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Filhos Do Metal – Uma Questão de Criatividade

Por Duarte Dionísio
(Filhos do Metal – À descoberta do Heavy Metal em Portugal)
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Num destes sábados, dediquei-me ao zapping televisivo, numa tentativa de afastar o tédio. Deparei-me com uma daqueles entrevistas em que o entrevistado acaba quase sempre a verter algumas lágrimas. No caso, o convidado era um cantor de música ligeira (vulgo Pimba) bastante famoso e com muitos anos de carreira. O que me chamou a atenção foi uma frase proferida com muita convicção – “Nós somos comerciantes de música!”. Foi desta forma convicta que o homem se referiu à sua atividade. Tal expressão da mais pura honestidade deixou-me a pensar sobre o assunto. É verdade! Há imensos intérpretes, músicos e compositores que são comerciantes. Fazem da música o seu negócio de vida. Afinal gostam do que fazem e ainda ganham o suficiente para ter uma vida sem grandes problemas financeiros, refiro-me aos que têm sucesso, claro! No entanto, questionei o vazio – e onde fica a arte? Música é arte! Talvez para alguns, enquanto que para outros é apenas entretenimento e fonte de rendimento. Foi nesta dicotomia de entendimento que refleti sobre a criação artística e as suas consequências.

Amiúde oiço e leio críticas, algumas delas severas, à mudança de estilo que certas bandas operam na composição de álbum para álbum, ao longo de uma carreira. Essas opiniões são muitas vezes vazias de conteúdo e refletem apenas o gosto musical de cada um. Claro que todos temos o direito de opinar e criticar, mas há que entender o outro lado, aquele que norteia a criatividade de um artista. Talvez mais importante, quando se alvitra uma opinião, seja ter o bom senso de nos limitarmos à avaliação segundo o nosso gosto e não sobre a qualidade da música. Porque corremos o risco de dizer que algo é mau apenas porque não gostamos, sem critérios de avaliação sustentados. É diferente dizer “não gosto” ou “é mau”. Referindo alguns exemplos mais evidentes pelo facto da dimensão que atingiram, coloco os Metallica como um dos casos mais óbvios. A banda americana é hoje uma das bandas de Heavy Metal mais famosas e de maior sucesso comercial em todo o mundo. A completar 40 anos de carreira, tiveram um percurso com diferentes abordagens à música que criaram. Os primeiros álbuns foram de maior ferocidade estilística, carregando o epíteto de Thrash Metal às costas. O apelidado “The Black Album” trouxe-lhes um sucesso de megaestrelas. Depois sucederam-se algumas edições que foram alvo imediato de críticas por parte da base de fãs mais acérrimos. Muitos ficaram desiludidos e não entenderam o porquê de uma banda como os Metallica terem “amaciado” a sonoridade. A questão é muito simples. Os músicos e compositores não estão sempre com o mesmo estado de espírito ao longo dos anos, fruto do avançar da idade. O amadurecimento e as vicissitudes da vida são a causa de alterações na criação. Podemos não gostar do resultado final, enquanto apreciadores de uma banda, mas temos de ter a capacidade de deixar fluir a mente criativa de um artista e encarar o facto de forma natural. Poderá até haver casos de busca pela atração comercial, ou seja, compor música mais acessível aos ouvidos do público consumidor, com o intuito de vender mais. Mas acabará sempre por ser uma escolha dos músicos, mesmo que essa opção seja imposta por editoras ou managers, a decisão final cabe aos artistas. Podemos não gostar do resultado final dessa escolha, no entanto há que aceitar ou apenas deixar de seguir a banda.

Para referir um exemplo nacional, também devido à dimensão que atingiram, os Moonspell têm vindo a editar álbuns que espelham uma grande diversidade criativa. Quase todos incorporam diferentes abordagens à base Heavy Metal de pendor Gótico. A verdade é que assumem essa multiplicidade de elementos como a própria vida e a evolução natural do ser humano. É na liberdade criativa que a banda encontra espaço para evoluir e construir uma carreira que ficará na história do Rock Português e mundial. Por certo, os fãs que apreciavam a vertente mais Black Metal do início deixaram de dar tanta atenção ao trabalho mais maduro e “arejado” de alguns álbuns, como o mais recente “Hermitage”. A verdade é que conquistaram uma enorme legião de fãs um pouco por todo o lado. Afinal a diferença entre ser comerciante da música ou ser um criador de arte está na capacidade e no talento de criar e reinventar essa mesma arte.


 

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