O Álbum do MêsReview

Álbum do Mês – Março 2021​

Álbum do Mês – Março 2021

Um ano de pandemia, mais coisa menos coisa. Aquilo que eu, pessoalmente, pensava que seria apenas uma pequena questão, acabou por se tornar num monstro que engoliu a indústria musical (entre muitas outras coisas e pessoas) e o qual ainda não sabemos quando é que estará para trás das costas. Felizmente que a boa música, essa, não para de nos chegar aqui ao nosso escritório. Como podemo comprovar, um ano de pandemia pode ter abrandado a música mas ainda não a matou. Celebremos esse facto com vinte mais propostas e um grande álbum do mês.

20 – Christian Liljegren – “Melodic Passion”

Melodic Passion

Um facto interessante que poderão desconhecer. Christian Liljegren já tem às costas mais de quarenta álbuns gravados. Impressionante, não é? Principalmente se para vocês for um nome desconhecido. Bem, se referirmos Narnia, se calhar já fica um pouco mais claro. E a par dos Narnio, o músico também marcou presença numa série de outros temas ao longo de mais de trinta e cinco anos de carreira – mais álbuns que anos de carreira. Essa classe nota-se aqui bem com um rock, ora mais melódico, ora mais pesado, cheio de qualidade. Este é um daqueles álbuns sem momentos mortos e mesmo aqueles mais potenciais para tal, como o “I Breathe” revelam-se sempre fantásticos. Um músico que apesar de já ter dado muito à música, demonstra que ainda tem muito mais para dar.

8.5/10
Fernando Ferreira

19 – Slope – “Street Heat”

BDHW Rec.

Lembram-se do impacto (para quem vivia cena na altura) que um disco como “Blood Sex Sugar Magic” ou um “The Real Thing” teve na comunidade da música pesada? De como soaram refrescantes? Não se se terá sido próximo do que senti ao ouvir este álbum de estreia dos Slope, onde o funk se mistura com o hardcore e soa logo à partida clássico, como se fosse aquele disco que já conhecemos bem sequer antes de o ouvir. E não, não é a mesma coisa que ser déjà vú, é apenas bom demais para não ter sido gravado antes. “Street Heat” impele ao movimento, é dinâmico (alguns temas mais groove soam maravilhosamente cool como a “High Level”) e contagiante na sua eficácia. Uma excelente surpresa, poderá não ser revolucionário, mas é refrescante ao ponto de nos soar dessa maneira.

8.5/10
Fernando Ferreira

18 – Crypts – “Coven Of The Dead”

This Charming Man Records

Com tantos “avantgardes” e “pós-qualquer-coisa” nesta vida, um álbum de estreia como “Coven Of The Dead” soa-nos como ar puro das montanhas para quem esteve fechado numa caverna durante décadas. E não há nada aqui de transcendente. É só death metal. Bem feito, bruto, violento e inteligente. Até logo pelo nome. Existem cento e quinhentas bandas chamadas Crypt no Metal Archives, mas só existe uma Crypts. São as pequenas coisas que fazem a diferença, embora aqui, mesmo que se chamassem Abortification, o impacto ia ser o mesmo. Death metal bruto e especialmente inspirado que mete tudo a mexer. Lugares comuns? Alguns, mas quem gosta de death metal vai gostar e quem não gosta, até poderia ser a coisa mais original do mundo que não continuaria a gostar. Esta é a receita para um álbum de sucesso (quero dizer, não sei se será bem sucedido ou não, mas tem tudo para causar boa impressão na minha opinião), conhece o teu público e faz o teu melhor.

8.5/10
Fernando Ferreira

17 – Nightfall – “At Night We Prey”

Season Of Mist

Confesso que não esperava. Já tinha perdido a esperança nos Nightall há muito tempo. Quero dizer, houve um desinteresse e um afastamento por aquilo que andavam a fazer há já algum tempo mas devo dizer sem cerimónias que este trabalho é bom. É muito bom! É bom ao nível de me obrigar a ouvir a música toda que fizeram, para confirmar o que raio andei eu a perder – ou então para confirmar de que realmente este é um regresso. Não interessa. Sem soar desesperadamente retro, o décimo trabalho da banda grega faz-nos vibrar como se fosse uma banda nova que estivesse a começar e como se estivessemos outra vez de volta à década de noventa. Um entusiasmo quase juvenil que não se consegue recriar. E com coisas assim, só podemos dizer que são mágicas mesmo.

8.5/10
Fernando Ferreira

16 – Wÿntër Ärvń – “Abysses”

Antiq

Segundo álbum deste fantástico projecto (quase) instrumental neofolk/neoclássico, que tem uma beleza que nos abraça e não quer largar mais. Será provavelmente difícil de interiorizar para todos os que gostam de ouvir distorção ou que a componente folk ou mesmo acústica seja acompanhada por algo remotamente pesado, mas ainda assim é impossível não ficar rendido à beleza destas músicas que nos surgem como intemporais – provavelmente seria esse o objectivo. A voz, quando surge, apesar de não ser especialmente usual – destaca-se pela sua peculiaridade mas encaixa-se bem neste contexto.

8.5/10
Fernando Ferreira

15 – Kankar – “Dunkle Millennia”

Einsenwald

Valorosa estreia discográfica dos alemães Kankar, um duo que através dos instrumentos básicos do rock/metal (guitarra, voz, bateria e baixo) conseguem trazer um feeling épico dentro do black metal. Sem grandes “efeitos especiais”, temos um conjunto de temas que vão buscar, com uma boa produção, um feeling clássico do estilo. Os riffs de guitarra são mesmo o ponto mais importante e aquilo que nos guia ao longo de todo o álbum, com os temas a serem curtos – exceptuando pelo épico “Zerfall Des Lichts” – e a optarem mais pelo midtempo de uma forma geral , o que torna a abordagem bem mais interessante. É uma estreia inventiva e que nos dá muito gozo descobrir, faixa após faixa. Não é um trabalho normal de black metal mas é por isso mesmo que se destaca.

8.5/10
Fernando Ferreira

14 – Black Diamonds – “No-Tell Hotel”

Metalapolis

O novo e quarto álbum dos suiços Black Diamonds está pronto a sair e tem data marcada para 12 de março. Pela audição este disco transpira rock’n’roll por todos os poros. Composto por 12 faixas, todas elas cheias de atitude, com melodias daquelas “sing along”, sonoridade muito moderna e claro a influência muito marcada da fase Sunset Strip, faz deste trabalho o digno sucessor de “Once Upon A Time”, lançado em 2017, álbum com que a banda, fundada em 2004 pelo cantor Mich Kehl e pelo baixista Andy Barrels, se afirmou definitivamente na cena internacional e agora fazem também que “No-Tell Hotel”, que conta histórias emocionantes dos seus convidados, seja também uma peça indispensável na coleção de fans do género e da banda.

10/10
Miguel Correia

13 – Primitai – “Violence Of The Skies”

Rock Of Angels Records

Já deve ser um lugar comum bem gasto a quantidade de vezes que digo “excelente surpresa” nas bandas que surgem neste top mas se a sinceridade é um dos pilares daquilo que fazemos, o preço a pagar é a repetição. Os britânicos Primitai – cujo logo até remete para algo mais agressivo – foram uma surpresa a todos os níveis. Primeiro, este é já o seu sexto álbum – e não acredito que esta qualidade tenha surgido apenas agora, de repente e inesperadamente. Segundo, apesar do rótulo heavy/thrash que lhes é colado no Metal Archives, a sua sonoridade até vai mais para campos do hard rock. Agora isto poderia ser um perfeito passo para a desilusão, mas é tudo tão viciante que é impossível não lhe dar o devido valor e reconhecimento. Os refrões (e até os arranjos) gritam pela década de oitenta apesar de terem o seu teor considerável de viscosidade, um bocado de azeite na nossa dieta não faz mal. Muito pelo contrário, até faz bem ao coração. E depois até acaba de forma épica com um tema (”Prophecies”) que parece que não encaixa mas faz todo o sentido. Um vício, garanto-vos.

9/10
Fernando Ferreira

12 – The Generals – “To Hell”

Black Zombie Records

Na minha cabeça, quando ouço o termo Death’n’Roll penso imediatamente em Entombed e Gorefest – em certas e determinadas fase das suas carreiras respectivamente. O que é bom pelo lado de que é algo que aprecio e mau porque pode induzir-me a pensar que se calhar não é nada de novo. Bem, essa é uma categoria que até poderia ter assentado no passado mas que actualmente é ligeiramente desajustada. É death metal sueco, com alguma melodia e sim, com algum daquele espírito gingão do rock’n’roll mas que depressa fica sufocado perante a sonoridade típica do HM2. Death Metal, simplesmente. Este será sempre um pouco fraco ou cego na minha avaliação mas se isto soa tão bem, como é que eu posso fazer outra coisa que não seja louvar? Ao terceiro álbum, julgo que a banda tenha encontrado a sua identidade.

9/10
Fernando Ferreira

11 – Sarkrista – “Sworn to Profound Heresy”

Purity Through Fire

Não queria começar por aqui mas devo dizer que este nome é fantástico, catchy como tudo. Aliás, como a própria música. Poderei ver algum pessoal a ficar não tanto entusiasmado pela forma como temos por aqui alguns lugares comuns do black metal, mas são esses lugares comuns que tornam a coisa realmente interessante. Não a única coisa, claro. São os riffs em tremolo picking a invocar melodias épicas, é a voz com um rasgar constante que convida a que o ouvinte faça o mesmo (ou pelo menos a gesticular sem efectuar verdadeiros danos à garganta). É o sentimento imediatamente reconhecível do black metal (da segunda vaga) que exerce o seu charme e ao qual nós nos vergamos sem hipótese. Não é preciso ser original quando se sabe que o que é bom vive para sempre.

9/10
Fernando Ferreira

10 – Hevilan – “Symphony Of Good And Evil”

Brutal Records

Não conheço a estreia dos brasileiros Hevilan – já lá vão também sete anos – no entanto posso dizer que este trabalho será certamente aquele que os fará atingir um outro nível. Produção extremamente forte, poderosa mas sem desvirtuar que continuamos a falar de heavy/power metal tradicional – com uma vitalidade que até poderá transcender para o thrash em alguns momentos. Em termos vocais, também temos poder, com o timbre de Alex Pasquale a soar como uma mistura de Russel Allen e Jorn. Seja o que for, resulta. Resulta muito bem. Este será um marco do heavy metal de 2021 e a prova de que o termo (género pai da música pesada) consegue apresentar algo moderno e memorável sem desvirtuar aquilo que é. E com isto, sim, também temos direito a baladas a apelar ao azeite interno de cada um de nós mas mais uma vez… resulta. Quando até as baladas são boas, temos algo de ouro nas mãos.

9/10
Fernando Ferreira

9 – Burn Down Eden – “Burn Down Eden”

Kernkraftritter Records

O melhor de ter um nome de banda que é um excelente título de álbum é quando se lança álbuns homónimos. Felizmente esse não é o único motivo de interesse deste terceiro álbum dos alemães, que chegam aqui com um à vontade e desenvoltura própria de quem sabe bem o que quer e sabe como (e acima de tudo, tens as ferramentas à disposição para) o atingir. Death metal melódico mas sem perder a sua capacidade metálica de nos fazer abanar o carolo. Muitos momentos aqui nota-se que este pessoal está-se a divertir à grande – “Bizarre Circus” é fantástico nisto –  e com isso também nos diverte, com um equilíbrio fantástico entre fazer grandes temas, ter o metal a fluir e também ter inúmeros pormenores nas guitarras nomedamente a nível de harmonias.

9/10
Fernando Ferreira

8 – Ghosts Of Atlantis – “3.6.2.4”

Black Lion Records

Os Ghosts Of Atlantis são, à primeira vista, tão misteriosos como o título deste álbum de estreia. Não são tão misteriosos ao ponto de sabermos que esta é a nova banda de Colin Parks (que também está nos Devilment) de Al Todd (ex-Extreme Noise Terror) e de Phil Primmer (dos Sower). E antes que se antecipem, não, não é uma soma dos projectos citados que se pode encontrar aqui. É um metal sinfónico que mistura elementos de death e black metal sinfónico e que funciona muito bem. Aliás funciona tão bem que é um dos gantes destaques do metal sinfónico de 2020, um género que tem já boas propostas em cima da mesa em 2021. Mais do que orquestrações catitas e ganchos melódicos, este é um projecto ambicioso com uma estreia não menos ambiciosa com um conceito rico que transparece para a música. Ah, e a propósito, a banda insiste em não revelar o resultado do título afirmando que é para o próprio ouvinte tirar as suas próprias conclusões. Na minha opinião são coordenadas.

9/10
Fernando Ferreira

7 – Lunar Shadow – “Wish To Leave”

Cruz Del Sur Music

Não vou negar o encanto que o heavy metal vintage surte em mim. Mesmo que não seja verdadeiramente vintage – ou seja, que tenha já uns bons anos em cima. Os alemães Lunar Shadow trazem no seu terceiro trabalho uma verdadeira obra de arte. Onde o o espectro do heavy se amplia tanto como se funde com outros estilos que à partida até entra normalmente em conflito. Algo que poderá não parecer que faça sentido, como as palavras que vem no comunicado de imprensa onde se refere que há por aqui influências indie e pós-rock. Não concordaria exactamente com essas duas designações mas percebo-as perfeitamente. E faz sentido porque há realmente algo de novo, algo que se sente como sendo heavy metal mas como uma faceta quase nova. Um trabalho capaz de deixar os fãs de heavy metal perplexos mas que creio que tem potencial para os enfeitiçar também.

9/10
Fernando Ferreira

6 – Reaper – “The Atonality Of Flesh”

Iron Bonehead Productions

Este álbum tem tanto reverb que depois de acabar, ainda deve ficar uns dez minutos a soar. “The Atonality Of Flesh” é o segundo álbum dos suecos Reaper e é um festim para quem gosta do som da velha guarda sobre a perspectiva extrema e neste caso a perspectiva é a do black metal. O comunicado de imprensa refere os Bathory e é uma referência que faz todo o sentido embora ache que a produção deste álbum é mais podre do que os primeiros álbuns de Quorthon. Mas não basta ser podre, é preciso ter um certo elemento desconhecido para ser especial, um elemento que consigo encontrar à pazada nestes temas. Poderá requerer alguma habituação este nível de sujidade sonora, mas entrando no espírito, nem um exorcismo o tira do corpo.

9/10
Frnando Ferreira

5 – Brood Of Hatred – “The Golden Age”

Brucia Records

Primeiro contacto com esta one-man band da Tunísia e logo com um álbum monstruoso. O rótulo de death metal progressivo faz sentido mas poderá levar ao engano daquilo que encontramos aqui. Instrumentalmente é impressionante, como consegue ser exuberante mas essa exuberância vai ao encontro do desenvolvimento das canções. Não que seja mau a exibição técnica de solos de guitarra – nunca será no que diz respeito à World Of Metal – mas não deixa de ser surpreendente quando a intenção é servir as canções como um todo. A voz é unidimensional mas poderosa o suficiente para justificar a classificação de death metal – não é só a voz, porque musicalmente enquadra-se perfeitamente. As ambiências de cada tema hipnotizam.-nos e garantem-nos que daqui não saímos. Pelo menos trinta e cinco minutos e quarenta segundos. Ou uma hora e onze minutos e vinte segundos. Ou por uma hora e quarenta e… vocês estão a perceber a dinâmica da coisa,.

9/10
Fernando Ferreira

4 – Aversed – “Impermanent”

Edição de Autor

Dos Estados Unidos da América, uma excelente e potente surpresa. A banda não é nova (mais de dez anos de carreira) e já lançou dois EPs de onde evidenciavam qualidade, mas esta estreia é realmente um passo seguro e bem sólido. Talvez por não se terem precipitado. Apesar de terem uma frontwoman, que tanto domina na arte do gutural como tem uma excelente voz limpa – melódica e catchy – e de serem nitidamente uma banda de death metal melódico, têm argumentos técnicos que os colocam num patamar longe dos clichês do estilo – nada que eles sejam maus. Essa desenvoltura técnica faz com que tenhamos músicas com um teor mais progressivo, ajudados pelos leads assim como também  nas melodias da voz limpa. É sem dúvida um álbum de estreia memorável.

9/10
Fernando Ferreira

3 – Wesenwille – “A Material God”

Les Acteurs De  L’Ombre Productions

A minha introdução ao som dos Wesenwille deu-se precisamente com este álbum. Não poderia ter sido em melhor hora já que a qualidade deste “A Material God” é surpreendentemente boa. Black metal agreste e tanto frio como quente. Frio na forma como os riffs gélidos estabelecem o ambiente mas quente como se insurgem com variações melódicas (e por vezes melancólicaS) que surpreendem – mas que ajudam a manter o interesse ao longo de cinquenta minutos. O duo holandês deixa-nos reféns em pouco tempo mas fazem bom uso desse poder, não o desperdiçando. Nota para o alinhamento que traz uma transformação ao longo do trabalho. Se no início entramos “com tudo” ao longo do disco, a toada vai-se modificando e para quem já o tem interiorizado, é fácil seguir essa orientação. Já o tema final “The Introversion Of Sacrifice” parece condensar a montanha russa do álbum num só tema. Longe de ser unidimensional, isto é o que se pode chamar de black metal expansivo.

9.4/10 
Fernando Ferreira

2 – Wolvennest – “Temple”

Ván Records

O projecto Wolvennest está de volta, e sem surpreender, consegue-nos surpreender, mais uma vez. A junção única do experimentalismo, o psicadélico, o ambient e, claro, o metal, consegue caminhar por novos caminhos mas sem deixar de ser eficaz. Não é a primeira vez que digo isto, mas não o vou  deixar de o dizer sempre que tiver a oportunidade para isso. É bom termos música como a que é apresentada em “Temples” que nos obriga a parar o nosso ritmo louco e a mergulhar nela – sim, temos que mergulhar nela para termos um maior proveito – e a sentir as coisas de forma intensa. “Temple” poderá ser alusão a muita coisa. Não sendo especialmente ritualista, poderá encontrar eco em rituais próprios. Poderá até mesmo desenterrar esses mesmos rituais. Seja como for, é um monumento à música, à forma como a mesma deve falar com o ouvinte. Não só comunicar, mas tocar, fisica, mental e espiritualmente. Um álbum enorme que tem uma longevidade impressionante. Como sei isso se só agora o conheci? Porque a cada audição, há sempre muito mais a recolher, muito mais a oferecer, muito mais a sentir. Principalmente a sentir.

9.5/10
Fernando Ferreira

1 – Moonspell – “Hermitage”

Napalm

“Hermitage” não surprende, tal como esperava. Não surpreende porque já esperava ser surpreendido. Isto porque depois da semi-desilusão de “Extinct” – que não sendo um mau álbum, não mostrou nada de novo – “1755” mostrou que criativamente a banda ainda estava pronta para trazer algo de novo. E que abriria muitos novos caminhos, algo que disse muitas vezes. E como tal, não é surpresa que “Hermitage” mostrasse esse espírito inconformado e cruzasse, mais uma vez, fronteiras e pisasse novos solos. Tendo em conta a forma como a banda já experimentou ao longo de toda a sua carreira, restam poucos géneros ou sub-géneros mas ainda assim não seria expectável que fosse optar por uma orientação mais prog. Uma orientação que resulta num som menos imediato, menos metal – e se formos a ver, mais eficaz nestes tempos de poucos concertos e de apreciação no (des)conforto de uma cadeira ou da nossa casa. Algo que o próprio título e conceito do álbum retrata, um fruto dos tempos. Introspectivo, com muitos dos elementos góticos que fazem parte do A.D.N. desde o início mas ainda assim diferente, lá está, mais maduro. Não será um álbum consensual mas é pelo menos imediato na surpresa que causa e na forma como cria as condições para repetidas audições. É um maravilhoso caso de descoberta contínua, algo que toda a música deve(ria) ter. Versátil nas emoções e na forma como a música as cria, terei que salientar o fantástico trabalho de Ricardo Amorim que ajuda a que nos tornemos facilmente hipnotizados, mas toda a música e todos os elementos convergem de forma perfeita e até clássica. Essa é a parte mais impressionante, apesar de todos os elementos prog, da direcção menos bombástica que nos últimos álbuns e até atípica, ainda soa a Moonspell, ainda é um álbum que tem aqueles elementos característicos da banda que tanto aprendemos a gostar ao longo de uma carreira de décadas.

9.5/10
Fernando Ferreira

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