WOM Tops – Top 20 Industrial Albums 2020
WOM Tops – Top 20 Industrial Albums 2020
As sonoridades electrónicas e mais abrasivas do industrial são as que reinam nestas vinte escolhas. Tal como em alguns dos tops que já fizemos, também este é bastante eclético, cruzando vários subgéneros da música pesada onde o elemento comum é o uso da maquinaria, ora mais arcaica ora mais sofisticada, ora mais noise ora mais smooth. Mesmo para quem não aprecia esta vertente, haverá aqui muita matéria para surpresas positivas.
20 – Tristwood – “Blackcrowned Majesty”
Edição de Autor
Não seria expectável que tivessemos já este ano um novo trabalho dos Tristwood. A banda austríaca lançou o ano passado o quarto álbum após uma ausência de nove anos. “Blackcrowned Majesty” é tudo o que se esperava, uma proposta bruta e crua de metal extremo industrial. A parte do industrial surge quase sobre a forma de noise, fazendo com que a abrasividade deste álbum seja multiplicada por mil. Apesar de ser rudimentar em muitos aspectos (quer na parte do metal, quer no industrial) há um certo encanto inexplicável neste conjunto de temas, algo que temos a certeza que não vai agradar a todos mas pelo menos a aqueles que procuram sempre novas formass de agressão.
Fernando Ferreira
19 – Ulver – “Flowers Of Evil”
House Of Mythology
Ulver sempre foi uma banda aparte no reino da música pesada. Desde os já longínquos tempos do black metal lo-fi até à passagem abrupta para os reinos da música electrónica. A experimentação tem sido uma constante e talvez nesses parâmetros, “Flowers Of Evil” não seja tão revolucionário. Pega no que já tinha feito em “Tha Assassination Of Julius Caesar” e vai um pouco mais a fundo. Não é, contudo, uma desilusão, já que mostra que há um claro desenvolvimento/apefeiçoamente da arte de fazer grandes canções. Aos que ainda têm a esperança de que a banda tenha apresentado algum tipo de som abrasivo, podem já desistir. A música electrónica é prevalecente aqui apesar de se mostrar versátil, muito mais do que se pensaria inicialmente. A cada lançamento, as atenções voltam-se para aquilo que Kristoffer Rygg e seus pares apresentam.
Fernando Ferreira
18 – Wheelfall – “A Specter Is Haunting The World”
No Good To Anyone Productions
Conceito bastante interessante quando unida a música ainda mais interessante só pode dar num grande álbum. Resumidamente tems um homem perfeitamente normal que coloca em cima de si a tarefa de matar o presidente do F.M.I. Decidido a fazê-lo coloca uma bomba que está a vinte minutos de rebentar. E nesse período de tempo, e a cada intervalo de cada música, é mais um assalto de memórias e de razões que o motivam a estar ali naquele momento presente. Musicalmente é um peso visceral tanto em termos distorção como também da forma como as letras são cuspidas cá para fora. Com raiva, desespero, num conjunto de emoções que nos fazem lembrar de que a música não só serve para inspirar como também como um escape para as nossas emoções mais negras. Aqui há muito por onde pegar e exorcizar. Matéria não lhe falta.
Fernando Ferreira
17 – GHØSTKID– “GHØSTKID”
Century Media Records
GHØSTKID é um novo nome que surge aí, apoiado noutro – Eskimo Callboy. Isto por contar com Sebastian Biesler, ex-membro da banda alemã. A sonoridade, no entanto, é algo diferente. Contamos com alguns dos mesmos trejeitos, partilhados todavia com outras centenas se não milhares de bandas de metalcore/pós-hardcore, onde a melodia dos refrões é sem dúvida um do ponto mais importantes. Com isto não se pode dizer que seja um álbum inteiramente previsível. Até porque há elementos aqui de música industrial que até o poderemos encaixar noutro espectro. Se no conteúdo existem esses elementos imediatamente reconhecíveis, na forma temos uma lufada de ar fresco que até acrescenta um ar mais dançante à previsibilidade dos refrões melódicos. Ok, certas coisas podem soar um bocado queijeiras (para não dizer azeiteiras) mas quando a eficácia é um dos pontos de relevo, tudo o resto deixa de ser assim tão importante.
Fernando Ferreira
16 – Mean Messiah – “Divine Technology”
Slovak Metal Army
Vamos fazer uma experiência. Fazer contas de somar, neste caso específico somar sentimentos. Peguem no sentimento que tiveram quando ouviram pela primeira o “Demanufacture” dos Fear Factory e o “Infinity” de Devin Townsend. E como é smpre perigoso enviar para o ar nomes, é importante referir que é impossível recriar esse impacto mas que “Divine Tecnhology” impressiona pela violência, pelo contraste melódico, pela forma como usa alguns dos elementos industriais para trazer ainda mais poder e groove. E aqueles refrões… parece que colam logo! É capaz de soar a notícias de ontem mas soa tão bem, que isso nem interessa. E como é curto, também é garantido que vamos dar-lhe bastantes rodagens.
Fernando Ferreira
15 – Nibiru – “Panspermia”
Argonauta Records
A música é para ser sentida. Deve ser sentida de forma visceral – mesmo que isso não signifique reacções viscerais – e como tal, por consequência, deverá ser ela própria visceral. Costuma-se dizer que para fazeres com que outra pessoa entenda aquilo que queres dizer, então terás de exagerar. Pois bem, a minha forma de exagerar é apresentar “Panspermia” que é claramente um abuso perante aquilo que a música deve ou pelo menos deveria apresentar. A reacção visceral chegará aqui a extremos, principalmente para quem não gostar da mistura de industrial com sludge e noise. Ao longo de mais uma hora, temos quatro temas que são desafiantes, viscerais (literalmente!) e claustrofóbicos, conseguindo arrancar as mais diversas reacções. O desconforto será comum a todas elas mas haverá aqueles que não conseguem conviver também com elas. Não sendo particularmente resistente a esse desconforto, devo admitir que consegui mergulhar neste mundo bem e apreciar a viagem. Não sendo uma viagem para repetir várias vezes ao dia embora perceba quem queira o desafio contínuo de se esgotar física e mentalmente – talvez até espiritualmente – por algo assim.
Fernando Ferreira
14 – Realize – “Machine Violence”
Relapse Records
Este foi um álbum que me fez recuar uns aninhos. Os Realize surgem-nos referenciados como catalisadores de nomes como Godflesh, Nailbom e Meathook Seed e é algo que faz todo o sentido. Peso omnipresente ao longo de todo o álbum, sem um espacinho que seja para respirar. O industrial (ou pelo menos o tipo de industrial que lembra as bandas atrás mencionadas) surge ao lado de um atmosfera sludge que faz com que o ar se torne mais denso por aqui. Poderá não ser tão maquinal quanto se espera de algo assim, mas é o ser orgânico que faz com que seja mais violento.
Fernando Ferreira
13 – oooOooo – “Advento Refractário”
New Approach Records
E bem vindos ao outro lado. O outro lado do espelho onde nada é o que parece ser e a música é tudo meno acessível. Mas nem por isso menos boa. oooOooo é um projecto cuja peculariedade não fica encerrada na sua designação. O drone e o noise são, à partida uma das suas maiores fontes de expressão mas também temos alguns pormenores de folk que acabam por dar o colorido, essencial, para se destacar de tudo o resto. O facto de termos algumas peças com voz, a declamar poesia, o que ainda acrescenta ainda mais misticismo. Resta dizer ainda que é um duplo lançamento em cassete, sendo também a estreia do projecto no formato físico. Fantasmagórico.
Fernando Ferreira
12 – Metadevice – “Ubiquitarchia”
Malignant Records
Primeiramente editado em formato digital e depois em cassete, “Ubiquitarchia” é o segundo trabalho do projecto Metadevice, a nova expressão musical de André Coelho. A grande diferença, palpável logo na primeira audição, é que este é um trabalho mais acente na vertente industrial e maquinal, onde os elementos mais orgânicos são minimizados apenas por ocasionais da voz. Composto e gravado durante o período de quarentena e confinamento, retrata bem a temática de isolamento e da mercê à tecnologia para subsistir. Como sempre, é recomendado apenas para os amantes das sonoridades mais experimentais, sendo que os apreciadores de noise industrial vão apreciar esta evolução.
Fernando Ferreira
11 – Borgne – “Y”
Les Acteurs De L’Ombre Productions
Engraçado como ainda há pouco tempo internamente fiz uma análise em relação ao industrial dentro do black metal – e como ultimamente temos tido algo tão revolucionário como aquelas propostas de bandas como Thorns nos primórdios do milénio ou até mesmo antes disso. Engraçado porque os Borgne são um duo que junta as duas vertentes na perfeição. Mas antes que fiquem todos entusiasmados, deixem-me avisar do seguinte. Não esperem um “666 International” ou algo do género. A revolução não é propriamente o objectivo destes seis temas. Nem sei se haverá um objectivo definido, a não ser simplesmente de conseguir reunir o melhor de dois mundos. Assim sendo temos um black metal algo melódico (de forma tradicional) com algumas nuances industriais que realmente têm razão de ser. Há um cariz algo progressivo na forma como as canções conseguem levar o ouvinte numa viagem, e apesar de alguns lugares comuns, o proveito é sem dúvida imenso. Não é novidade, mas é bom o suficiente para que lhe queiramos dedicar muitas audições. A novidade está sobrevalorizada de qualquer forma.
Fernando Ferreira
10 – Kekal – “Quantum Resolution”
Eastbreath Records
Sempre achei (e disse algumas vezes) que o rótulo avant garde envolve alguma preguiça. Com ou sem razão aqui cedo à preguiça porque estes indonésios levados da breca só podem tocar avant garde. Dizer que tocam uma espécie de metal industrial tão esquisito quanto melódico e que mesmo assim conseguem trocar-nos as voltas com sequências e riffs que noutro contexto teriam um impacto metálico elevado seria bem mais parvo do que que render-nos ao avant garde. Não é um trabalho fácil de ouvir mas também não é um bicho de sete cabeças e consegue surpreender em muitos momentos. Sim, é esquisito e sim muitas das vezes perde-se em devaneios mas mesmo nessas alturas é uma questão de perspectiva. Quando pensamos que eles estão perdidos, percebemos no reencontro que fomos nós que não tinhamos acompanhado o seu andamento.
Fernando Ferreira
9 – The Machinist – “I Am Void”
Edição de Autor
Já disse isto algumas vezes e volto a dizer, o black metal é dos géneros mais maleáveis e herméticos ao mesmo tempo. O álbum de estreia dos The Machinist prova isso mesmo. Uma blackada bruta com death metal à mistura e com um toque industrial que faz toda a diferença.Não é algo tão sujo como uns Anaal Nathrakh (pelo menos nos primeiros álbuns) mas anda por esses caminhos e conseguem criar uma mística e um ambiente gélido mas ao mesmo tempo com aquele calor do metal extremo. Isto já sem falar nas melodias em tremolo picking altamente memoráveis. A bateria programada dá o toque maquinal e é a base para o feeling industrial que está aqui mas é algo feito de forma sóbria, e que resulta. Em vício!
Fernando Ferreira
8 – Pedigree – “Funeral Child”
Edição de Autor
Metal industrial que se insurge pelos meandros do pós-metal, sludge e alternativo. Demasiado genérico para chegar-se a alguma conclusão? Talvez mas nisto da música (e mais do que nunca) o que interessa realmente é mesmo… bem, a música. E esta fala bem mais alto que tudo o resto e é mais esclarecedora de qualquer outra descrição. Há por aqui aquele ambiente clássico do metal industrial onde a agressão passa para segundo plano, dando primazia à criação de ambientes e grooves. Um groove não dançante. Pelo menos não da forma que se pensa quando o assunto é música electrónica. Não, um groove mais próprio de chill out. Sem ter grandes expectativas devo confessar que este trabalho surpreendeu e fez até rever com atenção os trabalhos lançados dentro do estilo em 2020. Parece-me que será um pequena pérola que poderá ter passado despercebida.
Fernando Ferreira
7 – Black Magnet – “Hallucination Scene”
20 Buck Spin
Industrial nostálgico. Sempre me fez confusão o som electrónico antigo, por ser inofensivo em termos agressivos, mas Black Magnet consegue ir capturar todo aquele espírito do início da década noventa onde o industrial começa a aparecer como algo de impor respeito para quem gosta de peso. Apesar de curto – e de não conseguir perceber se isto é um EP ou um álbum por não ter mais de meia hora – “Hallucination Scene” é daqueles trabalhos que rapidamente nos perdemos em loops contínuos. Portanto, industrial especial.
Fernando Ferreira
6 – Mercic – “Mercic 6 2020”
Edição de Autor
Mercic é um nome que continua a lutar pelo seu espaço na cena nacional. A genialidade do seu mentor está mais uma vez presente em “Mercic 6 2020”. Uma seleção de samples exemplar e adequada, vai abrindo as portas para riffs fortes, criando um ambiente, com todos os ingredientes sonoros do género, tudo com peso, conta e medida, fazendo deste disco mais um passo à frente na carreira de Mercic, a precisar que definitivamente os holofotes se virem para aquilo que é o trabalho de Carlos Maldito.
A abordagem aos tempos atuais é feita sem qualquer subterfúgio. “Fear Takes Control” e “They Cover Your Ears”, são um excelente exemplo disso mesmo. Falta a Mercic uma produção que lhe dê outra força, e que consiga fazer brilhar ainda mais as ideias de composição existentes. É nacional e é mais um produto cheio de qualidade!
Miguel Correia
5 – Gnaw Their Tongues – “I Speak The Truth, Yet With Every Word Uttered, Thousands Die”
Consouling Sounds
E que tal cortar os pulsos? Poderá parecer que é aquilo que a capa do mais recente trabalh dos Gnaw Their Tongues sugere mas não. É mesmo a música que causa esse desconforto, essa claustrofobia e essa vontade (necessidade) de fugir. É algo que não se consegue evitar mas que já se esperava. Esta one-man band já é lendária por apresentar estas paisagens inóspitas e aqui não é excepção. Atenção, não é coisa para os habituais fãs de black metal. Níveis de noise intoleráveis e ainda assim uma tendência para nos deixar presos a ele, como se não houvesse mais nada no mundo a não ser este interminável abismo. Na realidade não há.
Fernando Ferreira
4 – Master Boot Record – “Floppy Disk Overdrive”
Metal Blade Records
Esta foi inesperada. Os Master Bood Record lançam o seu sétimo álbum (pela Metal Blade Records) mas para nós é como se fosse o primeiro. O nome do projecto e álbum (e até os títulos das músicas que nos trazem pérolas como “Fdisk.exe” e “Defrag.exe”) dão indicação de termos informáticos vintage e em termos sonoros, também vamos ao encontro disso, com um industrial que nos remonta aos tempos dos trackers, quando este era um método de composição com bastante sucesso no mundo das produções caseiras. Para quem esteja a temer por ser mais um trabalho de 8-bits, em que se acha piada à primeira e não se volta a pegar nele. Não é o caso, de todo. A abordagem ao industrial é arcaica mas há também um certo toque de metal tradicional e até shredder, na forma como os temas estão construídos. Só por dizer que não tem guitarras. Tudo é midi e tudo é fantástico. Enorme surpresa. Talvez seja apenas para geeks e nerds, mas eu gosto. Se calhar isso também quererá dizer algo…
Fernando Ferreira
3 – Metadevice – “Studies For A Vortex”
Malignant Records
Álbum de estreia do novo projecto de André Coelho (Sektor 204) que nos traz a sua mais recente encarnação de desconforto industrial e noise abrasivo. É pouco para descrever o que podemos ouvir aqui mas é apenas para vos deixar ambientados. Este é, e podemos estar apenas apanhados pelo entusiasmo de estarmos a ter este contacto mais próximo, o trabalho mais completo da sua carreira, conseguindo conjugar diversas facetas daquilo que já fez e conseguindo até um pouco do groove (abrasivo, claro está) de uns Godflesh, por exemplo. Há toda uma violência urbana e decadente que nos é transmitida e que até nos parece que seria perfeita para uma banda sonora. Contando com colaborações distintas como Jonathan HHY (dos HHy & the Macumbas), Miguel Béco (de Atila e Kara Konchar) e com masterização por John Stillings – e já agora, artwork pelo próprio André Coelho – 2020 já começou muito bem para quem precisava daquela dose de barulho vinda do abismo.
Fernando Ferreira
2 – Leeched – “To Dull The Blades Of Your Abuse”
Prosthetic Records
Começamos bem em 2020, com um disco que não é fácil de ouvir. Nada fácil mesmo e é precisamente isso que gostamos nele. Os Leeched trazem-nos ao seu segundo trabalho ainda mais desconforto do que aquele que estavamos preparados. Uma amálgama de peso hardcore com uma abordagem onde o industrial é a lâmina mais afinada, estes dez temas são um verdadeiro desafio. “The Grey Tide” é talvez o primeiro grande momento do álbum (“The Hounds Jaw” é como um aperitivo para o enxoval de porrada que nos é servido nas fuças. Vou ser sincero, é um trabalho tão dificil de ouvir que não sei quantas vezes, após findada esta pequena missiva, vou pegar nele, mas se quiser ser brutalmente espancado, é por aqui mesmo que vou começar.
Fernando Ferreira
1 – Pyrrhon – “Abscess Time”
Willowtip Records
Quando se usam muitas metáforas ou comparações é porque das duas três: ou há preguiça envolvida para não cair no facilitismo do uso das figuras de estilo ou então o impacto é mesmo enorme. Este esclarecimento serve apenas para ocupar algumas linhas antes de dizer que este poderia ser o registo sonoro da possessão Linda Blair pelo sacana do Pazuzu. Desconcertante, caótico e uma das coisas mais extremas que ouvimos nos últimos tempos. Este é um daqueles álbuns que poderá servir de referência como o limiar da música para a javardeira total nem sempre é assim tão fácil de reconhecer. Ou respeitar sequer. Vou ser totalmente sincero, este não é um disco para ouvir todos os dias. É como se fosse ir ao limite, fazer queda-livre sem pára-quedas, sobreviver, despejar as entranhas todas cá para fora e voltá-las a colocar à unha para dentro. Mas é impossível não se ficar completamente derreado com sorriso nos lábios. Ou então simplesmente perguntar-nos “o que raio se passou aqui?!”
Fernando Ferreira