WOM Perfil – Christophe Szpadjel: Lord Of The Logos
Christophe Szpadjel é um dos nomes mais emblemáticos do mundo da arte na música extrema. Concentrando-se nos logotipos, o artista belga é um dos principais responsáveis pelo florescer da arte de fazer logos – o título de “Lord Of The Logos” não surge por acaso – e tem já para cima de treze mil logos. Confidenciou-nos que tem grande parte dos seus logos arquivados em dossiers em duas estantes na sua casa. A World Of Metal foi falar com Christophe para tentar apurar a sua forte ligação ao nosso país e à nossa cultura, metálica e não só. A viver em Exeter na Inglaterra, Christophe confidencia-nos que a bicicleta é o seu principal meio de transporte, algo que nos parece hoje em dia algo impossível de ter, tal é a nossa dependência dos automóveis. A falar um português perfeitamente perceptível, ainda que carregado com sotaque, dá-nos desde o início a noção de que a sua ligação ao nosso país é já antiga.
Remonta até aos tempos em que, estando a colaborar na zine belga Septicore e onde fazia tape trading acabou por iniciar conversações com um tal Tetragrammaton (mais tarde conhecido como Ares) e iria oferecer-se para fazer o logo da sua banda de então, Morbid God. Estávamos em 1990. Christophe também revela que enviou duas cartas, cada uma com uma proposta de logo. Para os Moonspell, assim como para Filii Nigrantium Infernalium, sendo que para Filii, o trabalho baseou-se uma reformulação daquilo que Belathauzer pretendia. Confirma também a troca de correspondência com J.A. dos Decayed onde recebia folhas de jornais pornográficos, tendo sido esse o primeiro contacto mais próximo com a língua portuguesa.
Conversador nato, e com muito conhecimento sobre tudo, Christophe até nos revelou especialidades culinárias tal como o melhor pastel de nata que comeu, numa pastelaria no Porto ou ainda das experiências que teve nas nossas cidades, referindo nomes míticos como o Gingão no Bairro Alto. A sua ligação ao underground nacional deu-se de forma bastante acentuado, tendo referido contactos com a Thrash Publishing (mítica fanzine açoriana, mais tarde distro nacional criada e fomentada por Mário Lino) e num curto espaço de tempo referiu bandas que o marcaram, bandas do nosso underground, Desire, Thormenthor, Nameless, Bizarra Locomotiva, Mata Ratos, Trinta e Um e Martelo Negro referindo também especial paixão pela cena da Républica Checa e América do Sul. A sua paixão pelo nosso país dá-se principalmente pela cultura do sul de Europa, mediterrânica, que sempre o cativou do que propriamente a escandinava, quebrando com o mito em relação à proximidade à cena de black metal do norte da Europa.
O início de tudo deu-se com uma banda finlandesa chamada Disgrace precisamente em 1989, curiosamente uma banda que começou como death metal e viria a aproximar-se do punk rock de origem mais alternativa até cessar funções. O impacto que as primeiras bandas de metal extremo como Possessed, Master e Hellhammer (as bandas que afirma serem o protótipo de metal extremo) tiveram em si, tanto a música como os seus logos, fez com que quisesse dedicar as suas energias a esta arte. Apesar de ter abandonado a webzine por falta de tempo devido aos estudos – Christophe formou-se em biologia florestal – nunca perdeu de vista a música extrema. Outra das paixões que revela ter, logo pela forma apaixonada como fala, é em relação à história, algo que também é visível perceber nos seus logos, nos diferentes traços que vai fazendo.
Emperor e o álbum “In The Nightside Eclipse” foram o principal motivo da explosão do seu nome no underground, um logo simples mas que é marcante, talvez o seu maior orgulho, mas também refere os Covenant, Firstborn Evil , Old Man’s Child, Holocausto Canibal, Flagellum Dei, Toxic Attack e Corpus Christii, como pontos de referência no underground nacioal e internacional. Quando questionado se alguma vez tinha pensado em fazer um artwork de um álbum para além do logo, refere que de facto tentou mas que depressa desistiu, sendo algo que além de ser moroso, também não era bem aquilo que lhe dava maior prazer. Citou ainda Paulo Coelho com a frase “Um dia acordas e descobres que já não tens tempo para fazer tudo o que sempre quiseste, faz agora.” e fez a ligação do apelido com André Coelho, conhecido artista gráfico português que, curiosamente, também tem outra ligação com Christophe através dos Tormentvm, a primeira banda do qual o artista foi vocalista no início do milénio.
O trabalho como criador de logos mantém-se como um hobby, como refere, uma paixão onde se sente como uma forma de comunicar e extrapolar sentimentos. O objectivo em relação a esta paixão é a de levar cada vez mais longe, tentando repetir os trabahos que fez com os Metallica, Foo Fighters e Rihanna. Com diversas exposições um pouco por toda a Europa e com já com o seu trabalho publicado em pelo menos dois livros, “Logos From Hell” de Mark Riddick e o seu “Lord Of The Logos”, o artista revelou que já por diversas vezes tentou ter uma exposição em Portugal, para além daquela que teve no SWR Barroselas de 2016 mas que as mesmas saíram goradas por diversos motivos, mas demonstra uma convicção apaixonante, afirmando que vai tentar até conseguir, algo que o seu talento merece definitivamente.
A sua ligação a Portugal ainda lhe cria um sorriso cada vez que se lembra, ficando também marcado pelos letterings que as imagens evidenciam. Por isso candidatou-se para o Zaratan Air, de forma a cumprir o sonho de ter o seu trabalho exposto no nosso país, beneficiando de uma maior exposição. Este é um dos pontos em que está neste momento a apostar, procurando ajuda e apoios para tal.
Christophe é uma pessoa simples que raramente pediu alguma coisa em troca dos milhares de trabalhos que fez. E esse trabalho ficou para sempre imortalizado e ligado ao metal. Podem seguir o trabalho dele no Facebook, Instagram ou no seu site oficial.
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