WOM Reviews – Wicher / Nytt Land / O Gajo / Massimo Pupillo & Mártin Csókás & Gabriele Tinti / Infinity Shred / Drug Church / De Press / Bornwithhair
WOM Reviews – Wicher / Nytt Land / O Gajo / Massimo Pupillo & Mártin Csókás & Gabriele Tinti / Infinity Shred / Drug Church / De Press / Bornwithhair
Wicher – “Czary I Czarty”
2021 – Godz Ov War Productions
Sabendo que não se deve fazer isto… tenho que perguntar já no início… estará aqui o álbum folk de 2021? Muito provavelmente. Folk não é apenas pegar nas melodias ancestrais às quais estão ligadas imagens épicas que nos foram passadas em filme, contos, histórias, livros. É transportar-nos literalmente para outros tempos, para outras vivências, para o misticismo do ser, a sabedoria que em parte foi perdida e/ou desconsiderada em face à “evolução”. Claro que um simples álbum não inverte esta tendência mas é a atmosfera criada que nos faz sentir gratos porque apesar de tudo o que perdemos, não perdemos esta capacidade de perpetuar a cultura musical – ainda que seja para um nicho reduzido, não interessa. Em relação à pergunta feita no início, creio que a resposta é um sim sem contemplações.
9.5/10
Fernando Ferreira
Nytt Land – “Ritual”
2021 – Napalm Records
Folk ou world music, é um dos estilos musicais mais preciosos. Não é só perpetuar as tradições e culturas ancestrais mas como também dar a conhecer – já não há espaço para mentes fechadas que continuam a negar que o intercâmbio de culturas é o único caminho para a aldeia global onde vivemos. As expectativas que surgem a cada álbum dos Nyhtt Land nunca são defraudadas e “Ritual” não é excepção. A percussão, a ambiência e sobretudo o trabalho vocal – onde a assombrosa técnica de gutural de Natasha “Baba Yaga” Pakhalenko e Anatoly “Shaman” Pakhalenko é o grande e óbvio destaque. Um trabalho místico, a explorar a mitologia nórdica e a resultar numa peça assombrosa de música. Facilmente um destaque folk para 2021.
9/10
Fernando Ferreira
O Gajo – “Longe do Chão”
2017/2021 – Rastilho
O Gajo é um senhor Gajo. É mesmo um Gajo com “G” maiscúlo. A sua música transpira o espírito lusitano. Não só pelo instrumento, a viola campaniça, mas como pela riqueza e emoção que consegue trazer sem o auxílio de outros instrumentos. Esta reedição por parte da Rastilho reapresenta o álbum editado em 2017, o seu primeiro e numa altura em que o alcance (e interesse por parte do público) será muito superior ao de quatro anos atrás. Para quem lhe terá passado ao lado na altura, como foi o caso deste vosso escriba, esta é uma oportunidade única. E vale a pena, um disco que se ouve, que nos faz sonhar e suspirar, que se sente como nosso, português, sem sentimentos bacocos de patriotismo. É parte integral da nossa identidade que está aqui representada, sentimento crescente a cada audição.
9/10
Fernando Ferreira
Massimo Pupillo & Mártin Csókás & Gabriele Tinti – “Embrancing The Ruins”
2021 – House Of Mythology
E agora algo completamente janado? A jana é muito útil na música, quando bem colhida, os seus efeitos são extraordinários. Para quem não sabe o que é jana, é tudo aquilo fora da caixa mas tão deliciosamente bom que até estranhamos porque é que não está dentro da caixa embora se perceboa que é mais estranho (muito mais) do que o facto de não estar dentro da caixa. Na realidade é tão estranho que quem o fez deveria ter estado sobre o efeito psicotrópicos assim como quem ouve provavelmente também está na mesma condição. Ou estará, depois de passar pela experiência auditiva. Mas de volta a “Embrancing The Ruins”, este é um trabalho que reúne Massimo Pupillo, compositor multi-instrumentista dos ZU, que contribui com música, Gabriele Tinti, escritora e poetisa italiana que contribui com as letras e Mártin Csókás, actor com uma carreira já considerável em Hollywood e que dá voz, em tom de spoken word aos textos de Grabriele. Quatro faixas em quase oitenta minutos de música que não são fáceis de ouvir e em muitos momentos até inquietantes, mas é um twist para o género ambient. Um twist agressivo e inesperado mas ao qual podemos voltar facilmente.
8.5/10
Fernando Ferreira
Infinity Shred – “EP002”
2021 – Edição de Autor
Som retro, com os sintetizadores apontadas para aquela sonoridade tão típica e nostálgica da década de oitenta e uma ambiência cinematográfica que nos traz a sensação de que poderíamos estar perante música que Vangelis no início da sua carreira poderia ter feito. Este trio nova-iorquino sabe como capturar a nossa imaginação e sabe também como veicular as suas emoções através da sua música. Apesar do teor electrónico, é um trabalho que não vai deixar de interessar aos fãs de música progressiva. Um EP que vale a pena conhecer e um cheirinho, esperamos, de ainda coisas mais excelentes por vir.
8/10
Fernando Ferreira
Drug Church – “Tawny”
2021 – Pure Noise
Os primeiros segundos de “Head-Off” apresentam uma batida forte que me faz pensar de que estamos perante um hardcore danado para a porrada. Algo longe do que “Tawny” é, embora tenha uma componente noise interessante, mas o seu pedigree situa-se no rock indie e alternativo ultra melódico. E esta atitude javarda faz com que, curiosamente, as melodias ainda soem mais catchy. É como se tívessemos o desejo de Kurt Cobain tornado realidade, vontade de ir na direcção das melodias imediatas e ao mesmo tempo memoráveis. Uma surpresa a cada audição.
8/10
Fernando Ferreira
De Press – “Block To Block”
1981/2021 – Apollon Records/Plastic Head
Quarenta anos e um álbum que não esconde a era onde nasceu mas mantém-se como uma jovialidade fantástica. A banda norueguesa/polaca lançou este “Block To Block” em 1981 que ouve-se tão bem mas tão bem que nem é para estranhar o porquê de ter sido um grande sucesso na música norueguesa. Tanto este como o seu sucessor, “Produt”, embora tenha de confessar que este será superior pela forma infecciosa com que nos fica gravado na cabeça em pouco tempo. Datado mas nem é preciso a perspectiva histórica para lhe darmos valor. Uma peça única e um dos pontos altos do rock (ainda que meio pós-punk) da Noruega.
7.5/10
Fernando Ferreira
Bornwithhair – “When The Witches Fall”
2021 – Trepanation Recordings
Apesar de ser o quarto álbum de originais, apenas agora fiquei a conhecer e talvez não seja de estranhar. Aliás, “estranhar” é mesmo o verbo correcto. A sonoridade é estranha, lo-fi, a puxar a um death rock (ou pós punk) noise, minimalista e psicadélico. Para ser sincero é tão estranho que nem estou muito certo da validade destes rótulos, embora façam sentido a quem ouça “When Witches Fall”. Também poderemos dizer que é uma mistura de Bahaus com King Crimson se os mesmos tentassem (e não conseguisssem) incorporar alguma da ambiência do black metal. A estranheza começa no nome e acaba na música e perante a contemplação da mesma, a música passa ao lado e não marca. Pelo menos não de uma forma positiva. Não nego que ao fim de umas rodagens, o ambiente torna-se peculiar o suficiente para que exista alguma apreciação mas não o suficiente para que seja memorável infelizmente.
5/10
Fernando Ferreira