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WOM Reviews – Liholesie / /A\ / Phil Stiles / Auri / One Arm / Mitochondrial Sun / Bornwithhair / Foxing

WOM Reviews – Liholesie / /A / Phil Stiles / Auri / One Arm / Mitochondrial Sun / Bornwithhair / Foxing

Liholesie – “Shamanic Twilight”

2021 – Infinite Fog Productions

A viagem inicia-se com o primeiro passo. Mesmo que esse passo seja apenas metafórico, porque assim que “Shamanic Twilight” se faz ouvir, temos a certeza que a viagem já se iniciou. E da melhor maneira. Hipnótico e capaz de nos colocar em transe. Enquadra-se no espectro do folk nórdico mas o uso da percussão é aquilo que o distingue das demais propostas. Uma percussão rica que que nos deixa à mercê da mística que parece ter ficado enterrada nos confins do tempo (parece apenas porque na realidade de uma forma ou outra, é algo que sobrevive, mais que não seja por iniciativas como esta). Um feitiço dividido em nove cânticos que nos fazer apreciar o que antes seria banal de uma forma completamente diferente. Tal como a própria capa que nos parece ujm homem de fogo a erguer-se da fogueira.

9/10
Fernando Ferreira

/A – “/A”

2021 – Hummus

/A é mais uma entidade que surgiu de forma espontânea Franz Treichler (de seu nome verdadeiro Francisco José Conceição Leitão Treichler), dos Young Gods, Emilie Zoé e Nicolas Pittet juntaram-se para um concerto que entretanto foi cancelado, mas isso não os impediu de continuarem a trabalhar em conjunto. Música que se sente como improvisada, orgânica, sem formatações e por isso, logo à partida, especial. Não se trata de valorizar a música pelos nomes mas sim pela forma como a mesma interage connosco. A música moderna parece um deserto de algo original – e contra o estilo que tanto gosto falo – pelo que é sempre refrescante quando somos apresentados por algo que não encaixa em prateleiras nem em rótulos e é desafiante sem nos fazer esquecer que mais que fazer pensar, a música deve fazer sentir.

9/10
Fernando Ferreira

Phil Stiles – “The Anchorhold”

2021 – Trepanation Recordings

O frontman dos Final Coil regressa agora com o seu primeiro álbum a solo depois de ter lançado no ano passado o seu EP de estreia. Apesar de gostar bastante dos Final Coil, devo confessar que o EP ficou a saber-me a pouco. A abordagem mais electrónica e industrial resultaram em alguns momentos de trip hop e chillout memoráveis. Perante essa experiência, “The Anchorhold” é uma excelente surpresa. Consegue aumentar em tudo aquilo que foi sugerido em “The Anchorite”. A fórmula é praticamente a mesma mas aqui está explorada de uma forma superior. Minimalista por um lado, pesado por outro, mas o elemento comum é o facto hipnótico ao qual nos rendemos logo sem dar luta. O progressivo dá aqui o ar de sua graça mas são as sensações atrás descritas que triunfam. Isso e um sentido profundo de atmosfera. Bom surpresa, recomenda.

8.5/10
Fernando Ferreira

Auri – “II Those We Don’t Speak Of”

2021 – Nuclear Blast

Já lá vai tanto tempo que provavelmente já nem se lembram de como este Auri foi uma boa lufada de ar fresco em relação ao que Tuomas Holopainen nos tem apresentado nos seus Nightwish. E nesse aspecto, a estreia de 2011 é capaz de ter tido um impacto mais duradouro que este, no entanto, isto não lhe retira o mérito. Para quem só chegou aqui agora, não há por aqui orquestrações megalómanas ou temas (aparentemente) complexos e épicos. É aquela mistura simples que por vezes só acontece na nossa mente quando estamos aborrecidos e começamos a pensar “como seria se a Enya fizesse uma perninha nos Portishead”? Não é o que tenhamos aqui precisamente algo parecido e se fosse a meter estes dois valores na balança, a mesma estaria mais próxima do folk etéreo de Enya. Não será o disco do ano mas continua a manter a capacidade de lufada de ar fresco e todos os que gostam da fusão ambient/alternativo e folk, não vai desiludir. Até podem preferir ao que os Nightwish andam a fazer nos últimos anos.

8/10
Fernando Ferreira

One Arm – “Mysore Part”

2021 – Atypeek Music

Esta é uma banda já bastante antiga, com o início a ser apontada na primeira metade da década de noventa e com a sua sonoridade a ser apontada como noise rock. Faz algum sentido, principalmente se estivermos a pensar no lado mais trippy do noise rock. O psicadelismo é mesmo a faceta que se saliente e sinceramente é aquela que me apaixonou logo. Cria um ambiente de estarmos nos anos sessenta e nitidamente não é algo que se encaixe naquilo que se considera hoje como pop embora transmita também bastante esse feeling. Uma mistura entre a música pop e psicadélica da década de sessenta e pós-punk da década de oitenta. Seja o que for, resulta embora na minha opinião, a necessidade de encaixar as músicas em menos de quatro ou cinco minutos (quase em todas as faixas pelo menos) acaba por cortar o efeito. Por outro lado, há por aqui matéria para ao vivo termos longas viagens psicadélicas. Seja como for, foi uma excelente surpresa.

8/10
Fernando Ferreira

Mitochondrial Sun – “Bodies And Gold”

2021 – Edição de Autor

Depois do álbum no ano passado, aqui está mais música por parte deste projecto de Niklas Sundin que continua a ser o único responsável por (quase) tudo o que se pode ouvir e ver aqui. Temos a abordagem electrónica que já se esperava, com um forte sabor cinematográfico, quase como uma banda sonora minimalista, mas que resulta muito bem mesmo na ausência de imagens. Apesar do nome Dark Tranquillity continuar a ser um chamariz, este EP e este projecto dispensa esses artíficios já que a qualidade que traz não só é óbvia como também distante daquilo que a banda sueca fez e continua a fazer no presente.

8/10 
Fernando Ferreira

Bornwithhair – “When The Witches Fall”

2021 – Trepanation Recordings

Primeira impressão? Horrível. Eu tenho sempre cuidado à forma como coloco as coisas, principalmente as coisas que não gosto, mas tenho que dizer que a primeira impressão deste álbum, aliás, desta banda, foi bastante negativa. Normalmente quando assim é, até nem insisto muito, mas são necessárias mais algumas audições para confirmar se é realmente aquela primeira impressão a duradoura. A capa também ajudou, tenho de confessar. Um álbum com uma capa fantástica assim não pode ser tão mau assim, pensei eu. E tenho que admitir que há espaço para a mudança. A descrição da música do duo como black metal avant garde e death rock faz sentido embora não concorde com ela. Este é uma espécie de indie pop rock arraçado de shoegaze minimalista com uma camada dos valores de produção de uma banda de black metal lo-fi. Algo que resulta melhor do que a primeira audição poderá prever. Há por aqui muita maluquice, muito experimentalismo que resulta em conseguir estranhar o ouvinte. Não sei se chega a entranhar mas definitivamente entranha. É um álbum para quem procura encontrar dentro de si coisas que nem suspeitava ter, um álbum inconformado que é desagradável por ser isso mesmo. O que significa que até pode não ser algo que se pegue nele com frequência mas que quando se fizer, será para ter uma experiência única.

7/10
Fernando Ferreira

Foxing – “Draw Down The Moon”

2021 – Hopeless

Sensação mais estranha de todas. Estar a ouvir um álbum em 2021 e o som parecer que está a ser distorcido como quando as cassetes estavam a dar de si e davam a sensação de que as estávamos a ouvir debaixo de água. Um efeito que é apenas exclusivo à instrumentação, com a voz a soar perfeitamente bem. Foi o suficiente para me deixar intrigado. “737” é o tema que provoca esta estranheza e também é aquele que vai do oito ao oitenta. Começa com um feeling indie pop e passa a algo extremo e gritado num climax marado que depois volta ao início mas como se a cassete estivesse mesmo a dar as últimas. Na generalidade a sonoridade da banda tem uma forte base pop mas que nos surge com abrasividade suficiente para nos deixe cativar. Isto porque as melodias são mesmo boas. Para quem tem os preconceitos, poderá ser um bom teste. Poderá não ser suficiente para quebrá-los mas acredito que vos possa surpreender, se gostarem deste tipo de nuances. A qualidade está cá.

7/10
Fernando Ferreira

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