Review

WOM Reviews – Mantar / IRAE / Avantasia / King’s X

Mantar – “Pain Is Forever And This Is The End”

2022 – Metal Blade

Quem ouve Mantar pela primeira vez está longe de imaginar que a corrosiva e aditiva “pedrada no charco” com que acaba de ser atingindo resulta da genialidade de apenas dois indivíduos, Erinc Sakarya e Hanno Klänhard. ‘Pain Is Forever And This Is The End’ é o quarto álbum de originais do cáustico e talentoso dueto Germânico, sucedendo a ‘The Modern Art Of Setting Ablaze’ a meu ver o ponto mais alto da curta carreira da banda até ao momento. Os Mantar operam em ‘Pain Is Forever And This Is The End’ uma espécie de regressão às sonoridades que marcaram o início da sua carreira onde a “medula” de Sludge Metal rapidamente se vê quase sufocada por uma complexa e praticamente inexplicável combinação de influências que vão desde o Punk e o Grunge até ao Black Metal. Originalidade, capacidade técnica e delírio imaginativo tem sido os elementos que têm marcado todos os álbuns de Mantar e ‘Pain Is Forever And This Is The End’ também não é excepção, temas como ‘Horder’, ‘Piss Ritual’, ‘Walking Corpse’ e o single ‘Hang ‘Em Low (So The Rats Can Get ‘Em)’ são excelentes amostras da categórica e irrefutável qualidade desta banda ímpar.

8.5/10
Jorge Pereira


IRAE – “Assim Na Terra Como No Inferno”

2022 – Signal Rex

Sigo o percurso musical do Vulturius há muitos anos; ainda que não consiga precisar há quantos, sei que são imensos. Sempre o tive como uma das figuras chave do panorama Black Metal português, mas nunca intocável. No últimos anos tenho-o visto operar alterações ao som que inicialmente o caracterizava: visceral e enraizado numa veia mais primitiva e “clássica” do Black Metal. Ainda assim, nunca o vi como um artista que fechasse as portas à experimentação. Inicialmente tinha escrito inovação, mas honestamente não é desta forma que o vejo, não como um inovador (o que não deve ser lido como algo perjurativo, obviamente), mais como um artista que se mantém fiel às bases que tomou como suas, e da sua arte, às quais adiciona elementos que aparentemente lhe são alheios. Quando soube que este trabalho ia sair, decidi manter-me afastado dos primeiros avanços. Sou da opinião que IRAE deve ser experienciado como um todo: cada música descreve / relata um momento de um percurso maior; não se limita a ser uma série de malhas lançadas ao vento. Assim sendo, quando “V Caminhv Primitiv” começa de imediato pensei em Noruega, anos 90 (might be mistaken). O som da chuva e a guitarra acústica são uma soberba introdução para mais um trabalho de IRAE. Que nos espera? De mencionar que todas as músicas são cantadas na sua língua materna. Felizmente os músicos perceberam, já há muito, que BM português soa imensamente melhor quando cantado em português. Questões linguísticas à parte, foquemos naquilo que realmente interessa: a Música. “Assim na Terra como no Infeno” é já o 6.º álbum de IRAE e segue a senda dos trabalhos mais recentes: experimentação, se bem que neste trabalho o nível seja um pouco mais sóbrio e controlado. Inicialmente, estranhei; demasiado atmosférico? Bem, atmosférico, atmosférico, não. Diferente… “Lurking in the Depths” trouxe elementos bem reminiscentes dos anos 90, e “Dangerouz…” a insanidade total. Tanto um como o outro são, na minha humilde opinião, brilhantes trabalhos de Black Metal, primitivo – não no sentido produção batata frita, por favor – visceral, caótico e agressivo. O que temos neste novo trabalho espalhou-se – ou ao contrário – ao Split com Deathwalker (Nihil Invocation, neste caso), em que temos um Vulturius mais… não diria calmo, que pode ser mal interpretado, mas quiçá mais melódico e “limpo”. Diria que há uma veia de Leste neste álbum, talvez induzido pela melodia. Parece-me ser o álbum mais adulto e bem estruturado de IRAE. Não que os anteriores não o sejam, atenção, mas este dá-me a ideia de um imenso crescimento em todos os sentidos criativos. Arrisco dizer que vai tardar um pouco a absorver, mas unicamente por esta quase complexidade, que ainda que não sendo novidade, é algo que exige tempo. Atenção ao pequeno solo de guitarra em “Símbolos do Império”… há ali uns riffs de guitarra que me rementem para Satyricon fase “Rebel Extravaganza”… freaky. Anyway, este trabalho vem provar que Vulturius tem nada a provar, e mostra disso são os passos que ele tem dados desde 2020. De mencionar: o riff principal da “O Enforcamento” é belíssimo! A carga melódica, ainda que áspera e melancólica, é soberba. Venha mais uma pérola na já longa discografia do músico da Brandoa.

8/10
Daniel Pinheiro


Avantasia – “A Paranormal Evening With The Moonflower Society”

2022 – Nuclear Blast

Interessante ver como um projecto como este Avantasia conseguiu assumir um papel tão grande na carreira do seu principal impulsionador. Tobias Sammet, dos Edguy, tinha o sonho e de fazer uma Metal Opera, algo que fez no início do milénio com sucesso (embora o primeiro capítulo tenha tido um impacto que o segundo). Seria algo único, um projecto finito até que voltou “The Scarecrow” (álbum que também marcou a primeira apresentação ao vivo do projecto que inicialmente seria para ser única mas foi apenas a primeira de incontáveis outras) e a partir daí tornou-se praticamente a sua principal actividade com os Edguy a ficarem progressivamente para trás. Chegamos a 2022 com mais um álbum que não surpreende em nada. E esse poderá ser o calcanhar de Aquiles de Avantasia. Por muito interessante que seja a história, e normalmente é, e os participantes, que são sempre, ficamos com a sensação de que a novidade já está esgotada há algum tempo. Não que a novidade seja fundamental, as nós viemos do tempo em que álbuns conceptuais eram a excepção à regra e tal como estes projectos. No entanto a partir do momento em que temos sempre as mesmas vozes, sempre a mesma estética, fica complicado encontrar motivos para entusiasmo. Não desfazendo a qualidade de “The Moonflower Society”, que é um excelente álbum de hard’n’heavy com picos de power metal e que contém algumas músicas difíceis de sair da cabeça – malditas! O problema é que no final sente-se que é apenas mais um e não o evento que já foi no passado.

7/10
Fernando Ferreira


King’s X – “Three Sides Of One”

2022 – InsideOut Music

A carreira dos King’s X é impressionante. Não só se conseguiram afirmar como uma proposta bastante ecléctica dentro do rock pesado como também conseguir reunir o respeito e admiração ao longo de mais de trinta anos de carreira, carreira essa que parecia estar em suspenso desde 2008, altura em que lançaram o último álbum de originais “XV”. Como tal, expectativas naturalmente em cima, que acabam por não ter alternativa a não ser vir cá parar abaixo. O que parece ser, claramente, uma forma de tentar resumir as principais características da sua identidade musical ao longo dos tempos, não surte o efeito desejado, já aquilo que se obtém é uma manta de retalhos do que seria um álbum da banda, sem propriamente satisfazer a necessidade de ter um trabalho sólido do início ao fim. Isto não implica que não existam temas que naturalmente se destaquem, mas um trabalho coeso por parte de uma banda que nos habituou precisamente a isso, definitivamente não temos.

6.5/10
Fernando Fereira


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