WOM Tops – Top 20 Instrumental Albums 2020
WOM Tops – Top 20 Instrumental Albums 2020
A música instrumental foi a que, inicialmente, me puxou mais para o mundo do metal. Quando a voz era ainda demasiado agressiva para os meus ouvidos, era sempre o instrumental que me conquistava. Temas instrumentais longos ou mais curtos ou até as malfadadas intros, tudo servia para me capturar a atenção. E por isso é que é tão importante por mim este Top, para mostrar que há mesmo muita música boa, instrumental, que merece ser destacada.
20 – Skyfall – “Sleeping Forest”
Trüllpantor Productions
Gostamos de coisas invulgares. É positivo porque serve não só tomarmos contacto com algo para quebrar a rotina, como também nos permite ampliar o nosso conhecimento. Ora, no caso deste projecto instrumental, o que temos não é nada revolucionário, mas desvia-se o suficiente da norma para que se fique agradavelmente surpreendido. Metal sinfónico a ir beber muito do black e death metal melódico da década de noventa (principalmente death metal) e que consegue agarrar o ouvinte de forma eficaz. Se calhar a comparação mais próxima que temos será com Therion ali por alturas do “Theli”, principalmente pelos arranjos de teclados. E soa sempre bem. No final podemos ter alguma dificuldade em apontar esta ou aquela faixa, mas como um todo é um trabalho bastante sólido.
Fernando Ferreira
19 – Myth Of I – “Myth Of I”
The Artisan Era
Myth of I é um projecto proveniente da Berklee College of Music (dos E.U.A.), considero o som deles Metal progressivo e experimental. Som instrumental, bem elaborado, com excelente trabalho de teclas e guitarra, sem dúvida bastante melódico. Sendo apenas instrumental e não existindo um vocalista, os temas são construídos de forma inteligente e complementam-se entre eles, sendo este um bom projecto para se ouvir num ambiente mais calmo e relaxante. Recomendo a fãs de Yngwie Malmsteen e Liquid Tension Experiment.
Nídia Almeida
18 – Christian Muenzner – “Path Of The Hero”
Shredquarter Records
Devo dizer desde já que esta capa é fantástica. Para quem gosta de coisas de fantasia. É também uma capa que não é propriamente reveladora do que podemos encontrar aqui. Isto para quem não sabe de quem se trata o amigo Christian Muezner, ex-Obscura e ex-Necrophagist, actualmente nos Eternity’s End e Alkaloid. Para quem já o conhece já sabe que vai ter perante a frente um álbum de shredd que tanto vai do neo-clássico ao Jazz. Shred puro, como se estivessemos na década de oitenta. Confesso que é um estilo que me atrai bastante mas que compreendo que muitos não lhe sintam especial atracção, já que esta costuma ser rotulada como música para outros músicos apreciarem. E aqui essa parece ser mesmo a intenção do músico, ir buscar aquele feeling tão próprio da Shrapnel na década de oitenta. Totalmente atingido. Conta com elenco de luxo também, com companheiros das suas antigas e actuais bandas a marcarem presença.
Fernando Ferreira
17 – Gjoad – “Samanōn”
Antiq
Impressionante álbum de estreia desta entidade que se assume como rock mas que vai tão além disso que nem sequer consigo conceber a associação do rótulo a este álbum. A guitarra é importante sem dúvida, mas mais ainda é a percussão que nos remete para rituais primitivos, a par do baixo, discreto mas essencial para alguns dos momentos que se pode encontrar por aqui. Assim como toda a componente atmosférica através de instrumentos que soam, neste contexto, completamente assombrosos. É um álbum instrumental (não ligando à spoken word de “Gartsang”) mas que fala (grita!) por todos os seus poros. É magia em forma de música. É rock, é pós-rock, é folk, é ambient. É mágico!
Fernando Ferreira
16 – Hayvanlar Alemi – “Psychedelia In Times Of Turbulence”
Subsound Records
Nunca um título nos soou tão real e acertado. Psicadelismos em tempos de turbulência é mesmo o que precisamos. Não temos muito conhecimento da cena turca mas parece que os Hayvanlar Alemi causam um impacto positivo para que fiquemos muito bem impressionados. Sonoridade instrumental, com rock psych a comandar os destinos mas sem se fixar muito nesse estado de espírito. A coisa funciona bem, e é fácil voltarmos a estes temas regularmente. Talvez não exista um tema que se destaque mas este é um álbum que funciona como um todo. Lembram-se dos álbuns, certo? Aquelas coisas onde existe mais do que uma música de uma só banda.
Fernando Ferreira
15 – Nuit D’Encre – “Sans Maux Dire”
Edição de Autor
Não há muitas informações acerca deste trabalho a não ser que é um projecto francês instrumental que anda algures entre o doom e o pós-metal instrumental. Em termos sonoros, dá-nos muitos repentes do que os Karma To Burn fazem se não estivessem a demonstrar que se estavam a divertir. O tom aqui é soturno e sério mas isso não diminui o groove dos riffs ou a validade das atmosferas criadas, sufocantes mas envolventes ao mesmo tempo. Por falar em atmosfera, o tom frio e desolado da capa acaba por ir ao encontro do que se pode ouvir aqui. Estreia discográfica que nos surpreendeu pela positiva.
Fernando Ferreira
14 – Mothers Of The Land – “Hunting Grounds”
Edição de Autor
Depois de três demos na primeira década do milénio, os Fastian Pact apresentam um álbum que parece que até é mais antigo, vindo da década de noventa. Aquele black metal ligeiramente melódico ainda que algo cru. Tem um encanto muito próprio. Encanto do passado mas que é válido tanto agora como o seria na altura. Talvez este seja um trabalho que está voltado para o passado, não existem dúvidas em relação a isso… no entanto, não deixa de ser inegavelmente cativante e eficaz. Uma boa surpresa a provar que por vezes as expectativas crescem e são correspondidas.
Fernando Ferreira
13 – Collars – “Tracoma”
Karma Conspiracy Records
Trabalho de estreia dos Collars, banda onde pontuam membros dos Ornaments e Nadsat. Paisagens sonoras muito interessantes, onde o pós-metal se funde com um espírito mais prog e até algo doom para nos trazer temas instrumentais que nos fazem perder fora do nosso corpo – sempre a melhor forma para se ficar desorientado. E não, não é de uma forma negativa. Com o recurso a riffs e melodias invulgares, este álbum serve como veículo para deixar sair os sentimentos mais recalcados sem que se dê conta. Mantras, ora mais suaves, ora mais violentos, que nos conduzem exactamente aonde devemos ir, mesmo que esse sítio seja desconhecido. Que provavelmente será. Não é uma viagem alegre mas isso não lhe retira a validade.
Fernando Ferreira
12 – Mitochondrial Sun – “Sju Pulsarer”
Edição de Autor
O projecto a solo dos Niklas Sundin, entrou em 2020 a todo gás, sendo também este o ano em que o guitarrista saiu dos Dark Tranquillity. Entrou a todo o gás, porque este é já o segundo álbum sendo que a estreia aconteceu em Fevereiro – apesar de ser lançado de forma digital agora, em Fevereiro de 2021 será lançado em CD pela Argonauta Records. Apesar de ser um álbum curto e instrumental, tem uma coesão impressionante, tão coeso que se torna difícil distinguir um dos outros. E isto aqui é um elogio, embora noutros casos não seja o caso. É um trabalho que deve ser para ouvir por inteiro e de seguida. Componente atmosférica muito forte e com piscadelas ao black e ao death metal, que faz com que seja muito fácil voltarmos a dar mais uma volta (ou duas) com gosto.
Fernando Ferreira
11 – Automatism – “Immersion”
Tonzonen Records
Apesar do nome da banda, este álbum é tudo menos fruto de automatismo. A não ser que a excelência seja automática. Rock instrumental a puxar ao progressivo e também ao psicadélico (apenas ao de leve), com um título de álbum também a revelar-se totalmente apropriado já que facilmente nos vimos imersos neste conjunto de temas que nos vão seduzindo lentamente. Não é exuberante mas é discreto. Dissimuladamente discreto já que pela calada nos vais conseguindo conquistar sem darmos conta disso. Quando se dá conta, já é demasiado tarde. Também não há problema porque já não queremos também arredar pé.
Fernando Ferreira
10 – Bismut – “Retrocausality”
Lay Bare Recordings
Certa música nova parece que nos chega mesmo no momento indicado. Não quero ser muito metafísico mas este novo álbum dos Bismut calhou mesmo bem. Verão, calor, fechado em casa para estar a ouvir álbuns e a preparar reviews (obviamente também a escrevê-las) e a ter este trabalho como banda sonora parece-nos mesmo perfeito. São mais de setenta minutos instrumentais, do mais honesto que pode haver, em estilo jam. Flui tão bem como água a cair de uma cascata. Para quem gosta de deambular perdido em notas musicais, quem gosta de temas instrumentais, não há como negar que este é um grande álbum rock, a pender ao psicadélico, ou ao stoner, mas ainda assim, rock!
Fernando Ferreira
9 – Pyrior – “Fusion”
Tonzonen Records
Fusion baby! Se pelo o título pensam que estamos a falar de uma qualquer esquisitice que apenas alguns iluminados conseguem alcançar, esquelam. Os Pyrior regressam com um quarto álbum onde o groove do stoner instrumental dão-nos o balanço para uma bela viagem por esrtadas portuguesas com altas temperaturas. No entanto, o conceito do disco é mesmo fundir todas as influências sonoras de cada um dos membros da banda. Curiosamente, o que poderia resultar num puzzle desconexo, dá-nos uma obra sólida e à qual vamos queremos voltar muitas vezes.
Fernando Ferreira
8 – Aadal – “Silver”
Apollon Records Prog
Suave, bem suave. Os Aadal desafiam a categorização mas essa é uma preocupação que desvanece logo no início. Mesmo que seja uma preocupação que é importante para mim, tentar definir o que temos aqui. O melhor é mesmo dissecar. Encontramos composições instrumentais que até se poderiam inserir no contexto do progressivo ou art rock, não fosse a inclusão de um saxofone, que dá um colorido bem específico e especial. A suavidade e a beleza que ela traz é mesmo o argumento que mais nos fica. Não será algo que fará todos ficarem a vibrar à primeira e até poderá ser considerado quase como easy-listening ou música de ambiente – acho que música de elevador é um bocado insultuoso. Seja como for, entranha-se bem depressa.
Fernando Ferreira
7 – Zombi – “2020”
Relapse Records
Regresso do duo norte-americano Zombi, com o seu synthwave rock, sempre com grande impacto principalmente para quem gostar das velhas bandas sonoras de filmes de terror italiano da década de setenta e oitenta, sendo que Goblin será sempre uma incontornável referência. Este regresso após um silêncio de cinco anos é mesmo aquilo que antecipávamos, e até mais. Envolvência que vai muito mais para além da simples música movida a sintetizadores. Longe de ser plástico e estéril, “2020” é bem orgânico e conserva intacta a capacidade de nos criar imagens cinematográficas em cada tema. Para os amantes de banda-sonoras e de synthwave, não há discussão em relação à recomendação, mas para quem gosta de prog instrumental, poderá encontrar aqui uma boa surpresa.
Fernando Ferreira
6 – Neànder – “Eremit”
Through Love Records
Depois da estreia no ano anterior, os Neànder regressam para a segunda dose de doom metal monolítico e, de certa forma, atmosférico, com retinques de pós-metal ou pós-rock, pelas ambiências e tapeçarias que conseguem criar com a sua música instrumental. A beleza (e a beleza poderá assumir-se das diversas formas, dependendo sempre da perspectiva de quem a aprecia) é mais que clara mas as emoções não caminham pelos caminhos já muito explorados dos géneros atrás enunciados – embora os crescendos e os climaxes também sejam armas utilizadas amiúde. São quarenta minutos instrumentais de puro prazer.
Fernando Ferreira
5 – Long Distance Calling – “How Do We Want To Live”
Insideout Music
É uma pergunta pertinente, não é? Como é que queremos viver? Não é uma pergunta para a qual tenhamos propriamente uma resposta. Para quem a procura neste álbum, provavelmente também não as terá já que a música dos Long Distance Calling tende a deixar no ar as perguntas e a deixar as resposta por quem ouve. A beleza instrumental já se sabe que é um dado adquirido pelo que há aqui momentos de puro brilhantismo. A curta “Fail/Oportunity” é apenas um pequeno exemplo num álbum cheio de coisas boas, quase uma hora onde somos convidados a fechar os olhos e a voltarmos a atenção para dentro. Não é certo que resultem daí alguma evolução ou descoberta espirital que nos permita olhar para a vida de forma diferente mas decidamente que vamos apreciar a viagem e a achá-la memorável.
Fernando Ferreira
4 – Spectrale – “Arcanes”
Les Acteurs de L’Ombre Productions
Este projecto a solo de Jeff Grimal é impressionante. Poderá não ter, na prática, algo relacionado com o metal, já que se trata de música acústica mas mesmo assim. Mesmo sendo acústica, não deixa de ter uma mística impressionante. Uma ambiência muito própria, quase mágica, que é não só memorável como também marcante. Remete-nos para um universo muito próprio (e muito saudoso) por parte de outros projectos como os nossos Dwelling, sendo que a diferenciação é que não há voz e é a música a ecoar e ressoar dentro de nós. Um álbum do qual não nos cansamos de ouvir e uma das grandes surpresas do ano.
Fernando Ferreira
3 – WuW – “Rétablir L´Éternité”
Prosthetic Records
Mais uma bomba para a mesa do canto, se faz favor. É o que se pede, ainda que inconscientemente antes de receber este álbum nas mãos e quando já se deseja por algo especial, algo marcante. “Rétablir L’ Éternité” é o resultado a essas preces. Um álbum instrumental, como aquelas imagens sem qualquer tipo de diálogo ou voz narrativa porque elas falam mais alto do que qualquer palavra. Neste caso concreto é mesmo a música que fala mais alto. Mais alto e tem um impacto também mais profundo. Sem margens para dúvidas e sabendo que será um dos álbuns mais injustamente ignorado do ano, vivamente aconselhado. Obrigatório mesmo!
Fernando Ferreira
2 – Toundra – “Das Cabinet des Dr. Caligari”
InsideOut Music
Este é um álbum atípico dos Toundra. Atípico pela forma como é sentido pela própria banda. Surgiu do desafio de integrar a música da banda no clássico do cinema que dá o título a este trabalho e como tal a banda saiu fora do seu plano habitual de música para mergulhar neste plano conceptual. Sou da opinião que em termos criativos, uma banda só tem a ganhar em sair da sua zona de conforto. E sim, estamos já a adiantar que foi uma aposta ganha. As paisagens são aquelas que se esperaria da banda espanhola, embora com um outro objectivo que se nota desde o início. É uma viagem diferente daquela que estamos habituados mas nem por isso menos proveitosa.
Fernando Ferreira
1 – Pixie Ninja – “Colors Out Of Space”
Apollon Records Prog
Dos Pixie Ninja espera-se sempre algo especial. O impacto do eu álbum de estreia foi enorme e a nossa expectativa não foi abalada por este “Colors Out Of Space”. Se calhar estão a reconhecer o título, já que houve recentemente um filme como o mesmo título de Nicholas Cage. Um filme de terror inspirado por H.P. Lovecraft, a mesma inspiração que temos aqui. Instrumental mas com uma enorme atmosfera que dispensa palavras, este álbum é daqueles que nos faz perder no tempo e ao qual queremos sem dúvida voltar. Sem esperar grande tempo. Poderá parecer um bocado extravagante ou experimental, mas deixem-se de resistências e deixem-se ir no doce abraço eterno de Cthtulu. Perdão, dos Pixie Ninja.
Fernando Ferreira