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WOM Tops – Top 20 Black Metal Albums 2020

WOM Tops – Top 20 Black Metal Albums 2020

Black metal, a eterna escuridão e as suas várias tonalidades de negro. Uma escuridão que é sempre bastante profícua. Todos os anos, este é aquele Top onde temos mais submissões e 2020 não foi uma excepção. No entanto, pudemos encontrar alguma unanimidade na redação em relação a esta escolha, por isso é também testemunho da qualidade das propostas que aqui vos deixamos.

20 – Nyrst – “Orsök”

Dark Essence Records

A Islândia tem um encanto muito especial. Uma mística que é transportada muitas das vezes para o seu som. Curiosamente, no caso dos Nyrst, isso até nem acontece, porque apesar da nacionalidade da banda, o som é um black metal típico da segunda vaga. Isso, contudo, não lhe retira uma pinga de valor. Muito pelo contrário. São os quarenta minutos mais rápidos que tive nos últimos tempos. Violento, rápido e negro, com aquelas melodias e ambientes macabros já expectáveis, esta proposta pode não ser revolucionária mas sem dúvida que satisfaz o desejo de requinte pelo melhor black metal.

Fernando Ferreira

19 – Serpent Noir – “Death Clan OD”

W.T.C. Productions

Foram necessários cinco anos para o regresso dos Serpent Noir (não estamos a contar obviamente com o split de 2018 com os Mortus, mas também não o desvalorizamos) com um terceiro álbum mas se foi isso necessário para voltarem com uma bomba destas, então que seja. “Death Clan OD” é tudo aquilo que a expectativa construiu nestes cinco anos e muito mais até. Há uma certa preocupação hoje em dia com que certas bandas se desviem daquilo que são os seus pontos fortes – sempre discutível mas estamos a falar da perspectiva de um fã – mas neste caso, e como tem sido até agora, essa evolução é bem vinda até porque a identidade criada continua bem vincada e é até desenvolvida. A brutalidade não deixa de estar presente ainda que intercalada (mesmo que subtilmente) com a melodia que é omnipresente. Os gregos já são mestres e os cinco anos de ausência só lhe fizeram bem.

Fernando Ferreira

18 – Dkharmakhaoz – “Proclamation Ov The Black Suns”

Iron Bonehead Productions

Hoje em dia já não é nada novidade termos entidades misteriosas (ou mascaradas) a trazerem-nos contos de destruição, ódio a Deus e à himanidade, mas há ainda sempre espaço para sermos surpreendidos. Neste caso, este duo bielorrusso surpreendente-nos por juntar ao ambiente black metal, afinações bem graves (em nada comuns) e uma ambiência mais quente, talvez maquinal, à sua sua sonoridade. O comunicado de imprensa faz questão de salientar que não há o intuito de ser algo industrial. Compreende-se o porquê de fazerem essa ressalva. Invulgar, catártico enquanto simultaneamente familiar, sem chegar a ser déjà vú. Uma forma diferente (e eficaz) de fazer black metal.

Fernando Ferreira

17 – Glaciation – “Ultime Eclat”

Osmose Productions

Este é um daqueles trabalhos que começa de uma maneira e desvia-se do nada e, pelo menos em termos de género, não foi bem o que queria… mas acabou por se revelar como uma surpresa positiva. Os Glaciation são uma banda francesa formada em 2011 que este ano lançou o seu terceiro álbum. Como estava a dizer, o álbum desde início que nos engana, na medida em que começa como uma versão “bastardizada” da música de levantamento da bandeira americana (pelo menos penso que o seja) que se assemelha a um heavy metal com uma queda mais épica mas que rapidamente se transforma em black metal acelerado com uns toques de melancolia. Com base neste começo e no que ouvi do resto do álbum, creio que este é daqueles trabalhos que ou é detestado ou é adorado, e eu estou no segundo grupo.
Há uma certa beleza musical neste tipo de música, uma espécie de destruição organizada e bela que enche o ambiente de um sentido de drama épico, e “Ultimate Eclat” é uma autêntica encarnação disso com o seu vocal sofredor  e a combinação de sons instrumentais que criam uma atmosfera de poder aniquilador. Resumidamente – bom álbum, contudo a faixa instrumental de piano parece dar uma ideia de falta de alguma coisa para complementá-la.

Fernando Ferreira

16 – Over The Voids – “Hadal”

Nordvis

O início quase bucólicopastoral deste álbum quase que nos fez enganar. Começa com “The Pillar”, um momento acústico quase minimalista. “One Commandment” chega logo de seguida, onde o tremolo picking assume o comando, e muito bem. Black metal dinâmico e, sim, porque não dizer, levemente melódico, mas sem cair em exageros porque o seu ponto forte é mesmo a forma como se insinuam na nossa memória. Simplicidade impressionante mas uma eficácia ainda mais superior. The Fall, que também está presente nos Medico Peste e nos MGLA (como músico de sessão ao vivo), tem um enorme talento e este segundo álbum serve para deixar isso bem claro.

Fernando Ferreira

15 – Mörk Gryning – “Hinsides Vrede”

Season Of Mist

Formados em 1993, os Mörk Gryning são uma banda sueca de black metal que apresenta este ano o seu mais recente esforço, Hinsides Vrede, que precede o anterior em 15 anos. Ora, não sei como soavam estes suecos em 2005, mas em relação ao presente, são claramente uma força para ter em conta. Logo a começar na segunda faixa (a primeira é uma de estilo ambiente), já percebemos que os Mörk Gryning não tem problemas a experimentar com o género, mais especificamente, a fundir elementos acústicos e elementos de black metal, criando uma união magnificamente bela que se volta a repetir aqui e acolá. Não será por isso que o álbum é menos extremo, visto que no seu seguimento somos presenteados com um black metal com melodias bastante bem compostas e viciantes, mas igualmente brutais, nomeadamente quando temos em conta o estilo de vocal desfigurado que assenta que nem uma luva. O que se nota com este álbum, é que este é um tipo de black metal verdadeiramente único que contém em si elementos que podem não ser tão apreciados por aqueles que gostam do seu black metal o mais puro possível, mas que surgem com uma dádiva diabólica através de tons épicos além dos já referidos acústicos. Não sei se serão mais 15 anos para lançar um novo trabalho, mas se apresentar nem que seja metade da qualidade, aqui ficarei esperando.

Matias Melim

14 – Empire of the Moon – “Εκλειψις”

Iron Bonehead Productions

Os misteriosos gregos estão de volta para o segundo round após uma ausência de cinco anos. E regressam em grande apesar do álbum saber a pouco. Trata-se de quase quarenta minutos de um black metal que a principio se antecipa como ritualista mas que depois se torna bem mais metal do que o previsto. E ainda bem. “Imperium Tridentis” é um daqueles álbuns que nos faz ir para o meio das montanhas e respirar fundo a pensar como é bom estar vivo. Ou morto, conforme for a nossa situação na altura. A banda grega revela mesmo que estará aqui um daqueles trabalhos que os poderá levar a um nível completamente diferente a nível de exposição.

Fernando Ferreira

13 – Revenant Marquis – “Youth in Ribbons”

Inferna Profundus Records

É Black Metal; está dentro do âmbito da franja de Raw Black Metal, sim. É como a maioria dos projectos que reproduzem algum projecto anterior, baseado em entidades anteriores?! Sim e não. Sim, esperava mais do mesmo – mas com qualidade de topo, dadas as críticas e o que quer que seja – e não me sinto defraudado. Mas, ao mesmo tempo, carrega no seu núcleo principal uma besta diferente. Tem este cheiro incaracterístico. “Youth in Ribbons” é o 4º lançamento desta desconhecida entidade galesa, e pode muito bem ser a sua descoberta.

A batida quase dançável que perdura durante a maioria das canções destaca-se por si só. A voz profunda, ecoando de longe, destaca-se de toda a lenta, mas crua, estrutura musical em que a música se ergue. É engraçado, na verdade, que o Raw Black Metal tenha chegado a este ponto. Soa, por exemplo, tirado da banda sonora de um filme de terror. Atrai-o, agarra-o pela garganta e assombra-o desde a duração do álbum (melhor servido com auscultadores, por favor). Não, não pretende reinventar a roda ou qualquer tipo de… nada. Apresenta simplesmente um álbum que satisfaz os desejos de grande parte da base de fãs do Black Metal: Bruto, Assombroso, Claustrofóbico… Eerie. Os tambores levam uma grande parte da atmosfera. Batida de embalar, pisar forte, punidor selvagem. A maior parte do tempo ocupa “toda a sala”, nos trilhos. Põe o ambiente na pista, entombando, por baixo dela, tudo o que resta. A voz, mais uma vez, enterrada profundamente atrás de uma parede de som, é o que mais se destaca, o que é estranho dado o facto de eu ter acabado de apontar, eu sei. Mas ela sabe. Estranhamente, faz. Adorável trabalho de guitarra. Cheia de melodia, mas perturbadora o suficiente para nos deixar doentes.
As produções finais estabelecem o ambiente para o disco inteiro. Até o riffing da guitarra soa atípico! É preciso um pedaço de DSBM, acrescenta uma pitada de RBM, e acabamos com a recordação das faixas.
O tema do disco/peça de Música pode vir como um choque para alguns, atrevo-me a dizer, mas pode ajudar a compreender a violência projectada na Música. Sexualidade. A Psique Humana. A Transmissão Esquizofrénica da Música. Cenário de Assombro Hipnótico. No final, depois de tudo ter terminado, uma sombra permanece, num canto distante, um reflexo da Essência Humana… escura e fria.

Daniel Pinheiro

12 – Wilczyca – “Wilczyca”

Godz Ov War Productions

Deparei-me com a entidade polaca Black Metal composta por dois homens através do sábio trabalho do chefe de redacção do WOM, e nem ele nem eu tínhamos a mais pequena informação sobre tal banda. Eles são polacos… eles tocam Black Metal… que mais?! Não muito mais…
Dito isto, habitei no poço sem fundo desta peça de Black Metal bruto e enraivecido, só para ser surpreendido! Não estava à espera disto, para ser honesto. É tão satisfatório quando percebemos que a música ainda pode surpreender, especialmente num nundo cheio de imitadores de imitadores.
Formados em 2019, por Louve e Nidhogg, nesse mesmo ano foi lançado um primeiro single (“Ego Memini Inferno”) e no início deste ano o lançamento de um segundo (“Przyjdź”). O primeiro álbum saiu no início de Fevereiro, através da Godz Ov War, e mostra uma banda a preparar uma “besta” diferente. Reunindo influências da 1ª onda de Black Metal, bem como da 2ª onda, acrescentando um pouco de Depressive Black Metal, Dark Ambient e simplesmente Raw Black Metal, Wilczyca moldaram uma excitante peça das artes negras!
Acabei por adorar a produção. Os instrumentos são agressivos, e adicionados às vocalizações arranhadas, oferecem um produto final de excelência superior. Não estava, categoricamente, à espera de algo tão bem montado. Engraçado?! A 3ª faixa quase me fez chamar Brank Bjork ou Josh Homme, tais eram as semelhanças com “Green Machine” (podemos assumir que eles podem ser… fãs de Kyuss?! Dificilmente… ou não?!).
Black Metal de ritmo lento, Black Metal de ritmo rápido e agressivo. Estes polacos vão para todas as abordagens imagináveis que possam encontrar. Realmente dinâmico. Por vezes, quase cinematográfico, como tirado de um velho Horror Movie… arrepiante guitarra Riffs transporta-nos para um Vácuo. Efeitos vocais assombrosos e uma guitarra profundamente lenta Riff.
Similitudes?! Para ser honesto, não sinto que eles tentem replicar uma banda ou álbum ou músico específico. Em vez disso, recolhem elementos de várias fases da História do Black Metal, e o resultado final é este álbum. Genuinamente Escuro, imensamente embutido no estilo que está a ajudar a expandir. Uma oferta extremamente interessante desta entidade polaca do Além.

Daniel Pinheiro

11 – Häxanu – “Snare of All Salvation”

Amor Fati

Há países que, no que ao Heavy Metal diz respeito, terão sempre mais reputação que outros. Verdade que isto da reputação é muito relativo, e sempre será. Quando falamos de Black Metal, tendemos a apontar a Noruega como o epítome de qualidade. É uma afirmação polémica, que pode ser justificada (ou não) das mais variadas formas. Pessoalmente, não sou dessa opinião, mas avante. A cena Black Metal dos USA é daquelas à qual, na minha opinião e tantos anos depois, ainda não lhe foi dado o real valor.

Bandas como VON ou Profanatica, Leviathan ou Judas Iscariot, Panopticon ou Wolves in the Throne Room, sendo isto um pequeníssimo exemplo da imensa variedade existente num país tão grande. É, portanto, um conjunto de bandas que, a nível individual, aporta algo muito particular a uma realidade musical que se pauta por permissas bastante restritas.

Estes Häxanu, liderados/criados Alex Poole (Ars Hmu, Chaos Moon, Entheogen, Gardsghastr, Guðveiki, Krieg, Martröð, Ringarë, Skáphe, Adzalaan), são um bom exemplo da capacidade evolutiva/inventiva de um género e de um músico. As bases são as do Black Metal dos anos 90, com um “adocicado” mais… contemporâneo. Atenção! Com contemporâneo não se deve ler Liturgy ou Deafheaven, por exemplo (exemplos estes, que serão porventura “extremos”). As vocalizações, quase totalmente perceptíveis, remetem-me para Nachtmystium, muito em termos de como são aplicadas à bases instrumental. “Snare of All Salvation”, a longa malha de 18 minutos que encerra este trabalho de estreia. Um só tema leva-nos por mais que um estado de espírito, por mais que uma atmosfera sonora. De momentos mais velozes, para interlúdios repletos de atmosferas reminiscentes de uns WITTR.

Toda a construção é sobremaneira bem concebida, e esta última malha é um bom exemplo da variedade que estes músicos conseguem imprimir aos seus temas. Há dinamismo e há fácil fluidez. Há muitíssima melodia, sem dúvida. É notável a “facilidade” com que transitamos de momentos de classic Black Metal (com um trabalho de guitarra enorme) para atmosferas hipnóticas. Há que referir o trabalho do Senhor Alex na percussão: imenso! Aporta um groove que, como já referi, providencia uma fluidez que previne que a música se arraste, resultando exactamente no oposto: agarra-nos e leva-nos ao longo destes 5 temas!

Em jeito de conclusão: muita melodia, belíssimas atmosferas, “violento” q.b. Mais que recomendável para fãs de Black Metal, seja ele USBM, seja ele Black Metal europeu.

Daniel Pinheiro

10 – Jordablod – “The Cabinet of Numinous Song”

Iron Bonehead Productions

Jordablod é uma banda de black metal sueca formada em 2015. A sua formação é composta por um EP e um álbum completo, mas agora, em 2020, pretendem acrescentar mais um álbum à família, “The Cabinet of Numinous Song”. Este álbum é composto por 7 faixas e tem uma duração de cerca de 42 minutos. O seu som é muito único na forma como mistura a agressão do black metal e o som mais relaxado e ambiente de outros estilos, mas principalmente o que me parece ser a parte acústica de algum género semi-doom/stoner. No conjunto, obtém-se uma experiência muito gratificante ao ouvir este álbum, para além de ser uma experiência divertida. Quanto à parte de black metal, é positivamente organizada mantendo toda a força que se espera de uma banda de black metal, e mesmo introduzindo alguns riffs e solos pesados e melódicos ligados a estilos mais épicos. Quando se fala do outro lado desta banda, o acústico, eles destacam-se realmente como não sendo apenas mais uma banda de black metal. Nestas partes, Jordablood permite aos seus ouvintes um pouco de consolo e introspecção que realmente tornam todo o álbum mais ágil e fácil de ouvir com atenção. No geral, foi uma experiência extraordinária para mim, tanto por gostar de estilos musicais mais complexos (este álbum está cheio de camadas para os ouvintes analisarem), como também pelo seu valor divertido (o álbum está repleto de ritmos diferentes, alguns dos quais fazem sem dúvida bater de cabeça como se não houvesse amanhã).

Matias Melim

9 – Griffon – “o Theos, o Basileus”

Les Acteurs de l’Ombre Productions

Segundo álbum de originais dos franceses Griffon e um álbum que vem carregado de expectativas e ainda as consegue superar. O seu black metal surge de forma bastante simples (não confundir com simplista), algo que poderá ser inesperado para que está convencido que o black metal francês é todo repleto de dissonâncias e estruturas complexas. A simplicidade de “o Theos, o Basileus” é de assumir sem receios os aspectos mais melódicos e belos da música (como a pianada na “Abomination”) e ainda assim não se desviar um mílimetro da identidade criada – ainda que essa identidade se note estar em formação. Ou seja, é melódico em igual medida em que é pesado e violento. Esta continua a ser a melhor conjugação que se pode fazer.

Fernando Ferreira

8 – Leviathan – “Förmörkelse”

Nebular Carcoma / Bile Noire

O regresso de Leviathan é inesperado mas muito agardado. Depois de um excelente “Far Beyond The Light” lançado dezoito anos atrás (18!), nunca mais se ouviu desta one-man constituída por Phycon, que também não tem andado propriamente parado. Aqui está o segundo álbum de originais que faz parecer que não passou tempo nenhum já que o que nos traz é exactamente um trabalho sequela que é precisamente o que queremos ouvir. Black metal dinâmico com melodias inesperadas mas sempre a manter a aura ameaçadora. É sobretudo de auras e ambientes que o black metal, na minha opinião, vive e neste caso é como se um velho amigo tivesse voltado à vida, sem que nada o fizesse prever (sim algumas resurreições são esperadas). Seja como for, é vício, daqueles que vamos andar a ouvir pelos próximos dezoito anos. No mínimo.

Fernando Ferreira

7 – Slagmark – “Purging Sacred Soils”

Purity Through Fire

Pouca informação consegui obter acerca deste duo alemão, para lá destes dois factos referidos, e o terem já, ambos músicos, uma série de anos na cena Black Metal (Asenheim, Eisenkult, Totenwache, Rituals of a Blasphemer, Sarastus, Sarkrista, ex-Goats of Doom (músico ao vivo) – obrigado, Metal Archives). “Purging Sacred Soil” é a apresentação, por assim dizer, deste duo ao Mundo. 7 temas de Black Metal com clara inspiração na 2.ª vaga, mas actualizados, refrescantes. Soa a Black Metal que a mim me agrada! Black Metal melódico, mas ao qual não falta força e / ou presença. As vocalizações são aquilo que se quer, aquilo que se espera quando se lê “Black Fucking Metal”! Segundo o M-A – mais uma vez – há aqui uma certa influência / inspiração / whatever de Black Metal finlandês, especialmente Satanic Warmaster e Horna, com o qual concordo. Há uma linha estrutural muito bem trabalhada, com muita melodia, como já referi, com momentos quase épicos, sem cairem na… sem serem corriqueiros. Recurso a teclas, pontual, com as quais criam atmosferas e, mais que isso, intros (quase intros, vá) que antecedem explosões de força (“Built on Bone Hills”, booooom). A bateria, as guitarras, as vozes, há velocidade… há uma atenção à melodia, que em nada retira uma grama de força ao produto final. Sim já o disse 253564755809 vezes, mas este será, talvez, um dos pontos mais fortes deste álbum: essa dinâmica que o duo consegue criar entre a melodia e a força (os Cénotaphe avançaram com a mesma linha, mesmo Caverne… tudo franciús, sim). Este ano já sairam N coisas boas e bonitas, mas é bom ver que o resto do ano ainda nos reserva muitas mais. Senhores e senhoras… dêem aqui uma escutadela, vá.

Sabena Costa

6 – Pantheon of Blood – “Voices Rooted in Blood”

Purity Through Fire

A Finlândia tem sido, desde o final dos anos 80, início dos anos 90, um viveiro para o Metal Extremo. Desde Beherit até à Igreja Cósmica, e tudo o que está entre eles, os finlandeses sabem como fazer tais homenagens heréticas e blasfemas ao género. Desde a viragem do século, temos sido dotados de uma imensa quantidade de Black Metal de classe mundial que tem vindo a empurrar os limites do género para níveis pouco vistos antes. Blood Red Fog, Kadotus, Noenum, Circle of Ouroborus, a referida Igreja Cósmica e o convidado de hoje, Panteão de Sangue, têm oferecido, consistentemente, novas e maravilhosas perspectivas sobre o Black Metal.
Melodia. Esta é a palavra que melhor retrata esta recordação de faixas. Uma sensação esmagadora de Melodia e Facilidade, uma experiência de outro mundo. Em momentos, agressiva, por vezes, doce. Uma essência de Black Metal dos anos 90 e um sentido de sensibilidade. Este é, na minha opinião, o coração dos Pantheon Of Blood. Esta mistura, esta intersecção de humores, faz da sua música uma experiência massiva. Antigos tempos ainda presentes… este folclore que ressoa através do Tempo e marca o ouvinte com Ritos e Mensagens. “Voices Rooted in Blood” é uma compilação de faixas que contam uma história. É uma história de Evolução e Crescimento. Uma história de uma entidade que prospera para alcançar o epítome da Criação. Sûrya Ishtara, o homem por detrás dos Pantheon of Blood, ao lado da toda-poderosa Signal Rex, juntou (menos “Tetrasomia”) todas as faixas da banda num único lançamento. É uma excelente forma de absorver a sua criação e a sua evolução. Uma viagem de sons e mitos por uma das maiores criações de Black Metal da Finlândia (na minha opinião, claro).
Para aqueles que experimentaram a realidade dos Pantheon Of Blood, não haverá surpresa; aqueles que, por outro lado, nunca caminharam por este caminho, a expedição será cheia de riquezas e surpresas! Muitas etapas, muitas formas, muitas cores.

Daniel Pinheiro

5 – Nocturnal Prayer – “Advance On Weakened Foes”

Inferna Profundus Records

Canadá. Terra gélida e abrasiva, casa de algumas das melhores bandas de Black Metal que surgiram últimos anos. Bandas como Gris, Bašmu ou Akitsa, por exemplo, têm aportado a sua particular visão do Black Metal, mais áspera, mais ambiente; há toda uma diversidade na cena canadense, o que faz com esta seja uma das mais emocionantes/diversificadas da actualidade.

Na verdade, a tendência actual é para um segmento específico dentro do Black Metal: o Raw Black Metal. Não é,de modo algum, uma novidade de ontem, sendo que já há uma série de anos que temos vistos um crescendo, tanto de bandas como de labels e de adeptos desta linha de Black Metal. Obviamente que o Canadá nunca ficaria intocado pela “peste” – Nächtlich, p.ex. – e a banda que vos trazemos hoje pode ser incluída nessa fracção.

Nocturnal Prayer, ano de formação desconhecido – a este escriba, pelo menos – editou em 2019 a Demo “Grim Sermons of the Nocturnal Prayer”, 5 temas, nos quais se incluía uma cover de Black murder. 2020 viu a edição de uma 2.ª Demo, “May You Lay Waste to Astral Gods with Star Disintegration”, que contém uma cover de Moonblood. O burburinho cresceu e a banda chegou aos ouvidas da Inferna Profundus Records, editora lituana. Esta união resultou em “Advance on Weakened Foes”, compilação que reúne as duas anteriores Demos da banda.

O som?! Nocturnal Prayer vive na esfera do Black Metal, vive em melodia e em ambientes escuros e ásperos. Ao contrário de muitas bandas associadas ao Raw Black Metal, os Nocturnal Prayer não têm um som em que os instrumentos se “perdem” numa muralha de cacofonia e dissonância. Há bastante melodia, essencialmente porque o Black Metal da banda é muito mais mi-paced que outra coisa. E isso, a mim, soou maravilhosamente bem! Nunca o Black Metal deveria ser “maravilhoso”, que isso retira pontos no “Kvlt Kard”, mas é inegável que a banda apresenta uma sonoridade distinta, sem sair do seu meio natural. Atenção, há momentos em que o ritmo acelera, mas ainda assim, continua a ter a sua identidade bastante presente. Acabamos por, um pouco como o que é feito pelos Forbidden Temple – ainda que uma realidade distinta – sentir que somos transportados para uma floresta nevada, ao pôr-do Sol: neve, vento sereno, desolados e emocionalmente destruídos. Soberbo.

Daniel Pinheiro

4 – Irae – “Lurking in the Depths”

Signal Rex

Poucos nomes têm o mesmo peso que este no panorama nacional de Black Metal. São quase 2 décadas de heresia e persistente filiação às artes negras, personificadas no Black Metal, claro. De Flamma Aeterna a Ancient Burial, Vulturius já deixou para a história a sua marca no Black Metal português, há muitos e bons anos. Sempre presente, a sua relação (ou não, neste caso) com a Religião continua a fornecer combustível para a eterna chama que é Irae. 2020, o início da pandemia, a chama que desencadeia mais um trabalho, desta feita o 5.º álbum, “Lurking in the Depths”. E que dizer que não tenha já sido dito? Irae é, desde há muito tempo para hoje, daqueles projectos/bandas/realidades musicais, portuguesas, com as quais mais me identifico. Como acima referido, há uma consistente filiação às linhas condutoras do Black Metal, aquelas que muitos consideramos como as bases do género como hoje (ainda) o vemos, que lhe dará sempre, da parte dos ferrenhos adeptos do género, o avalo positivo e a confiança para continuar. E que temos, efectivamente, neste “Lurking…”? Temos Darkthrone e Celtic Frost. Temos essa filiação aqui “estampada”. Para lá de tal temos a melhor produção – arrisco dizer – que já ouvi em Irae, e a inclusão de sintetizadores, algo até então muitíssimo (se sequer) pouco explorado em Irae. Mas o cunho tão próprio do Sr. Vulturius continua aqui, presente e imponente.

Como já acima exposto, Irae é daquelas realidades musicais que me diz bastante e pelo qual nutro um carinho especial, sendo que ter tido a oportunidade de assistir ao concerto dado na última edição do IRM, acabou por trazer ainda mais mística ao mesmo.

Daniel Pinheiro

3 – Dysylumn – “Cosmogonie”

Signal Rex

Dois dos bastiões do Black Metal francês estão a quilómetros de distância um do outro. Entre Mutiilation e Blut aus Nord está toda uma galáxia de distância. De um som cru e despojado de “embelezamentos”, a uma sonoridade que transcende o Ser Humano, esta evolução é mostra da perspectiva criativa que estes músicos têm relativamente a um género que é tudo menos estanque. Dysylumn, de Lyon, Auvergne-Rhône-Alpes, duo formado por Camille Olivier Faure-Brac e Sébastien Besson há 10 anos oferece-nos este ano o seu 3.º álbum, “Cosmogonie”. Dá para ter uma ideia – ainda que vaga – da temática com a qual trabalha o duo: o Cosmos e a espiritualidade não terrena do Ser Humano. O próprio som da banda é “moderno”, por assim dizer, sendo que encontro elementos que os poderiam associar ao que de melhor se faz na Terra dos Mil Lagos, de certo modo. Notamos, facilmente, que há um exímio cuidado com tudo aquilo que a banda apresenta, os pequenos detalhes, as transições de secção para secção. De destacar o trabalho de bateria – obra do Sr. Camile – que se releva importantíssimo em certas malhas (“Apparition II”, p.ex.). O trabalho de bateria cria o backdrop no qual são projectadas as imagens e as cores que tão bem representam estes Dysylumn – e isto é obra do Sr. Sébastien. Os vocais, reminiscentes de algum Death Metal (Grave Miasma ou Necro Christos, quiçá), acabam por encaixar perfeitamente, especialmente porque a banda opera uma alternância entre estes guturais e uma performance mais “gritada” – controlada e melodiosa. Mais uma vez a Signal Rex estende a mão a mais uma entidade que se coloca, no espectro Black Metal, à parte. Anteriormente referi BaN como forma de dar uma imagem mais clara de onde se centra este duo francês, mas não que os considere similares. Há muita mais melodia aqui que há em BaN, ou pelo menos uma melodia mais “descarada” e menos escondida por detrás de camadas e camadas de distorção ou riffs e variações estonteantes. Aqui, neste “Cosmogonie”, há um dinamismo imenso, há uma fluidez nas linhas instrumentais… há uma produção LIMPÍSSIMA. E este é daqueles casos em que se exige uma produção limpa. Esqueçam Sanguine Relic, pensem em BaN ou DsO, e podem ficar com uma ideia do som que vão aqui encontrar. Possível discernir toda e qualquer nota tocada – esta é para os músicos, claro – há aqui um desafio ao ouvinte para se perder nas estruturas criadas pelo duo; não é uma criação de assimilação imediata em para se “digerir” aos bocados! Temos que nos perder nestes temas, nos solos de guitarra, nas linhas vocais. Que público poderá apreciar este som? Poderia apontar uma série de públicos que considero que NÃO encaixariam aqui, mas sería visto como preconceituoso, sendo isso o último que queremos. Pessoal que aprecie Black Metal, que aprecie música tocada por músicos de alta qualidade, que desafiam as linhas pré-estabelecidas e que concebem uma bela peça de Black Metal. Melodia, força, suavidade e fluidez…

Daniel Pinheiro

2 – Armagedda – “Svindeldjup Ättestup”

Nordvis

Armagedda é daquelas bandas que, felizmente, mantém viva a chama dos idos anos em que o Black Metal encapsulava, em si, Música e Sentimento. Fieis a bases primordiais, o seu início apresentava uma face “suja” e “visceral”, “primitiva” e “agressiva”, mais próxima daquilo que terá sido estabelecido pelos pilares do género (Darkthronian Black Metal). Com “Ond Spiritism: Djæfvvlens Skalder Anno Serpenti MMIV”, de 2004 – último álbum da banda até a edição deste – a banda optou em seguir uma outra linha criativa: um som muito mais trabalhado, complexo, rico e intrigante. 13 anos passaram e, verdade seja dita, ninguém esperava que houvesse algum dia novas deste duo sueco. Mas equivocados estavamos. 2020 trouxe a pandemia, mas também nos trouxe “Svindeldjup Ättestup”, a nova criação de A. Petterson (a mente por detrás da Nordvis Produktion) e Graav. Enigmática e meticulosa naquilo que apresenta, esta entidade sueca traz.nos um portento do Black Metal! Na senda do trabalho criado com o anterior álbum, é-nos dado a contemplar um conjunto de temas que, independentemente da sua duração, nunca soarão monótonos ou vazios de interesse. “Guds Kadaver (En Falsk Messias)” e a suas vocalizações quase faladas, que nos agarra e nos arrasta. O duo regressa, quando considera necessário, às raizes, para logo de seguida nos apresentar riffs que bebem de toda a envolvência natural e mística em que o mesmo vive. O desconstruir as regras / bases, de certo modo. As linhas estão estabelecidas, agora criemos as nossas linhas em cima destas. Que mais dizer? Uma das surpresas do ano, não haja dúvida disso. Daqueles regressos que se fará notar em anos vindouros, seja pela qualidade do apresentado, seja pela singularidade do mesmo. 11 minutos e 6 segundos que funcionam como o encerro do círculo, a serpente que morde a cauda… um opus que nos mostra de que material é, realmente, feita esta entidade.

Daniel Pinheiro

1 – Omitir – “Ode”

Loudriver Records

A beleza da nossa musicalidade, exposta em 6 temas. poderia ficar por aqui, de certo modo. Toda a beleza que irradia deste trabalho – o 4-º longa-duração – mostra o expoente máximo da criação, o climax da realização musical… sei, sim, que este trabalho me deixa sem palavras tal é a beleza do mesmo. Burzum, Drudkh… simples comparações, inatingíveis ou não, isso ficará sempre ao vosso critério. Omitir é o som de Portugal, mas aquele Portugal que labora no campo, que ergue o punho em raiva, pelo Sofrimento e pelo Pesar da Morte. É Poesia em forma de Black Metal. Sim, porque é de Black Metal que falamos, é no Black Metal que se assenta Gróvio, o génio criativo. Exagerado? Será esta uma hipérbole? Quiçá, quem sabe. Ou talvez não. Sigo Omitir já há uma larga série de anos e é com imenso prazer que observo um crescimento exponencial no seu trabalho, mas este “Ode” é absurdo, é desmesurada a qualidade aqui existente. Mais uma vez: exagero, quiçá. Sinceramente, que mais dizer? “Ode” é a banda-sonora daquele Portugal pré-74, ali no limiar da Revolução Agrícola, um misto da revolta provocada pela opressão política e o vislumbre de uma salvação às mãos do Homem, do seu semelhante. Há Angústia e Pesar, há Beleza e Doçura. Há toda uma panóplia de sentimentos espalhados por todas estas 6 faixas. Há Meiguice na voz e Mágoa nas linhas instrumentais. Há Jerónimo de Sousa na “Vera Busca”… há Povo e Liberdade. Há álbuns que nos marcam, que tomamos como nossos, com os quais identificamos, “Ode” é um deles. Imagens de vales e montanhas, riachos e campos de cereais, a revolta do proletariado e o ressurgimento da Coragem.

Daniel Pinheiro

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