WOM Reviews – O Gajo / Mansur / WalDStreeT / Dusky Dive / Almach / The Mobile Homes / Woundedspirit / Christopher Steve
WOM Reviews – O Gajo / Mansur / WalDStreeT / Dusky Dive / Almach / The Mobile Homes / Woundedspirit / Christopher Steve
O Gajo – “Subterrâneos”
2021 – Rastilho Records
Gosto do Gajo. Gosto do nome – mais português não poderia ser – gosto da forma como consegue inovar apresentando um som clássico da nossa cultura musical que infelizmente não é tão conhecido ou divulgado quanto seria desejável e gosto, acima de tudo, da música. Subterrâneos é o terceiro trabalho de originais (contando com os quatro EPs dedicado às quatro estações [de Caminhos de Ferro] como um álbum) é onde também O Gajo (ou João Morais) expande a sua sonoridade sem com isso a deturpe. Traz-lhe mais alma, mais profundidade, juntando um contrabaixo (por Carlos Barretto) e percussão (por José Salgueiro). Este tipo de folk (porque, sim, estamos perante folk) poderá não ser para todos, mas é nosso e essa sensação de pertença surge logo desde o primeiro momento. Se sempre encaixei O Gajo no folk, talvez aqui surjam mais elementos, um feeling mais jazzy, mas essa alma lusitana continua bem viva, através da viola campaniça e dos ambientes fantásticos que ilustra.
9/10
Fernando Ferreira
WalDStreeT – “Northeast”
2020 – Haarbn Prod.
Estou a adorar conhecer os trabalhos da editora Haarbn. A componente folk sempre foi uma das minhas favoritas não só no rock/metal mas também na música em geral. Os Northeast são mais uma das excelentes revelações que a editora tem trazido aqui para a World Of Metal. Música com base acústica mas com um enorme índice ritualista que tanto remete para o Médio Oriente, como para os índios norte-americanos. É uma verdadeira aldeia global, sem qualquer tipo de fronteiras. Ou então o sonho molhado de qualquer um que vibra com as imagens e sensações deste tipo de sonoridade. Mais que recomendado, obrigatório! Pena ser “só” um EP.
9.5/10
Fernando Ferreira
Mansur – “Karma”
2020 – Denovali
Que coisa mais fantástica. Eu bem tendo largar 2020 para trás das costas mas porquê? Com 2021 a não trazer nada de novo (pelo menos em relação ao que nos aflige a todos) e com música tão boa lançada no ano passado que insiste em surgir à minha frente, também se torna complicado. “Karma” é um espanto. Para quem gosta de world music (ou pelo menos não passa sem Dead Can Dance) e não diz que não a ambientes electrónicos misturados com coisas étnicas (a lembrar o mediterrâneo), é mesmo um trabalho obrigatório. Com um groove chill out à mistura que tem tanto de místico como de querer (e conseguir) contar uma história, é impressionante a forma como somos impulsionados e puxados para uma viagem única.
9/10
Fernando Ferreira
Dusky Dive – “Flanger Studio Session”
2021 – [addicted label]
Jana. Sei que já é um lugar comum, mas por vezes não consigo começar desta forma. Principalmente ao som do sax. Até a própria banda chama o seu som de stoned jazz e, por uma vez na vida, acho que é uma excelente e fiel representação daquilo que o som da banda. Temos o groove meio paquidérmico do stoner (algumas vezes até os Om nos chegam à mente), ambientes psicadélicos e depois o sax a fazer o resto. Claro que isto é uma explicação muito simplista do que podemos ter aqui mas é uma boa forma de começar e verão que concordarão assim que começarem a ouvir. Cuidado é que depois é difícil de se libertarem do vício.
8.5/10
Fernando Ferreira
Almach – “Battle Of Tours”
2020 – Haarbn Productions
Gosto mesmo de ser surpreendido, principalmente quando tantas coisas parece que não têm o mesmo encanto e misticismo que tinham quando se iniciou o caminho do estudo e devoção da música pesada nas suas mais variadas vertentes. Neste caso concreto, os afegãos Almach. Se há um destino mais exótico para ter black metal atmosférico, este é sem dúvida concorrente forte ao trono. A música é fortemente apoiada em teclados – a parte do black metal atmosférico deverá ser vista na mesma perspectiva que uns Summoning. Para além do seu local de origem – que de acordo com o Metal Archives ainda não pôde ser verificado, também não temos muita mais informação. E nem interessa muito porque esta música é boa independentemente do seu ponto de origem. É ingénua e inocente na forma como os teclados são usados. Aliás, como as próprias músicas são construídas, mas é essa inocência que se revela altamente eficaz. Sem dúvida uma grande surpresa, recomendada!
8/10
Fernando Ferreira
The Mobile Homes – “Trigger”
2021 – Wild Kingdom Records
Quantas vezes temos referências que não percebmos a razão de serem citadas? Bastantes. O que leva a que por vezes a que se olhe para os comunicados de imprensa apenas após ouvirmos a música, já que será sempre esta a dar as referências que precisamos para a melhor identificação. Aqui até é surpreendente ver que nomes como Depeche Mode e New Order não foram indicados à toa. Ou seja, sim, é pop, synth pop, algo que até soa deslocado daquilo que normalmente divulgamos, mas a qualidade é bastante boa. Boa ao ponto de poder ser um clássico. Não tenho ilusões ao dizer coisas destas, refiro-me apenas à sua qualidade. Nos dias de hoje, com tanta coisa a acontecer em pouco tempo, é complicado encontrar clássicos definitivos com base apenas na sua qualidade. Mas “Trigger” revela uma classe que também é evidente numa banda que já anda nestas andanças há quase quarenta anos. Para quem não for averso a música synth, está aqui uma excelente surpresa. Quem gosta de “Host” dos Paradise Lost, vai adorar isto definitivamente.
8/10
Fernando Ferreira
Woundedspirit – “U Me And The Ocean”
2021 – Edição de Autor
Segundo álbum dos britânicos Woundedspirit que têm uma sonoridade bastante abrangente. Algo que poderá desconcentrar quem quer perceber, tal como eu, o que está ouvir e procura definir musicalmente a banda. É uma busca que acaba por compensar mesmo que não se tenha uma ideia muito clara a apresentar. Temos um som indie que tanto parece ir por vezes pelos caminhos mais tradicionais do AOR como noutras até há um efeito trip hop. Num contexto de um álbum parece ser algo estranho começar um álbum rock com um tema tão místico e electrónico como “Love – Emotion – Devotion”, que embora resulte, não tem muito a ver com o quer que seja. Puxa a audição, só resta saber a resistência que vai encontrar desse lado.
7/10
Fernando Ferreira
Christopher Steve – “ Taken By The Tide”
2021 – Edição de Autor
Trabalho a solo de Christopher Steve (mais conhecido como Chris Latta dos Lavaborne) que acenta naquilo que ele chama ser doom folk, onde temos o espírito melancólico aliado a temas acústicos que até devem mais ao rock indie do que ao folk. A voz tem bastante eco, o que dá um ambiente algo místico ainda para mais adicionadas harmonias com coros. No entanto o facto de estarmas o facto de estar com o volume algo alto na mistura faz com que o potencial efeito positivo se esgote depressa. Não é um trabalho fácil de apreciar principalmente para quem for atrás do rótulo folk. Nem atrás do rótulo doom. Aconselho a ouvir mas com precaução.
5/10
Fernando Ferreira