records
Formados em 2016 e oriundos de Sidney, Austrália chegam-nos os Amammoth que conseguem finalmente lançar o seu álbum de estreia ‘The Fire Above’. A proposta dos Amammoth não é propriamente inovadora pois a mistura Sludge/Stoner/Doom tem-se tornado bastante célebre na última década, ainda assim os Amammoth mostram-nos a “versão Australiana” da conhecida combinação. O trio Australiano dividiu ‘The Fire Above’ em duas partes de três faixas, a primeira parte composta pelas faixas ‘Heal’, ‘The Sun’ e ‘Shadows’ fica essencialmente marcada por uma aura austera e corrosiva com o Sludge Metal claramente a “comandar” as operações. Na segunda metade do álbum os Amammoth decidiram dar protagonismo à sua vertente mais deprimente e arrastada onde a dicotomia Stoner/Doom tem claramente predominância em relação ao Sludge. ‘The Fire Above’ é um álbum que vai certamente agradar a quem já é fã de longa data destas estas sonoridades mas objectivamente não tem a capacidade de inovação ou o nível de originalidade para captar a atenção das “massas” afectas a outros subgéneros.
7/10
Jorge Pereira