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WOM Reviews – Esther Ann Gove / Crown / Les Chants Du Hazard / Poison Oak / Dobbeltgjenger / Vector Seven / Mossadeq / Neofelis Nebulosa

WOM Reviews – Esther Ann Gove / Crown / Les Chants Du Hazard / Poison Oak / Dobbeltgjenger / Vector Seven / Mossadeq / Neofelis Nebulosa

Esther Ann Gove – “Oh Creation”

2021 – Edição de Autor

Muito mais que música acústica. Esther Ann Gove é uma cantautora que ganhou experiência nos palcos de pequenos bares e que finalmente decidiu passá-la e registá-la em disco. Em boa hora o fez porque se da simplicidade desarmante que nos parece ser de início, conforme “Oh Creation” se desenrola, muito mais vamos tendo. Uma alma enorme que parece encontrar eco em nós próprios. A nossa própria, com imagens novas e outras que já vivemos, surgem a cada tema com mística de nomes que lhe serviram inspiração. Nomes como Townes Van Zandt. Folk norte-americano mas ainda bastante distante daquilo que entendemos por country, uma melancolia tocante e temos dificuldade em largar mão. Excelente surpresa e recomendação obrigatória para os fãs de Folk. Ou de boa música.

9/10
Fernando Ferreira

Crown – “The End Of All Things”

2021 – Pelagic Records

Os Crown conseguem tornar o industrial belo. Não é que o género tenha que ser obrigatóriamente feio, mas a necessidade de abrasividade é mais que muita. É necessária e até esperada, de forma a tornar a componente maquinal mais evidente. Tudo depende daquilo que se pretende e temos que admitir que a passagem dos anos também trouxe uma maior familiaridade com as componentes electrónicas, fazendo até com que as mesmas cheguem ao mainstream. Por isso não deveria (e não é) de admirar que algumas componentes do mainstream se coloquem de forma tão magnífica em algo mais underground. Os Crown tomaram o underground de assalto com o seu álbum de estreia mas muito pouco resta dessa banda aqui. Contudo essa progressão é seem dúvida o  ponto de maior atractivo. “The End Of All Things” não é o fim mas o um novo início, onde as melodias acabam por ganhar a tudo o resto. Uma espécie de abordagem mais própria até dos Depeche Mode ou se quisermos comparar metamorfoses, com Paradise Lost em “One Second” e, principalmente, “Host”. Temas que se tornam virais rapidamente cá dentro e com um potencial para assim permanecerem durante muito tempo. É surpreedentemente fantástico, quando nos apercebemos que isso não impede que tenhamos alguma visceralidade. O fim de todas as coisas é um bravo novo mundo a descobrir.

9/10
Fernando Ferreira

Les Chants Du Hazard – “Livre Troisième”

2021 – Edição de Autor

E agora algo completamente diferente. Les Chants Du Hazard chegam ao terceiro álbum e com ele veio a vontade de se afirmarem definitivamente num mundo que talvez não seja o seu. Aliás, o seu mundo é um pouco de dois mas também nenhum simultaneamente. Trata-se de um projecto orquestral que tenta capturar a ambiência e violência do metal (nomeadamente do black metal) através de instrumentação não comum ao género. Apesar desta proposta não ser muito diferente dos outros dois álbuns – em termos de formato – há a clara intenção de elevar a fasquia aqui. Desde a participação da orquestra, de coros, de tenores e sopranos, como a inclusão das vocalizaçãoes próprias do black meta. A intenção está claramente atingida e é uma bela peça de música que poderá ser demasiado clássica para quem gosta de metal e demasiado estranha para quem gosta de música clássica. Uma coisa é certa, é realmente intenso e uma banda sonora própria para um filme de terror. Recomendado ouvir para quem é fã de bandas sonoras e também para quem gosta de coisas que não caibam em lado nenhum confortávelmente. Esta é uma delas.

8.5/10
Fernando Ferreira

Poison Oak – “1996”

2021 – Edição de Autor

Devo dizer que um título como “1996” supõe logo algo nostálgico, mas curiosamente não é para essa data que a minha mente viaja ao ouvir este EP dos norte-americanos Poison Oak. Data que, como já tive oportunidade de dizer, é uma das mais ricas para a música pesada. Não, o destino da viagem temporal vai mais atrás, meados da década de oitenta com uma forte vibe a The Beatles. Como se os Fab Four se tivessem juntado duas décadas mais tarde. Não estou com isto a querer comparar o incomparável mas não há dúvida nenhuma da classe que abunda por aqui. Rock indie cheio de classe. Gostei de os conhecer, calculo que também vão gostar. Mas sem a pressão da comparação com os The Beatles (a sério).

8/10
Fernando Ferreira

Dobbeltgjenger – “Smooth Failing”

2021 – Karisma Records

Que som tão… tão… cool! “Smooth Failing” é mesmo ”smooth” mas está longe de ser um falhanço, pelo contrário. Muito pelo contrário. É um rock progressivo bem cool mas completamente longe daquilo que entendemos por rock progressivo. Tão longe que se calhar nem se deva usar esse rótulo por aqui.. É provocador, é cheio de groove, um groove gingão de quem sabe que aquilo que faz é muito bem feito. Tem uma certa vibe disco que faz parte dessa sua provocação, mas resulta tão bem e de forma insuspeita que faz com que seja difícil dizer coisas más dele. Aquela “Come On Over” parece ser um resumo perfeito onde o falseto nos faz lembrar coisas tão díspares como de Bee Gees a Mick Jagger. É uma celebração da decadência, um testemunho e uma celebração de, tal como a banda diz, todas as más decisões que já tomaste na vida. If you’re going down, it’s better to go down dancing.

8/10
Fernando Ferreira

Vector Seven – “Electric Blood”

2021 – Darkhan Music

É curioso ver como o retro se tornou em pequenos nichos. Ou como as breves sensações de outrora continua a ter impacto nos dias de hoje. Aqui falamos da cena synth, música que acenta, tal como o nome indica, no som arcaico de sintetizadores próprios da década de setenta e oitenta. Sobretudo oitenta. São essas as principais referências e como sempre neste género de música, principalmente quando bem feito, há muitas referências cinematográficas. A música consegue passar essa noção de perigo iminente de tensão e até de algum peso. Chega a ter muitos pontos em comum, curiosamente, com a música electrónica da década de noventa. Para quem não tiver preconceitos em relação à música de sintetizadores, ouve-se extremamente, como uma droga que diríamos que nunca iríamos experimentar mas depois acabamos por ceder ao seu feitiço.

8/10 
Fernando Ferreira

Mossadeq – “Hospital”

2021 – Grazil Records

Foi-me ditto de que este não seria um álbum fácil de interiorizar. Tendo em conta aquilo que valorizamos, devo dizer que isso não é coisa para assustar. Pelo contrário, oferece um efeito de atracção interessante ainda que nem sempre consiga justificar essa mesma atracção. Podemos dizer que é um álbum produto dos tempos actuais, que incrivelmente dura já há mais de um ano, isto em termos líricos. Musicalmente é um claro dominado pelas sonoridades industriais mas que vai tanto dos tem as mais viscerais até aos mais rock, como também tem umas vertentes ambientais que são aquelas que resultam da melhor forma quanto a mim. No geral, é um trabalho com muitas opções a oferecer e que todas conseguem soar unas umas com as outras. Este grau de unidimensionalidade e versatilidade não é muito comum.  A voz é aquele ponto que não me conseguiu convencer por complete mas as tapeçarias instrumentais conseguem compensar essa lacuna.

7/10
Fernando Ferreira

Neofelis Nebulosa – “EP 1“

2021 – Edição de autor

Conta que esta banda nasceu da necessidade de Philippe, frontman e guitarra ritmo (e principal compositor) de se agarrar a algo após ter entrado em depressão. Quantos de nós não nos identificamos com esta situação e quantas vezes a música foi o nosso amigo especial que nos acompanhou sempre até ao fim? Algo que faz todo o sentido. O que já não faz sentido é a forma como são descritos: pós-grunge, embora perceba o que estão a querer dizer. É um rock atípico, melancólico e pouco limado com algum potencial mas que se sente que o mesmo ainda não está aqui completamente explorado. Ou da maneira mais eficaz. Alguns momentos interessantes, como o solo da “No One’s Gonna Save You” mas falta algo que dê uma direcção mais definida ao seu som.

5/10
Fernando Ferreira

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