WOM Reviews – Les Chants de Nihil / Medieval Demon / Cerulean Dawn / Tarbathian Fortress / Stiriah / Obscurae / Lilyum / Heia
WOM Reviews – Les Chants de Nihil / Medieval Demon / Cerulean Dawn / Tarbathian Fortress / Stiriah / Obscurae / Lilyum / Heia
Les Chants de Nihil – “Le Tyran Et L’Esthète”
2021 – Les Acteurs De L’Ombre Productions
Há sempre qualquer coisa no black metal francês de profundamente eficaz. Isto se calhar é demasiado geral para que possa ser levado a sério, mas há um elemeno único, nos últimos anos, no black metal francês que consegue fazer a diferença. Os Les Chants De Nihil têm esse certo je ne sai quois mas não se entregam a ele por completo. Ou por outras palavras, têm os pés muito assentes naquilo que conhecemos ser o black metal francês mas depois também lhe trazem aquela fúria nórdica e gelada vinda da Escandinávia. O resultado é um álbum que soa tão fresco que empolga do primeiro ao último momento, assumindo-se mesmo como um dos álbuns do género em 2021. A concorrência é sempre grande mas também a qualidade que se tem aqui.
9/10
Fernando Ferreira
Medieval Demon – “Arcadian Witchcraft”
2021 – Hells Headbangers
Há afirmações, como “altamente ansiado/aguardado álbum” que nos soam sempre falsas. E quanto mais falsas soam, também é proporcional à arrogância de acharmos que conhecemos tudo o que é importante conhecer. Ainda bem que depois surgem bandas como os Medieval Demons que nos obrigam a colocar os pés no chão. Isto porque quando somos confrontados com o seu som, somos automaticamente reduzidos e colocados no nosso devido lugar. Terceiro álbum, o segundo desde que voltaram em 2013, que junta aquele black metal melódico tão tipicamente grego (ou seja, peculiar) e lhe junta um sentimento metálico expresso em guitarras e em leads e solos cativantes. Muita coisa que se ouve aqui poderia muito bem estas num álbum que tenha sido lançado mais de vinte anos atrás, mas há uma aura – e aquelas guitarras – que os destacam de forma única. Intrigante terceiro álbum que apresenta da melhor forma a banda a pessoas que não a conheciam, como eu. Quem já os conheciam, terei de admitir que… sim, provavelmente tinham boas razões para ter ansiar por “Arcadian Witchcraft”. Não serão defraudadas.
9/10
Fernando Ferreira
Cerulean Dawn – “The Octant Moons”
2020 – Viridian Flame Records
Ao início, confesso que não fiquei muito entusiasmado com este EP. Por vezes é assim, nem sempre estamos receptivos, principalmente quando partimos com algumas expectativas. Os Cerulean Dawn tocam um black metal atmosférico, rústico e bem orgânico e logo por aí começam a marcar pontos. Só temos dois temas longos que totalizam mais de vinte minutos e apesar de poder parecer pouco para que se tenha uma ideia ou conclusão mais final, é suficiente para lhe tomarmos o pulso e percebermos como conseguem ir para além do que é a estética. Do black metal, do black metal atmosférico, de qualquer género ou pressuposto. Não é apenas ter músicas grandes apenas porque sim, ou usar melodias melancólicas porque sim, faz tudo sentido neste conceito e este é um excelente iniciar de discografia.
9/10
Fernando Ferreira
V/A – “Tarbathian Fortress”
2020 – Warhorn Records
Metal da Estónia. E do bom. São nove bandas diferentes e bastante díspares entre si, que vão do black’n’roll ao death metal cavernoso a algo até mais alternativo e melódico – ainda que num contexto extremo. É uma excelente forma de dar a conhecer novas bandas principalmente sítios ainda exóticos onde há boas bandas – pelo menos nove. É este o espírito que é importante reter no underground e que faz falta (mais que nunca). Se não dá de uma maneira há de outra e há sempre boa música a surgir de todo o lado. Felizmente, mais que nunca. Recomendo, mesmo para aqueles que acham que estas propostas são muito tradicionais e até possam estar um pouco datadas. Foquem-se mais no feeling do que propriamente em modas. Ajuda.
8.5/10
Fernando Ferreira
Stiriah – “Into The Depths”
2020 – Edição de Autor
O testemunho para a importância de algo é o facto do seu nome ecoar bastante tempo para lá da sua vida. Neste caso, a referência e recomendação de “Into The Dephts” para fãs da fase mais primordial dos Emperor – uma recomendação que, note-se, faz todo o sentido. Black metal melódico, sim, mas também impiedoso no seu poder metálico. Temas longos, voz que vai alternando entre o estilo mais gritado e o declamado e uma capacidade para fazer barulho impressionante. Os níveis da mistura estão altíssimos mas não se perde (totalmente) o conceito de dinâmica neste aspecto, já que as melodias em tremolo picking são o cento das atenções e cumprem bem a sua função. Para quem gosta do estilo e gosta deste tipo d e ambientes, é sem dúvida uma aposta ganha.
8.5/10
Fernando Ferreira
Obscurae – “To Walk The Path Of Sorrows”
2020/2021 – Sentient Ruin Laboratories
Lançamento em cassete por parte da Sentient Ruin Laboratories do segundo álbum de originais do duo norte-americano Obscurae. Black metal atmosférico, old school. Tenho noção de que é um género que é um nicho dentro de um nicho mas é mesmo o meu tipo de coisa. Nas minhas tentativas de fazer algo, era sempre para este género que eu descaia por isso é muito fácil para mim gostar e apreciar álbuns como “To Walk The Path Of Sorrows”. O principal a assinalar, e normalmente até é o mais complicado a fazer, é a criação do ambiente único. Isso até se sobrepõe à técnica ou até percepção de que raio está a ser tocado. Tudo fica reduzido a uma amálgama sónica onde uma melodia única se sobressai enquanto o resto é um grande rugido que serve como motor e andamento. Não é para todos, definitivamente (e eu que sou esquisito com as produções, sei que esta poderá levantar problemas perante outros que sejam mais exigentes) mas todos os seus defeitos não são bem defeitos, são parte das suas forças, da sua identidade. Com resultados para apresentar.
8/10
Fernando Ferreira
Lilyum – “Circle Of Ashes”
2021 – Vacula Productions
Olhando para a discografia dos Lilyum, ninguém supõe nem a mudança estilística que a banda teve nem que terminou funções em 2018 para agora voltar com este trabalho. “Circle Of Ashes” é black metal cru como se estivessemos outra vez no underground em 1996. Som podre, minimalista, bateria discreta, baixo audível (surpresa neste ponto) e os riffs de guitarra (e a voz) a comandarem os destinos. Poderá parecer algo desinteressante e admito que demora até que isto faça efeito – e quando faz, não é avassalador. Mas tenho que admitir que tem os seus momentos em que consegue cativar pela positiva. Não acredito que vá mudar a vida de alguém, mas para o comum fã de black metal, há luz nesta escuridão.
6/10
Fernando Ferreira
Heia – “Magnum Opus”
2021 – Ihells Produções
É possível ser-se refinado e ainda assim bastante cru? Bem, se calhar é melhor explicar melhor para que não hajam mal-entendidos. Ora temos o terceiro álbum dos brasileiros Heia, que tem uma produção forte e até moderna mas que a composição em si é própria daquilo que encontraríamos décadas atrás. A sonoridade é, no geral, compassada e uma boa alternativa aos lugares comuns da vaga escandinava de black metal. Tem boas dinâmicas para ir mantendo o interesse mas falta-lhe pujança para que sintamos aquele poder do metal extremo, do black metal que tanto se antecipa. Confesso que é o primeiro trabalho que ouço da banda e como tal não sei se esta é já uma identidade firmada desde o início. Ficou a curiosidade para conhecer o que está para trás e esclarecer em relação a esse ponto.
6/10
Fernando Ferreira