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WOM Reviews – Jegong / Sarram / Deebbbb / Kilter / Realize / Molassess / Natural Spirit / Fluppe

WOM Reviews – Jegong / Sarram / Deebbbb / Kilter / Realize / Molassess / Natural Spirit / Fluppe

Jegong – “I”

2020 – Pelagic Records

Podemos dizer sem receio nenhum de estarmos a ser injustos de que a estreia do duo Jegong não é para todos. No entanto, o facto de vir com o selo de qualidade da Pelagic Records, fará com que muitos se interessem por ele. E ainda bem. Apesar do termo pós-rock vir mencionado no comunicado de imprensa (e não ser desproporcionado o seu uso), é o ambient que domina a nossa atenção. Dominar é o termo correcto já que durante os setenta e seis minutos que dura, não pensamos em mais nada. Claro que, não deveria ser importante referir mas, é necessário ter amor a este estilo de música. É necessário sentir necessidade de permitir que a música puxe algo mais dentro de si, uma espécie de proto-meditação e transe que nem sempre há paciência ou gosto por parte dos amantes da música. Uma experiência transcendental e mais poderosa do que se poderá pensar à partida. Uma experiência que será diferente a cada audição, e aí reside apenas parte da sua riqueza.

9/10
Fernando Ferreira

Sarram – “Silenzio”

2020 – Edição De Autor

Valerio Marras está de volta e traz-nos um álbum que ilustra as suas vivências neste período de reclusão forçada. Se em “Bolu, In C.”, o anterior trabalho, tínhamos uma única peça de quase quarenta minutos, onde parecia que a música fluía sem controlo, aqui temos oito faixas, cada uma ligadas a uma pessoa (testemunha, como é referido no comunicado de imprensa) e com a música a soar paradoxalmente de uma forma caoticamente controlada, onde o spoken word de cada testemunha é assente sobre uma base de drone/ambient que causa um desconforto latente e crescente. Este é um trabalho mais difícil de absorver mas que é uma boa surpresa principalmente para quem gosta da faceta mais ambient e experimental. Estados de espírito diferentes, com personalidades igualmente diferentes a conjugaram-se de uma forma complementar. O lado positivo do Covid talvez seja este, a forma como a criatividade é aguçada.

8/10
Fernando Ferreira

Deebbbb – “Episode 2”

2020 – [Addicted Label]

Não é uma ciência exacta mas quando se tem que contar os “b”s do nome de uma banda para ter a certeza de que o estamos a escrever bem, então é quase certo de que estamos perante uma maluquice descomunal. E assim é Temos uma frota de músicos onde se incluem três bateristas, três baixistas, dois teclistas, um guitarrista e um saxofonista. Trata-se de uma junção de três bandas (Speedball Trio, os Detieti e I Will Kil Chita – IWKC para os amigos) que resulta em quatro temas, todos a rondar os vinte minutos. Música instrumental, onde o ambiente é de jam, pura jam, a puxar ao jazz mas com uma vertente bastante experimental e com uma capacidade para fazer alucinar – no bom sentido. Que grande trip, recomendada a todos os que gostam que a música os faça sentir coisas. A ir a sítios. Para ouvir de seguida, já que as faixas praticamente convidam a isso.

8.5/10
Fernando Ferreira

Kilter – “Axiom”

2020 – Alter-Nativ

Som da jana. É o que apetece dizer. Não é nada de extraordinário. Bateria cheia de swing, baixo irrequieto e saxofone num álbum maioritariamente instrumental. É esquisito mas não esquisito de uma experimentação de um Joh Zorn ou coisa que o valha. É a jana com groove e que demora a entranhar mas que inevitavelmente o faz. Sinceramente não encontro aqui a ligação com o metal, a não ser pelo espírito maluco do “vamos fazer isto porque sim e porque soa bem”. E realmente soa sendo que terá uma capacidade de induzir ao estado ébrio após umas repetições. Depois dessas então é que escorrega mesmo bem.

8/10
Fernando Ferreira

Realize – “Machine Violence”

2020 – Relapse Records

Este foi um álbum que me fez recuar uns aninhos. Os Realize surgem-nos referenciados como catalisadores de nomes como Godflesh, Nailbom e Meathook Seed e é algo que faz todo o sentido. Peso omnipresente ao longo de todo o álbum, sem um espacinho que seja para respirar. O industrial (ou pelo menos o tipo de industrial que lembra as bandas atrás mencionadas) surge ao lado de um atmosfera sludge que faz com que o ar se torne mais denso por aqui. Poderá não ser tão maquinal quanto se espera de algo assim, mas é o ser orgânico que faz com que seja mais violento.

8/10
Fernando Ferreira

Molassess – “Through The Hollow”

2020 – Season Of Mist

A estranheza da enigmática capa dos Molassess equivale à estranheza do seu som. Onde tudo parece ser normal mas essa aparência é tão frágil que basta Farida Lemouchi abrir a boca para se estraçalhar rapidamente. Psicadélico, experimental, tudo tentações para o lado que gosta de catalogar e ir à sua vida. Há tanto mais aqui a acontecer que isso até seria um crime. Escusado dizer que não é um trabalho que chegue e conquiste todos. Será capaz de gerar amores, ódios mas também “mehs” de alguém que fica agarrado a uma apatia que não equivale ao que se pode ouvir ao longo deste álbum. Aparentemente indefinível, este é um álbum que pede para ser compreendido. Para isso vamos ter que lhe dedicar ainda mais atenção.

7.5/10 
Fernando Ferreira

Natural Spirit – “Під Серпом Часу / Under Sickle Of Time”

2020 – Epidemie Records

Falando em folk eslavo, os Natural Spirit são uma banda ucraniana focada no folk e formada no último ano do século passado. Desde então, lançaram apenas quatro álbuns, tendo o Під Серпом Часу (Debaixo da Foice do Tempo) sido lançado em Março deste ano. Este álbum, tal como suspeito ser o caso dos álbuns passados, remete ao estilo de folk naturalista e pagão, não ao folk “festivaleiro”. Em geral, o álbum desenvolve-se dentro de uma sonoridade bastante fixa e com pouca variação em termos de guitarra e do vocal (feminino limpo e masculino rouco), mais especificamente. Contudo, há uma mudança no vocal a meio do álbum…digamos que nem sempre uma mudança é boa, já que o vocal se transforma quase num rap falado extremamente rápido. Posteriormente… não há muito mais a comentar, além de uma ou outra injeção de tribalismo sonoro em algumas faixas. Este foi um daqueles álbuns que pouco me inspirou e que fez-me relembrar de outros trabalhos que já tinha ouvido no passado, eles também por parte de bandas ucranianas do que chamo de folk naturalista e as quais preferi muito mais (talvez por terem sido dos primeiros que ouvi, talvez por terem tido elementos mais apelativos). Com este trabalho, não senti o “espírito” da música pagã que tanto importa neste sub-subgénero e isso para mim é algo particularmente negativo principalmente quando verificadas certas linhas já típicas no género. Para quem nunca ouviu fusões de metal com elementos tribais, talvez este trabalho seja uma boa porta de entrada para esse mundo; para aqueles que já se encontram nesse mundo há mais tempo (tanto no folk naturalista como no folk como no tribal), este trabalho pode não ser o melhor para continuar o caminho, já que o som parece pouco diferenciado e um pouco de “mais do mesmo”.

6/10
Matias Melim

Fluppe – “Billstedt”

2020 – Chateau Lala / La Pochette 

Indie cantado em alemão. Hoje em dia chega-nos tudo à porta e, não, não me estou a queixar. Não desta vez, pelo menos, já que estes quatro temas ouvem-se mesmo muito bem, com pitadas aqui e ali de pós-punk (mas não demasiado para não se tornar noutra coisa). Não é memorável mas ouve-se bem. Por vezes só precisams é de coisas assim.

6/10
Fernando Ferreira

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