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Filhos do Metal – Uma Canção Intensa

Por Duarte Dionísio
(Filhos do Metal – À descoberta do Heavy Metal em Portugal)
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Este texto já vem tarde. Mais vale tarde do que nunca, como é costume dizer. Com o Festival da Canção 2025, tivemos um sinal, ou um abrir de olhos, ou talvez um mero acaso. O público votou maioritariamente na canção “I Wanna Destroy You” da cantora e compositora Henka. Na final, a canção obteve 29,83% do televoto por parte do público votante, ficando em primeiro lugar neste voto. Na votação do júri regional ficou em penúltimo lugar com um somatório de 18 pontos. O significado deste resultado é simples e surpreendente. Quem votou preferiu uma canção intensa, pesada e agressiva, contrariamente às baladas que inundam frequentemente o Festival. Nada contra baladas, cada um apresenta o que quer quando concorre. Não deixa de ser interessante constatar que aconteceu algo de extraordinário – uma canção pesada, num espectro Rock Industrial com influências de Heavy Metal foi a preferida do público. Afinal temos um grande número de público apreciador de Rock Pesado que vê o Festival da Canção? Foi apenas o impacto da força e da imagem da cantora que influenciou a votação? Foi um grito de revolta contra os géneros instituídos? O que quer que tenha acontecido, Henka agradece. A carreira desta Portuguesa, a viver em Inglaterra, ganhou um novo fólego e para o género foi mais um veículo de promoção.

Mas afinal quem é Henka? Cat Pereira, nasceu no Porto, mas está a viver em Londres desde 2010. Ex-vocalista da banda Derange, formada em 2013, foi em 2021 que se lançou com o projeto Henka. Não era propriamente uma artista conhecida dos Portugueses. Foi precisamente com a participação no Festival da Canção 2025, que ganhou maior notoriedade. Apresenta-se com um visual arrojado, tal como a sonoridade eletrónica, que deriva para uma mistura de energia crua do industrial com a emoção do pop e rock contemporâneo algo dark. Basta escutar algumas das canções que foi lançando como “Pedestal”, “Fading Out”, “I’m A God” e o tema do Festival “I Wanna Destroy You”. Mostra-se uma mulher empoderada, misteriosa, arrojada, que artisticamente – “cria atmosferas cinematográficas, que transportam o público para uma experiência poderosa e envolvente” – citando o site do RTP/Festival da Canção. São muitas e diversas as influências que têm sido referidas, desde Bjork, até Nine Inch Nails ou Prodigy. Para além da vertente musical, Cat Pereira, trabalhou em special action art, ou melhor, fez de duplo em cinema e televisão, incluindo blockbusters como: “Fast X” e “Deadpool Vs Wolverine”. O futuro dirá se Henka terá sucesso comercial. Para já vem a Portugal este mês, tocar ao vivo, em Lisboa e no Porto.

Fica claro que este é um sintoma da abertura por parte do público, para este género musical. Arrisco aventar (sem medos) que o Heavy Metal e os seus subgéneros, em Portugal, se bem “cozinhado” com melodias ou ambientes mais comerciais e até Pop, tem potencial para conquistar até os mais céticos. Isso já foi demonstrado tantas vezes e com tantas bandas que não restam dúvidas. Tem de existir vontade, talento e capacidade para tal. Os mais conservadores podem não gostar, podem até dizer que é traição e outras críticas. No fundo estamos a falar de criatividade, e o Metal não é nada mais do que isso. Temos artistas e bandas que têm feito por ser originais e criativos. Desde o início dos anos 90, os Bizarra Locomotiva traçaram um percurso muito próprio com uma sonoridade industrial, mas com muita portugalidade pelo meio. Agora começam a surgir novos projetos que incorporam essa portugalidade ainda de forma mais profunda. Veja-se Paula Teles, que lançou recentemente um disco onde a guitarra portuguesa desempenha papel fundamental, enquanto o peso das guitarras faz a cama de Metal. Já anteriormente os Moonspell tinha incorporado ambientes Folk e até poesia portuguesa nas suas músicas. Antevejo um futuro com muitos e novos valores a ter o talento para surpreender no espetro do Heavy Metal em Portugal.


 

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