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WOM Reviews – Grieve / Faidra / Nullingroots / MROH / Luctus / Cursed Be Thy Flesh / In Divenire / Revenge

WOM Reviews – Grieve / Faidra / Nullingroots / MROH / Luctus / Cursed Be Thy Flesh / In Divenire / Revenge

Grieve – “Grieve”

2020 – Werewolf Records

Há músicos que, possuidores de uma quase infindável aptidão criadora, nos obsequiam “periodicamente” com mais representações musicais dessa mesma capacidade. Por norma a cena Black Metal finlandesa é daquelas que, time and time again, nos prova que há solos que são mais férteis que outros.

Werwolf, Spellgoth, V-KhaoZ e Valtias, todos eles de projectos com créditos mais que firmados no que ao Black Metal se refere, uniram-se com vista a criar mais uma “besta”. Grieve apresenta-nos o seu EP estreia. Duas músicas é quanto basta para percebermos que estamos perante mais um trabalho de altíssima qualidade.

Na linha da belíssima escola finlandesa, estes 2 temas têm aquele aroma a Black Metal Atmosférico, sem perder o Norte e uma estrutura típica do Black Metal clássico finlandês. Tem melodia até mais não. Aquela melodia doce, mas gélida, bem cravada no trabalho de guitarra: delicada mas bem marcada! Raios partam o “pequenino”!

Não venham a contar com Beherit ou Archgoat. Não é essa linha de Black Metal clássica – como posso ter dado a entender, quiçá erradamente – mas sim uma mais próxima de uns Satanic Warmaster ou Horna, com imensa melodia, bastante mais próximo de uns Goatmoon, mas com menos incidência no Folk. É o Sr. Werwolf, e quer se goste dele, quer não, ele é bom músico e já o provou mais que uma vez. Estes Grieve são mais uma adição ao seu já longo curriculum, não deixando em evidência o seu criador. Isto é Black Metal como indicam as regras, straight to the point, sem grandes artifícios ou tratamentos! Há também recurso a sintetizador… SOLD!

Senhores e senhoras… Black Metal.

9/10
Daniel Pinheiro

Faidra – “Six Voices Inside”

2020 – Northern Silence Productions

Misteriosa banda (ou projecto, é misterioso o suficiente para não termos a certeza deste ponto) sueca que traz um álbum de estreia de black metal atmosférico à antiga. Cru, bem cru mas com grande qualidade nas músicas que apresenta. É o caso, raro para os meus gostos pessoais, onde a produção podre é uma enorme mais valia para o resultado final. Apesar da sua melodia (melancólica) há toda uma aura de negritude que é palpável. Negritude e desespero que são atenuados pela nostalgia que é ouvir aqueles arranjos de orgão que fazem lembrar Burzum. Para quem é negro como o tinhoso mas ainda tem um coração capaz de verter uma lágrima, recomendado.

8.5/10
Fernando Ferreira

Nullingroots – “Malady’s Black Maw”

2019 – Casus Belli Musica & Beverina

Admitam lá. Se forem ao Metal Archives e verificarem que está lá que os Nulingroots estão como pós-black, shoegaze, que se metem a milhas. Não posso falar pelos quatro álbuns anteriores, mas este aqui demonstra algo mais do que o temível blackgaze. Não é que a ambiência e a melodia não estejam aqui presentes em profusão, mas porque não chamar atmospheric black metal (um rótulo que a própria editora usa)? Bem, rótulos aparte, é um trabalho longo mas cheio de momentos de alto interesse. A melancolia é uma constante, mas este não é um álbum de lamentos contínuos, já que esse melancolia surge da melhor forma, e sempre acompanhada pelo aquele teor metálico que tanto gostamos – neste caso concreto, muito graças às vocalizações gritadas de Cameron, o frontman que começou por ser o principal centro da banda, nos tempos em que era uma one-man band. Beleza fantástica e vício. Chegámos agora a ele mas se tivessemos chegado a tempo, teria entrado para o nosso top 2019, definitivamente.

9/10
Fernando Ferreira

MROH – “The Story”

2020 – Edição de Autor

Estreia discográfica dos MROH, uma banda russa que começa uma carreira em grande. Apesar do black metal estar na base do som, o potencial melódico destas músicas faz com que o seu alcance seja bem maior. Há inclusive aqui elementos de death e até doom metal, onde a melancolia acaba por ser outra característica proiminente e aquilo que realmente faz o grande impacto neste trabalho. A banda também lançou uma versão instrumental que acho que também será igualmente boa, mas a voz acaba por trazer uma poder extra. Não será indicado para os fãs de black metal, já que os elementos estranhos ao género poderá fazer com que percam interesse, mas quem gostar de death/doom e black melódico, é simplesmente perfeito.

9/10
Fernando Ferreira

Luctus – “Užribis”

2020 – Inferna Profundus Records

Formados em 2001, por Kommander L., os Luctus tornaram-se uma força a ter em conta na cena Black Metal. Com três álbuns editados, este “Užribis” vem consolidar a capacidade criativa da banda. Ponto a favor: o recurso à língua mãe. Ponto a favor!

Dono de uma sonoridade diversa q.b., a banda consegue imprimir na sua sonoridade um dinamismo bastante natural. Há Black Metal, obviamente, mas há também momentos imersos em Death Metal e Thrash Metal, quer sejam as vocalizações, ou mesmo estruturas rítmicas.

“Kas Tu Esi”, um arrastar, bem no final, dá uma aura imensa à música. “Uzribis” e a sua cavalgada, as guitarras “cheias”, bem Death Metal, acompanhadas por vocais quase cantados… uau! Prolonga-se e prolonga-se, mas não se torna enfadonho, muito pelo contrário. Bastante, mas bastante sólido, este tema. E estes Luctus são, na minha opinião, daquelas bandas que consegue, sim, criar momentos bastante compostos, bastante sólidos, mas não me conseguem convencer, na totalidade, com o conjunto de temas que é um álbum. Considero que o salto qualitativo, do anterior para este, é significativo.

É Black Metal muito competente, que não haja dúvida alguma de tal. Prima por, como já foi escrito, ter momentos em que se devia da “fórmula” e arrisca, aqui e ali, a inclusão de elementos externos, o que na maioria das vezes resulta. Adoro que o baixo seja tão cheio e presente! Não se esconde detrás de uma muralha sonora, marcando uma posição. A nível de produção, é “crystal clear”. Porventura este será um dos pontos que me afasta, há já uma série de anos deste Black Metal mais… “mainstream”: demasiado limpo e perfeitinho.

Ainda assim, este álbum é muito consistente e bem estruturado. Será a minha linha de Black Metal?! Não, não o é, mas não invalida que seja um álbum muito bem conseguido. Arrisca, isso sim, a passar longe dos radares do pessoal… ou não. De qualquer modo, é um álbum ma checkar por todos aqueles que gostam do que é feito no Leste.

7/10
Daniel Pinheiro

Cursed Be Thy Flesh – “The Ritual Album”

2020 – Anti // All-Forever

A estreia dos Cursed By Thy Flesh é algo confusa. Não temos dúvidas nenhumas que se trata de black metal – aliás a capa também não deixa nenhumas dúvidas a esse respeito – no entanto, ao ouvirmos este álbum reparámos que parece trazer várias facetas. Costuma-se dizer que são várias facetas da mesma personalidade, mas ouvindo uma “Witching Hour” e depois passar para uma “Do Not Pray” ou até mesmo para o tema título, parecem bandas completamente diferentes. Ter dinâmica é sempre bom mas em “The Ritual” parece-nos diversividade a mais faltando formar uma identidade mais sólida. Quem for fã do género, tem vários estilos a escolher. O meu favorito foi mesmo da já citada “Witching Hour” e da “Disease Flow Through”.

6.5/10 
Fernando Ferreira

In Divenire – “Servi Della Carne”

2020 – Schizzonero Records

In Divenire, um nome desconhecido da maioria de nós, apresenta o seu primeiro trabalho de nome “Servi Della Carne”. De origem italiana, pouca informação consegui obter acerca da banda. 4 músicos, dos mais variados backgrounds, mas com uma paixão em comum: o Black Metal. O facto de não serem única e exclusivamente músicos – e ouvintes – de Black Metal, proporciona, ao seu som, toda uma panóplia de sonoridades que, quando compostas num só, formam um som distinto.

É interessante perceber que há uma essência bastante latina, diria. Tal como muitas das bandas helénicas ou nórdicas, em que se consegue discernir uma linha musical muito específica de um país, de uma cena, de uma mesma origem, estes In Divenire passam-me o mesmo tipo de informação, em muito devido à sonoridade “quente” e mediterrânica, por assim dizer.

Na sua génese é Black Metal clássico. Não há grandes inovações, grandes “going beyond”. Há sim, e como referido acima, elementos mais abrangentes. Há características mais Death Metal ou mesmo Progressivo, mostrando que as bases são muito mais abrangentes que só Black Metal. Isto leva a um dinamismo e quase constantes transições, dentro de cada um dos temas. Tem momentos interessantes, tem outros que não prendem, no geral é um álbum agradável e bastante fluido. Os pormenores que mais me agradaram foram, sem dúvida alguma, aqueles que mais se assemelham ao que foi o Black Metal nos anos 90, especialmente com detalhes onde sim, o “factor mediterrânico” se nota mais. As vocalizações são bastante favoráveis para o “cenário” que os músicos criam em cada tema, quase como que um Mestre de Cerimónias. Não provocou grande mossa, mas deixa-me curioso para o que está para vir.

6/10
Fernando Ferreira

Revenge – “Strike. Smother. Dehumanize”

2020 – Season Of Mist

Os revenge são um caso paradoxo para mim. Se por um lado gosto da forma como, de uma certa forma obsessiva compulsiva, gerem a sua carreira e como dão títulos aos seus álbuns por outro o seu som é aborrecidamente linear e unidimensional, uma mistura podre entre o death e o black metal. E ao que parece, sou das poucas pessoas que pensa assim no underground, já que esta é uma banda extremamente adorada. Sem querer juntar-me qualquer tipo de tendência, posso dizer que este trabalho até me conseguiu surpreender pela positiva, mesmo sem ter nada que o distanciasse de todos os outros a não ser talvez uma produção mais límpida – se é que é algo que podemos dizer de um álbum dos Revenge – e uma abordagem mais próxima do death metal do que é habitual. Já é uma surpresa positiva. Qualquer dia gostamos disto.

5/10
Fernando Ferreira

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