Review

WOM Reviews – Dauþuz / VRK / Amaltheia / Wan

Dauþuz – “Vom Schwarzen Schmied Bergkgesænge”

2022 – Amor Fati Productions

Esta foi a banda que me derrotou. Nunca tinha ouvido falar de Dauþuz, nem sei como pronunciar o seu nome nem o nome dos seus álbuns na velha moda alemã. Como muitos o farão, a primeira coisa que fiz foi investigar a banda no Metal Archives, e quebrei mal vi os temas abordados da banda: ”mineração tradicional na Alemanha e Europa, Fantasia”. Logicamente, pensei que seria uma piada à moda do site ou então que seria uma banda de paródia, mas não é esse o caso…felizmente. Porque a verdade, é com este tema e com o seu estilo de black metal, Dauþuz é uma banda única e de qualidade bastante elevada. Pegando pelo seu último álbum, Vom schwarzen Schmied Bergkgesænge, o que Dauþuz nos apresenta pode ser entendido como metal contemplativo (como já foi apelidado por outros), não tanto na veia de Schammasch mas mais na veia de Bathuska. Entendamos Dauþuz como Bathuska fora da igreja. Em termos mais específicos, instrumentalmente, a música caracteriza-se maioritariamente por composições semi-caóticas mas sentidas à distância, e em termos vocais, onde está grande parte da glória na minha opinião, temos uma mistura de cantado “ululante” e de narração sofrida. Encontrei a minha jóia escondida deste ano, e nada mais que em black metal mineiro da Alemanha.

10/10
Matias Melim


VRK – “Palimpsesto Retrospectivo da Memória”

Uma das coisas boas na vida, é que temos a capacidade de nos ligarmos a lugares como nos ligamos às pessoas. Ter uma enorme ligação ao Norte (real), facilitou-me a ligação à vizinha Galiza. Para além da realidade geográfica, os paralelismos sociais estão sempre presentes. As montanhas, os velhos acreditam, a forma como olhamos para os nossos, e como mantemos a nossa posição quando se trata de defender a terra (não de uma forma beligerante, claro), ajudam a criar estas pontes. Com sabedoria musical, e especificamente no Metal Extremo, tenho vindo a seguir Xerión desde há alguns anos. Sempre adorei a forma como Nocturno incorporou o seu antigo folclore no Black Metal, diferenciando-o da maioria dos actos do Folk Black Metal. Há esta… doçura na sua música, na sua forma de criar música.

Há algum tempo atrás, fui presenteado com alguns lançamentos de Nigra Mors, pelo próprio homem. Demorei algum tempo a ter tempo para a ouvir realmente, mas gostei muito da música. O que foi tratado nesta crítica está longe do que ouvi de Nocturno e Daga (pois Xerión é um projecto de 2 peças) e vê Nocturno unir forças com Analitika Sordida Pesilentia – sobre vozes – para criar um som que tenha mais veias finlandesas, do que galegas. No início, quando começa “O Eterno Desacougo”, penso no Beherit ou Blasfémia… sobretudo para a atmosfera, e não especificamente para o som em geral. Embora Witchcraft, também da Finlândia, também me venha à mente.

Devagar, devagar, devagar. E pesado como o Inferno. Bateria lenta, acompanhada por este grosso riffs de guitarra, este baixo pesado. A voz, longe dos instrumentos, funcionam como uma espécie de guia, para o ouvinte. A partir deste ponto, foi tudo poder e violência. Por vezes, aqui e ali, recebo este cheiro de podre, decrépito, Crust; o que não é estranho, dada a natureza do Black Metal – especialmente as franjas mais duras.

Os tambores, este padrão repetitivo, monótono e quase mecânico, vejo que foram programados… faz sentido (mas corrijam-me se necessário), encaixa na música, encaixa na estética, encaixa no género. Dá a música que… para ser honesto, não consigo descrever. Da mesma forma que Beherit tem esta aura, esta atmosfera de ar pútrido e almas mofadas, VRK transporta uma variedade de elementos pesados, para estruturar o seu som. É Black Metal, tem o caos, tem este gosto mecânico, quase industrial; e quanto mais se roda, mais se começa a desfrutar desta disfunção caótica controlada. Parece estranho, eu sei, mas confiem em mim.

Pode não se entrar no início, mas cresce, vai cimentar-se no seu cérebro, fazendo eco. E esta é a magia da Música: pode não ser – nem precisa de ser – a mais complexa do Mundo para te fazer sentir, seja o ódio, seja o amor…


Amaltheia – “Amaltheia”

2022 – Godz Ov War Productions

Mais uma estreia discográfica, aqui um projecto que junta músicos espalhados entre o Reino Unido e a Grécia. Em termos sonoros, se tiver de haver uma aproximação a qualquer um dos dois países, pensamos primeiro na Grécia. Riffs dissonantes, um sentimento de sufoco que acompanha a todos os momentos o ouvinte com alguns momentos de clareza onde a dissonância acaba por ser ainda mais eficaz. “Amaltheia” é um trabalho exigente, da escola de uns Deathspell Omega que sobrevive pelos seus próprios méritos. Apesar de ter pouco mais de meia hora, a sua intensidade é tanta que parece mesmo a duração perfeita. Para os que gostam de estar no abismo.

8/10
Fernando Ferreira


Wan – “Antichristian Douchebags”

2022 – Fallen Temple/Corrupted Flesh

Depois de cinco anos, regresso dos Wan com este “Antichristian Douchebags”. É o regresso de um black metal podre e selvagem, sem grandes espaços para invenções. O que é algo que garante sempre público e no caso dos Wan, com justiça já que apesar da abordagem bem crua e lo-fi da produção, a agressividade e claustrofobia misantrópica ultra-violenta é transmitida na perfeição. Quando for para invocar o fim do mundo, isto serve perfeiramente.

7/10
Fernando Ferreira


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