Review

WOM Reviews – Silent Thunder / Selenite Scrolls / Bilwis / Drugoth

Silent Thunder – “Thousand Hammers”

2022 – Out of Season / Not Kvlt

Estamos na década de 90. O Black Metal começou o seu Reinado das Trevas. Melodia e agressividade sentem o ar, enquanto pressionamos PLAY na velha aparelhagem dos nossos pais. A cassete vai girando e girando, e a magia acontece. O Black Metal dos anos 90 tem este “cheiro” especial. Cresci no início dos anos 80, por isso era uma criança quando o Black Metal rebentou em chamas (sem intenção de trocadilho), por isso levei alguns anos a descobrir o poder do género. As primeiras bandas que se apresentaram usavam muito os teclados. Eu estava, quando era criança, profundamente apaixonada por todas as coisas Fantasia, RPGs, Vampiros e Poe, Lovecraft, etc., por isso este tipo de música encaixava perfeitamente na minha mente de miúdo. O meu amor pelo Black Metal e reclados ainda está vivo, e saudável, e adoro ver que regressou, embora nunca tenha partido, pois não? Podemos considerar os Silent Thunder como a saída perfeita para o que não é “aceitável” dentro do âmbito muito particular dos Lamp of Murmur. Lamp of Murmur não é um projecto fácil de entrar, pelo menos da minha perspectiva. Está estruturada de uma forma muito específica, e pós-escuridão. E a “questão” que alguns fãs de Black Metal mais trve poderiam ter com LoM, é o “pós”. Os Lamp of Murmur atingira a cena do Black Metal como… um trovão. Alguns foram atingidos positivamente, outros apenas disseram Não. Porquê? Não faço ideia. Adoro a sua afeição pelos sons de The Cure, Fields of the Nephilim, Sisters of Mercy, Joy Division, etc. A sua faceta romântica alarga realmente o espectro para tantos outros, mas alguns sentiram que ele estava a trair o género e amaldiçoaram-no durante décadas. Então, porque é que os Silent Thunder nunca levantaram tantas sobrancelhas? Tem uma estrutura muito mais simples. Credo, “mais simples”. Não, não o tomem como um insulto, por favor. Exemplo: algumas das minhas raízes estão na Old School Hardcore Punk, e este é um género conhecido por mantê-lo simples, por isso esta ideia de uma estrutura mais simples não é um problema. E tem teclados. Ainda não o mencionei, mas tem teclados. E tem riffs que lembram a Europa Oriental, e os anos 90 em geral deste lado do lago. “Thousand Hammers” não é a primeira aventura de M. com Silent Thunder, pois lançou as bases para este projecto com a Demo de 2021 “Usurping the Hall of Might and Splendour”. A última faixa da Demo, “A Flaming Chariot Across the Nightsky”, é uma forma perfeita, mais do que perfeita, de acabar com este lançamento. Em momentos fui enviado para Twin Peaks, dada a doçura das melodias (Angelo Badalamenti é um génio desgraçado). E estou ciente de como isto pode soar estranho. Os Silent Thunder funciona, na minha modesta opinião, como uma homenagem ao Black Metal dos anos 90; trabalhado com ferro e sangue, riffs agonizantes e gritos congelados. Menciono o Metal Negro Oriental?! Bem, podemos acrescentar aí algum norueguês, não? De certa forma, o Silent Thunder está muito bem alinhado com os anos 90, e isso é suficiente para mim. Fãs de ontem, fãs de hoje, fãs de amanhã… isto é uma obrigação.

9/10
Daniel Pinheiro


Selenite Scrolls – “Through Gnarled Woods and Glowing Haze”

2022 – Medieval Prophecy 

Ouvi falar pela primeira vez da Medieval Prophecy Records há alguns anos atrás, através de Forbidden Temple. Fiquei impressionado com a capacidade que estes dois músicos têm de criar atmosferas que têm a mesma quantidade de beleza e ódio. Como?! Sim, essa foi a questão que me coloquei: como é que estas atmosferas me podem arrastar para lugares tão escuros e bafientose fazer-me sentir tão sobrecarregado com… para ser honesto, não consigo sequer pensar numa palavra em português. Depois sentei-me e passei por todos os lançamentos da editora. Mais uma vez boquiaberto por todas as bandas de que não tinha conhecimento! Tinha encontrado uma editora que capturou, através destas bandas, um som que eu esperei tanto tempo. Contudo, parece que perdi um projecto, dos que estão “mesmo no meu beco do Black Metal”, quero dizer: Selenite Scrolls. Descobri-os com a mencionada Demo, e, tau… completamente agarrado. Em menos de 25 minutos é-nos dada uma lição de Black Metal da Velha Escola. Soa a 1ª vaga ou 2ª vaga?! Soa podre, assombroso, escuro e melancólico; “The Fading Ruins of Wallwerk” é um enorme exemplo do espectro a partir do qual estes rapazes extraem inspiração. Tem um pouco de tudo, de certa forma (de uma forma muito, muito escura). De certa forma, e embora possa parecer estranho, tenho muita dificuldade em descrever a razão pela qual uma libertação como esta me atingiu tão duramente como atinge. Talvez seja o facto de me lembrar dos meus primeiros anos de descoberta do Black Metal, quando tudo era novo, e espantoso; onde a próxima música era melhor do que a primeira, e sentir-se-ia como uma criança que acabou de descobrir a melhor coisa de sempre. O Black Metal é sobre atmosferas, sobre sentimentos, sobre emoções. Cliché ou não, este género é diferente de qualquer outro. Chamem-lhe o que quiserem, mas há algo no Black Metal, especialmente aquele que vive nas franjas do género – sim, aquele que ainda podemos considerar como sendo Subterrâneo. Selenite Scrolls tem esta coisa para eles; este som; esta abordagem; esta atmosfera geral. A inclusão dessa amostra específica, do filme em particular… argh! Tem melodia. Mas que tipo de melodia? A boa. Oh, claro… o quê? Sinto que eles vivem dentro da mesma bolha de Forbidden Temple, por exemplo, ou Effroi! Parecem velhos, poeirentos, teias de aranha por todo o lado, o cheiro de almas mortas e em decomposição. É bastante perturbador, em certo sentido, mas não é a vida real, pior? Penso que sim. O seu som não é cru, nem primitivo, pois a sua música reside nas atmosferas já mencionadas. Será a desgraça?! Sim, pode ter alguns pedaços de Doom. E encaixa no guião. É uma ponte para diferentes frequências sonoras, que levam a emoções mais sombrias, e imagens mentais. É difícil de explicar, tive o mesmo problema com o último trabalho de Nidernes (que deve verificar se ainda não o fez): o número de emoções que percorrem a mente, nesse exacto momento, é enorme. Bélgica, rapazes, e cavalheiros. Uma palavra: avassalador.

8/10
Daniel Pinheiro


Bilwis – “Pan”

2022 – Northern Silence Productions

Trabalho de estreia de Bilwis que surge como uma boa proposta de black metal épico e atmosférico. Claro que é mais uma aposta da Northern Silence Productions. Tratando-se de uma one-man ban, a probabilidade de nos queixarmos do som da bateria é quase certa e aqui a regra mantém-se válida já que se trata de programação – e neste tipo de som continua a ser sempre melhor ter um som orgânico. No entanto, para quem gostar de Summoning, até fica mesmo ao jeito, sendo até superior no que às dinâmicas diz respeito. Estreia bastante interessante e um nome que esperemos que se vá desenvolver para além das referências que são bastante óbvias neste ponto.

7/10
Fernando Ferreira


Drugoth – “Legion Of The Great Eyes”

2022 – War Productions

Se é para conhecer uma banda, então que seja através de uma compilação. É o caso deste “Legion Of The Great Eyes” que junta duas demos de Drugoth, one-man banda australiana. A saber temos então “Legion Of The Great Eye” Parte 1 e 2, de 2018 e 2020 respectivamente. Abordagem crua e primitiva ao black metal – até aqui nada de novo – mas com uma abordagem arraçada de punk/crust bastante interessante. Limitada em termos técnicos mas ainda assim surge com uma capacidade de nos cativar surpreendente. Longe dos habituais lugares comuns, é esse ponto que é o seu maior triunfo e pelo qual conseguimos denotar aqui uma capacidade de progressão criativa fora do normal, mesmo que a mesma ainda não esteja muito evidente. Seja como for, recomendado conhecer.

7/10
Fernando Ferreira


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