WOM Reviews – Passengers In Panic / Gjoad / Boris With Merzbow / Patrick Richardt / Druon Antigon / Johno Leeroy / Scatterface / Im An Alien
WOM Reviews – Passengers In Panic / Gjoad / Boris With Merzbow / Patrick Richardt / Druon Antigon / Johno Leeroy / Scatterface / Im An Alien
Passengers In Panic – “Passengers In Panic”
2020 – Sleaszy Rider
Se calhar é um lugar comum meu começar por dizer “boa surpresa”, não é? Acontece principalmente quando não tenho qualquer tipo de expectativa daquilo que vou encontrar. O nome não me dizia grande coisa, a capa muito menos. Já a música intrigou-me. Havia (há) algo de estranho aqui a acontecer. Por um lado temos uma intro que samples que vão de bebés a chorar até disparos de artilharia e declarações sobre a guerra da Síria. “The Undertaking”, o primeiro tema a sério tem uma sonoridade estranha onde uma sonoridade que parece violino (embora não se tenha nenhuma menção ao instrumento no comunicado de imprensa) começa a marcar o seu espaço e onde a guitarra se move por melodias folk intemporais. A voz de Kally Voo também é um ponto de grande destaque, tornando ainda mais estranha a sonoridade mas simultaneamente boa. Invulgar mas que depressa se entranha, muito graças também a uma toada progressiva que alterna com o heavy metal tradicional. Tudo junto faz com que se tenha um álbum verdadeiramente único e, lá está, surpreendente.
8.5/10
Fernando Ferreira
Gjoad – “Samanōn”
2020 – Antiq
Impressionante álbum de estreia desta entidade que se assume como rock mas que vai tão além disso que nem sequer consigo conceber a associação do rótulo a este álbum. A guitarra é importante sem dúvida, mas mais ainda é a percussão que nos remete para rituais primitivos, a par do baixo, discreto mas essencial para alguns dos momentos que se pode encontrar por aqui. Assim como toda a componente atmosférica através de instrumentos que soam, neste contexto, completamente assombrosos. É um álbum instrumental (não ligando à spoken word de “Gartsang”) mas que fala (grita!) por todos os seus poros. É magia em forma de música. É rock, é pós-rock, é folk, é ambient. É mágico!
9/10
Fernando Ferreira
Boris With Merzbow – “2R0I2P0”
2020 – Relapse Records
Estes são dois mundos que se cruzam com frequência. E que nos conseguem surpreender e ao mesmo tempo cativar a cada (re)encontro. Os Boris são aquela entidade mutante e camaleónica que é capaz das coisas mais abrasivas como das mais melódicas. Merzbow é o mestre do noise japonês. E estas duas cartas imprevisíveis juntas podem dar muitos resultados. Neste caso, trata-se de uma luta, entre a melodia e a abrasividade num certo momento mas que depressa descamba uma luta entre o peso desesperante e o noise torturante. E o que é interessante notar é que apesar de ambas lutarem entre si por um lugar ao sol, há uma certa harmonia que resulta desta luta à partida implacável. Uma harmonia que por vezes é subtil, como na “Love” que parece que a estamos ouvir em onda média, de uma transmissão directa de marrocos – pode acontecer. Ao final de quase setenta minutos, não vou dizer que não se sinta um pouco o cansaço para quem não tem os ouvidos (e o cérebro) preparado para este tipo de coisas, mas consumido com moderação, esta é mais uma joint venture bem sucedida. Curiosidade para o tema “Boris” que é uma cover dos Melvins que inspirou o baptismo da banda e que é completamente abusado pelas duas entidades.
7.5/10
Fernando Ferreira
Patrick Richardt – “Pangaea Pangaea”
2020 – Snowhite Records
Disco que tem tudo para passar ao lado mas que conseguiu cativar-me. Não conhecia Patrick Richardt e este é já o seu terceiro álbum. O facto de ser indie rock cantado em alemão certamente que é uma combinação que garanta entusiasmo para este metalhead. Pasme-se que desde cedo que a sua influência se revela irresistível. Vontade de cantarolar (repito, cantado em alemão) e com melodias que devem tanto ao indie como ao pós-rock, este é um álbum que tem um poder insuspeito e até impressionante pela forma como permanece cá dentro – a “Visionaere” é um vício absoluto e uma porta de entrada para este grande e vasto oceano de qualidade. Não sei quanto a vós, mas isto é um vício altamente recomendado.
8/10
Fernando Ferreira
Druon Antigon – “Desontstijging”
2020 – Onism Productions
São várias as vezes que encontramos registos discográficos no estilo black que misturam elementos ambient ou electro com uma criatividade solo. Neste caso trata-se do belga Lennart Janssen. A infusão de sons ambientais com uma faceta futurista demonstram uma vertente espacial, ficção cientifica num mundo por vezes techno rave. Para amantes de bandas sonoras electrónicas mas com um satélite apontado para o black metal.
7/10
Fernando Monteiro
Johno Leeroy – “The Magnolia Sessions”
2020 – Anti-Corporate Music
Seguindo a série de lançamentos de cantautores, a Anti-Corporate Music apresenta este álbum de Johno Leeroy onde o músico apenas com a sua viola de quato cordas – mas não é um baixo e sim uma espécie de cavaquinho gigante – enche o vazio. Folk e Americana/country que tem muito feeling muito graças à voz que nos transporta para um passado longe de tecnologia. Dá ideia de que isto foi tudo gravado de seguida, apenas com o músico em estúdio e alguém a gravar. Tal como nos velhos tempos. Mesmo quem não goste especialmente de country poderá ficar encantado com estes temas.
7/10
Fernando Ferreira
Scatterface – “2020”
2020 – Echozone
Se nos primórdios das minhas incursões pela música pesada, ficava fã de bandas ou músicos que eram multifacetados e conseguiram ir a todas, com o tempo fui sendo invadido pelo cepticismo. Este trabalho de Scatterface coloca a nu esse cepticismo. O que é bom, por gosto de ser posto à prova. Scatterface é o projecto de um músico que se influenciou pelo nu metal mas depressa conseguiu expandir os seus horizontes para além desse género e o resultado está aqui. Um álbum onde colaborou com uma série de vocalistas espalhados por todo o mundo. E para cada vocalista temos quase um estilo diferente. “SC4TTERFACE_” assustou pela negativa, com algo que parece que foi arrancado á força do EBM metendo uns solos pelo meio e umas vocalizações a rapar e outras a puxar ao gótico. E logo à primeira canção fica-se esgotado. O que vale é que o que vem de seguida é muito bom. Uma balada “Stage Of Change” com uma bonita voz, uma pesada e entusiasmante “Null”. Claro que depois teria de descambar para o pastilhame em “Symptoms”. O que vale é que as quedas são de curta duração. “Lust II” é engraçada, um pop rock pesado, “Snowflake” é indie rock com samples de violino de extremo bom gosto, “Apocalypse” é metal industrial bem conseguido, “kyosis” uma experimentação curta instrumental, “Path Of The Sun” outra balada que começa ao piano e cresce para algo cinematográfico. E por aí continua. No geral, podemos deitar as faixas que não nos interessa fora e ainda ficamos com muito boa música. A questão que considero mais aborrecida é por não termos um fio condutor. Mais parece uma compilação de diferentes bandas/artistas. Claro que esse é um risco quando se usam vocalistas diferentes, mas o principal problea é quando é a própria música que é bastante diferente entre si. De qualquer forma ainda considero que o saldo seja positivo.
6.5/10
Fernando Ferreira
Im An Alien – “The Year Of The Glitch”
2020 – Edição de Autor
Álbum de estreia desta banda peculiar que junta uma certa aura metal e industrial ao rock alternativo. Pelo menos é aquilo que a produção me sugere, dando um aspecto retro, a lembrar algumas das produções do início do milénio. É pena é que a voz não seja mais forte ou mais melódica. Em vez disso está ali no meio, não sendo especialmente apelativa. É um conjunto de temas com potencial mas que não chegam a satisfazê-lo. “Glitch” e “So You Want An Apocalypse” são um bom exemplo desse potencial. Uma outra vez e certamente a apreciação seria outra.
5/10
Fernando Ferreira