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Predominance #11 – Decoherence / En La Niebla / AATHMA / The River / Cemetary 1213

Jorge Pereira é um amante de música pesada e de cinema. Colabora com a World Of Metal e tem o seu próprio covil de reviews – Espelho Distópico. Predominance será a sua coluna mensal onde nos vai trazer reviews todos os meses.

Decoherence – “Order”– Formados em 2019 no Reino Unido os Decoherence chegam a 2023 com o seu terceiro álbum de originais ‘Order’ depois dos interessantes ‘Ekpyrosis’ (2019) e ‘Unitarity’ (2020). Complexa, fascinante e ambiciosa talvez sejam os adjectivos que melhor descrevem a mistura sonora deste trio Britânico. ‘Order’ é até ao momento a mais recente insanidade musical dos Decoherence, uma congregação de Atmospheric Black Metal com Industrial Metal que soa acima de tudo e inumana. ‘Order’ tem várias camadas sobrepostas, a tal mistura não é orgânica ou solúvel mas sim austera, impiedosa e dissonante onde sobressaem o pulsar maquiavélico e hipnótico do Black Metal assente numa atmosfera altamente desarmónica, por vezes a fazer lembrar os sombrios Deathspell Omega fielmente pautada por um revestimento Industrial livre de qualquer interferência humana claramente inspirado pelos seus conterrâneos Godflesh. Em jeito de conclusão ‘Order’ mostra-nos uns Decoherence seguros de si e com a sua orientação musical perfeitamente definida evocando uns Blut Aus Nord na sua fase mais “industrializada”. (8/10)

En La Niebla – “El Limbo De Los Callados” – Directamente da Argentina para o mundo os En la Niebla fizeram a sua estreia absoluta em 2022 com o EPEl limbo de los callados’. Composto por cinco temas e totalmente cantado em Espanhol ‘El limbo de los callados’ serve como cartão-de-visita para este trio Argentino. Decididos em expor toda a sua mística através de um Sludge Metal ritualístico e entorpecido aliado a um Doom sinistro e hipnótico os En la Niebla arriscaram bastante em usar a sua língua materna como base lírica para ‘El limbo de los callados’, contudo a decisão apesar de um pouco alienada revelou-se consistente, o Espanhol acaba por oferecer uma interessante individualidade ao EP. Destaque para os temas ‘El sendero del druida’, ‘Cabras Negras’ e o tema título, talvez os três melhores exemplares da incrível capacidade dos En la Niebla intensificarem o seu Sludge com uma sujidade e uma obscuridade dignas de realce. Uma última nota para a subtil mas ainda assim perceptível inclusão de uma vertente psicadélica na paradigma musical da banda alargando ainda mais a versatilidade sonora dos En la Niebla. (7.5/10)

AATHMA – “Dust From A Dark Sun” – Formados algures em 2007 em Madrid o trio AATHMA foi evoluído e consolidando a sua identidade musical através dos seus três primeiros álbuns de originais ‘The Call of Shiva’ (2009), ‘Decline… Towers of Silence’ (2011) e ‘Avesta’ (2017). Ora precisamente seis anos depois de ‘Avesta’ e com uma notória rodagem no que a concertos ao vivo diz respeito (com particular destaque para os festivais Resurrection Fest e Doom Over Paris), os AATHMA lançam o seu quarto álbum de originais intitulado ‘Dust From a Dark Sun’. ‘Dust From a Dark Sun’ acaba por não encaixar no rótulo de álbum da consagração, a meu ver é muito mais o álbum onde a banda se concentra nos últimos retoques e no pormenor, ou seja um álbum que serve essencialmente para os AATHMA aperfeiçoarem o seu desígnio sonoro já completamente incorporado e assumido. Uma intensa, dinâmica e sedutora mescla sonora onde se evidenciam o Progressivo, o Sludge e o Doom Metal exponenciada por um ambiente absorto e emocional pautado pela carismática voz de Juan Viguera (ele que também acumula a difícil função de guitarrista). Realço as formidáveis ‘Impending Fate’, ‘A Black Star’ e ‘The End Of My World’ como as mais impactantes faixas de ‘Dust From a Dark Sun’. (7.5/10)

The River – “A Hollow Full Of Hope” – ‘A Hollow Full Of Hope’ é mais recente álbum do quarteto Britânico The River. Com uma carreira que já ultrapassa as duas décadas os The River mostram todas as suas particularidades e tendências musicais em ‘A Hollow Full Of Hope’. Composto por cinco temas o álbum é um incrível exemplar do chamado Post-Doom, uma espécie de sonho lucido onde já só podemos encontrar resquícios de um Doom esquecido e obsoleto marcado por uma tristeza e uma melancolia introspectiva com um impressionante pendor emocional. Talvez inspirados pela fase pós ‘A Fine Day To Exit’ dos seus conterrâneos Anathema os The River encontram um admirável conforto e solidez neste manifesto de contemplação depressiva simultaneamente envolvente, gentil e angustiante. ‘A Hollow Full Of Hope’ não é um álbum para qualquer ouvido todavia, fãs da fase mais recente dos incontornáveis Anathema ou até mesmo dos Polacos Riverside certamente vão encontrar vários motivos de interesse nas cinco faixas que compõem o álbum. (7/10)

Cemetary 1213 – “The Beast Divine” – Cemetary é o projecto musical do Sueco Mathias Lodmalm, a banda conta com um cardápio de sete álbuns de originais e uma atribulada carreira que já ultrapassa as três décadas, mas desta feita o meu foco vai ser o seu penúltimo álbum de originais (‘The Beast Divine’) lançado em 2000. Três anos volvidos após a separação da banda em 1997 os Cemetary renascem das cinzas com uma nova, refrescante e sofisticada abordagem musical, os tempos da congregação entre o Death Metal e o Doom Metal tão popular em terras Britânicas no início dos anos 90 (Anathema, Paradise Lost, My Dying Bride) tinha ficado definitivamente para trás e os Cemetary, desta feita sobre o desígnio de Cemetary 1213 (uma alteração motivada por motivos legais), voltam ao activo com o mais interessante álbum da sua carreira (na minha perspectiva). Claramente inspirado pela ficção científica ‘The Beast Divine’ é um álbum conceptual que, além de mostrar uns Cemetary claramente interessados em explorar outros territórios musicais consegue potenciar de forma única a veia criativa da banda. Alicerçado num hibrido sonoro que aglomera subgéneros que vão desde os Gothic Metal ao Industrial passando pelo Thrash Metal, ‘The Beast Divine’ é na sua essência literalmente uma «besta divina» suportada por temas tão enérgicos, pulsantes e impolutos como ‘The Lightning / Firewire’, ‘Union of the Rats’, ‘Silicon Karma’ e ‘AntiChrist 3000’. (8.5/10)


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