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WOM Reviews – Kultika / Splendidula / Black Pyramid / King Bong / Burden Man / OTHRS / Amon Acid / Crawl Below / Dying Sun

WOM Reviews – Kultika / Splendidula / Black Pyramid / King Bong / Burden Man / OTHRS / Amon Acid / Crawl Below / Dying Sun

Kultika – “Capricorn Wolves”

2021 – Loud Rage Music

Os romenos Kultika regressam ao álbuns oito anos depois e regressam com um trabalho que faz com que se queira perceber muito bem quem são – isto para quem, como eu, não os conhecia ou pelo menos já os tinha armazenado num arquivo profundo da sua memória. Este “Capricorn Wolves” tem tudo aquilo que gosto no pós-metal. A forma se cria uma atmosfera, uma ambiência quase mística e depois se dá em cima com o peso bruto mas (“mas” muito importante) não se perde de vista o facto a importância de escrever temas memoráveis. E o melhor deste conjunto de temas é como conseguem contornar os lugares comuns do estilo embora, simultaneamente, os conseguem abraçar. Um início de ano bem entusiasmante, um álbum que vai surgir definitivamente no final como um dos memoráveis.

9/10
Fernando Ferreira

Splendidula – “Somnus”

2021 – Argonauta Records

Já lá vai o tempo em que uma voz feminina era capaz de nos fazer voltar a cabeça em espanto ou admiração. Ou ambas. Não que não seja valorizado hoje em dia, mas apenas já não é algo novo. E ainda bem, já era altura de haver normalização nesse aspect (faltam os outros todos). Isto tudo para dizer que  “Somnus” começou por me chamar a atenção precisamente pela abordagem da voz de Kristien Cools que me relembrou Anneke van Giersbergen.  Este é o terceiro álbum da banda belga mas para mim foi a minha introdução – no meio da enchurrada de lançamentos que recebo, “Post Mortem” em 2018 infelizmente pasou-me ao lado. Fantástica introdução diga-se de passage. Cools não só tem esse timbre melódico como também conta com o apoio nos guturais de Pieter Houben, isto sem ser algo que aponte na direcção da fórmula do Gothic Metal, já algo esgotada, da dualidade de vozes. O objectivo não é esse e o foco está bem longe das melodias doces. Aqui é a melancolia abrasiva que é mais pujante e eficaz. Algo entre o doom e o sludge, mas com muito mais do que apenas isso. Seja o que for, é recomendado o consume

9/10
Fernando Ferreira

Black Pyramid – “Black Pyramid”

2009 / 2021 – Labyrinth of Thoughts Records

A reedição do primeiro álbum dos norte-americanos Black Pyramid deverá ser coisa para deixar os fãs do Stoner/Doom em bicos de pés. Sem espinhas, clássico, daqueles que se sente logo que se tem algo de especial desde o primeiro momento. Não se trata só do groove arrastado nos riffs, embora os riffs sejam o principal ponto de atracção. É tudo junto, é a voz de Andy Beresky, é a forma como apesar de não sair taxativamente do estilo a que se propõe, consegue ser dinâmico. Uma paradoxo que faz todo o sentido em temas como “No Life King” ou “Twilight Grave”, o equilíbrio entre os dois géneros conseguido de forma simples. O que faz com que todos os apreciadores de vinil precisem de adquirir urgentemente este trabalho, já que esta será uma edição limitada.

9/10
Fernando Ferreira

King Bong – “Sand ≈ Return”

2017 / 2021 – Mandrone Records

Apesar do nome excelente, o mesmo não indica aquilo que temos aqui. Podemos pensar (e justificadamente) de que se trata de uma janadice sonora onde a mente vai divagar pela maionese mas não desta forma. Música instrumental em quatro temas que mostram mais razões para eu gostar do psicadélico e na forma como o mesmo se insurge no rock de hoje em dia. Rock na vertente stoner sem o ser verdadeiramente. A música deve ser transcendente, deve ser capaz de nos causar sensações e de ter um impacto e a mesma tem mesmo este forte impacto. Pelo que esta reedição em vinil, numa edição extremamente limitada, de cem unidades, é mesmo muito apetecível.

9/10
Fernando Ferreira

Burden Man / OTHRS – “Grievance”

2021 – Brilliant Emperor

Split que apresenta duas bandas que não só têm em comum o facto de serem ambas australianas, como também têm o dom para criar atmosferas e ambientes únicos. De um lado os Burden Man, que agora se podem ser referidas como “os”, já que antes se tratava de uma one-man band. Estes dois temas são os primeiros a resultarem dessa nova fase e pelo que se pode ouvir, o resultado é fantástico. Black metal sujo a puxar ao sludge com uma componente melancólica típica do doom metal ou até mesmo pós-metal. Seja o que for, resulta e resulta muito bem, em mais de quinze minutos de música. A abordagem dos OTHRS é mais atmosférica, mas também tem pontos em comum com o doom e com o pós-metal. Certos momentos até fazem lembrar Katatonia do “Brave Murder Day”. Duas abordagens e identidades distintas mas que se complementam muito bem. Ambas têm os seus méritos e torna-se difícil escolher um lado, mas também não o  temos que o fazer não é verdade?

8.5/10
Fernando Ferreira

Amon Acid – “Paradigm Shift”

2021 – Paradigm Shift / Regain Records

O nome revela logo o que é que este colectivo britânico vem. Uma espécie de doom arraçado de stoner psicadélico (ou vice-versa, faz igualmente sentido) que nos bate na tola como se viesse envolto daquela substância mais ou menos legal que faz rir. É um duo onde eleva a simplicidade e o groove psicadélico a novos patamares. É certo que a produção podre poderá ser um problema para quem seja mais esquisito mas garanto que faz parte do charme. E até ajuda à sua eficácia. As imperfeições são muitas das vezes aquilo que nos faz dar mais valor ao todo.

8.5/10 
Fernando Ferreira

Crawl Below – “9 Mile Square”

2021 – Edição de Autor

Interessante e impressionante álbum. Consta que Crawl Below é uma one-man band que assume (ou já assumiu) diversas e distintas personalidades musicais e que esta agora era uma incursão pelo pós-metal. Como já disse de várias formas, por vezes as coisas que encaixam nas prateleiras de forma perfeita nem sempre são as que mais memoráveis se tornam. Foi com este estado de espírito que assumi a review de “9 Mile Square”, um álbum conceptual sobre a história do lado oriental de Connecticut. Poderia ser até da Ferraguda, musicalmente este é um trabalho que faz uso das ambiências e do peso e que mesmo apesar de alguma falta de dinâmica – sendo conceptual perdoa-se o facto do ambiente ser comum e impossibilitar o destaque de uma faixa entre as outras todas – consegue conquistar-nos sem dificuldade. O “pós” assume-se precisamente nestes dois pontos e esta poderá ser a pérola escondida do género em 2021.

8.5/10
Fernando Ferreira

Dying Sun – “Doomsday Cometh”

2020 – Edição de Autor

E depois surgem álbuns de estreia assim, sem mais nem ontem, sem aviso prévio, simplesmente excelntes. Calma, não é a perfeição na terra mas isso também nunca foi requisito para que se tivesse boa música. Aliás, por vezes a ausência de perfeição até é um requisito – embora isso dependa sempre da definição de cada um. Os Dying Sun têm vários atributos a seu favor, o principal é a voz, tão perfeita para estar numa proposta de doom metal, de heavy assim como de alternativo. A ter que enunciar um defeito apenas para este trabalho é o de que temos muitas ideias mas as mesmas parece que não são exploradas ao seu limite. Sei que muitas vezes me queixo de haver muito por onde cortar mas aqui é precisamente o contrário. Todos os temas são tão bons que não nos importaríamos de ouvir muito mais deles. Seja como for e no espectro do heavy/doom, este foi uma excelente estreia. É favor tomar conta a este nome, tem tudo para dar muito mais no futuro.

8/10
Fernando Ferreira

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