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WOM Reviews – Ophidian I / Cognizance / Apophis / Zora / Dagtum / Cultum Interitum / Serpentrance / Genocídio

WOM Reviews – Ophidian I / Cognizance / Apophis / Zora / Dagtum / Cultum Interitum / Serpentrance / Genocídio

Ophidian I – “Desolate”

2021 – Season Of Mist

A Islândia não é um país que nos faça pensar em death metal técnico pelo que os Ophidian I poderão surgir como uma verdadeira surpresa, principalmente tendo em conta que o seu segundo álbum já foi lançado há nove anos. Posso dizer que “Desolate” deixa uma marca tal que tenho que ir averiguar como é a estreia. Mas isso já são contas para outro rosário. O que impressiona neste conjunto de canções não é o elevado grau de qualidade técnica (a disparar por todos os lados) nem a melodia surpreendente que surge (normalmente técnica e melodia não é muito comum), mas sim a qualidade dos temas, uma qualidade hipnótica que agarra ao longo do álbum. O death metal técnico é aquele que se disfarça à frente de todos. Ou seja, não esconde o que é, na verdade até o expõe descaradamente, mas apresenta antes o global de forma tão atractiva que passa despercebido em relação aos detalhes que perfazem a sua identidade. Um álbum que dá um gozo enorme ouvir vezes sem conta.

9/10
Fernando Ferreira

Cognizance – “Upheaval”

2021 – Prosthetic

O caos visual da capa, pouco atractivo, contrasta brutalmente com o som que podemos ouvir. Não que o death metal na sua base não tenha uma certa dose de caos, mas este é um caos ordeiro, belo e até melódico. Isto sem esquecer a componente técnica que, no meu ver, até está acima do que se pode ouvir da componente melódica. E ao contrário de muitas das propostas actuais, não soa a estéril nem forçado. Gosto tanto de ouvir coisas “impossíveis” de tocar como o vizinho do lado mas quando o foco está apenas nisso, mais valia estar a ouvir a tabuada. Com isto, também não quero ser ingénuo em afirmar que “Upheaval” está ao alcance do comum mortal sem conhecimento nas artes ocultas do death metal técnico. Não, é necessário conhecimento e prévia introdução para que o prazer seja total. Acreditem, é mesmo total.

9/10
Fernando Ferreira

Apophis – “Excess”

2021 – Massacre

O ritmo editorial dos Apophis é para lá de lento. Sem ter nenhuma paragem oficial e depois de três trabalhos na década de noventa, os alemães lançaram o quarto em 2005 e após este tempo todo voltam para o quinto. De 2005 a 2021 vai uma longa distância sendo que agora temos um clima bem mais favorável ao death metal. A vertente old school que a banda mantém é bastante interessante assim como este conjunto de temas que mesmo sem brilhar ou exceder qualquer tipo de expectativas realistas, consegue marcar ao ponto de se apreciar sem pudores estes mais de quarenta e cinco minutos. A cada vez que temos o pensamento de que tudo isto nos parece familiar, acabamos por ter pormenores que calam e afastam-no de vez – “Every Single Stab” tem o potencial para vos fazer sentir isto facilmente. E também é um dos temas de destaque do disco. Tem uma concorrência feroz este ano mas tem potencial para crescer o suficiente para fazer face a qualquer um deles.

8.5/10
Fernando Ferreira

Zora – “Soul Raptor”

2021 – Old Metal Rites

Ganga forte, como já seria de esperar dos italianos Zora. “Soul Raptor” chega cinco anos depois (mantendo mais ou menos intervalo entre lançamentos) e com uma garra death metal difícil de superar. É o tipo de álbum que nos faz parar para pensar a cada vez que dizemos que “o importante é a originalidade e a forma como se desafia as barreiras estabelecidas”. Isto porque depois de chegarmos a este álbum, de death metal puro e duro e sem qualquer tipo de tretas e atiramo-nos de cabeça. Sem pensar ou questionar. Não tem que ser a coisa mais nova do mundo, tem que ser bom e “Soul Raptor” é death metal impiedoso, unidimensional mas é forte o suficiente para contagiar qualquer um que goste de metal extremo. Chega bem e sobra.

8.5/10
Fernando Ferreira

Dagtum – “ Revered Decadence”

2021 – Eastbreath

É de impressionar a estreia deste trio filipino. Death metal já guarda poucos truques para nos surpreender mas mesmo assim os Dagtum conseguem-no. E não é por tocar mais rápido ou serem mais técnicos. É por estar aqui presente um ambiente bem peculiar e incómodo. Claustrofóbico mesmo que faz com seja difícil entrar no espírito. É assumidamente um álbum difícil de absorver, é feio, cru e até pouco memorável. Correcção, o álbum em si é memorável, no entanto não tem propriamente ganchos ou temas que funcionem como tal. Tirando um, “Monolith Of Grace”, precisamente o final. E este é o ponto em que o álbum me conquistou. “Reverend Decadence” é uma viagem, uma viagem de criação de um climax, que, isoladamente, olhando para cada tema, não parece fazer sentido mas que no final temos tudo isso recompensado. Mais uma vez repito, este álbum não é fácil de ouvir ou de coilher as recompensas até que esta crítica aponta, mas definitivamente que recomendo a viagem.

8/10
Fernando Ferreira

Cultum Interitum – “Veneration Of The New Dawn”

2021 – Godz Ov War Productions

Estes polacos estão inspirados. Lançaram o primeiro álbum num dos piores anos de sempre da história da música e estão de volta um ano depois quando as coisas apenas estão a melhorar um bocado. Poderá achar-se que trata-se de mau timing mas tendo em conta que estamos a falar de death/black metal cavernoso, não há muito problema. Este é um som longe de agradar às massas. Se por vezes digo que este tipo de abordagem não é amiga da popularidade, também já referi que esse factor, quando bem explorado, é capaz de gerar bons frutos. E o crescimento em relação à estreia é óbvio, principalmente pelos ambientes que são invocados com sucesso. No lado não tão bom, faltam malhas às quais fiquemos agarrados sem hipótese. O que há no conjunto do trabalho, falta nas músicas individuais, algo que as distinga e saliente em relação a todas as outras. Apesar tudo, sente-se que estão no caminho certo.

7/10 
Fernando Ferreira

Serpentrance – “Akra Tapeinosis”

2021 – Godz Ov War Productions

Quando ouço o tema cavernoso, obrigatoriamente surge-me o som em mente como aquele que os Serpentrance possuem. Uma sonoridade principalmente assente no death metal. Aqui há uma fusão entre o death, o doom e o black. Esta fusão, esta particularidade, faz com que seja um álbum bastante hermético e difícil de interiorizar.  O facto da média de duração dos temas ser de oito minutos também torna complicado a que se torne memorável. É como se fosse uma enorme pilha de entulho metálico que temos de consumir de uma só vez. E se por vezes isso resulta, noutros pode demorar a ter efeito. Mesmo após alguma insistência. Não é de impressionar no geral mas a intensidade e o ambiente claustrofóbico são dignos de nota.

6/10
Fernando Ferreira

Genocídio – “The Grave”

2021 – Nuclear War Now! Productions

Apesar do nome ser diferente, esta é basicamente uma reedição com bónus do primeiro EP (a capa é a mesma) dos brasileiros Genocídio, um nome basilar da música extrema do nosso país irmão. Sendo um dos seus primeiros lançamentos, compreende-se que tudo o que se tenha aqui é embrionário e primitivo. E até ingénuo, havendo a natural comparação com o primeiro EP e álbum do Sepultura, que tinham um som não só manhoso como também as habilidades técnicas não eram muitas. Os temas ao vivo, registados em 1988 – ano em que foi lançado originalmente o EP – também não são famosos no que à produção diz respeito, o que também era expectável. É um lançamento que vai interessar aos estudiosos e coleccionadores da música extrema.

5/10
Fernando Ferreira

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