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Predominance #18 – This Gift Is A Curse, Pothamus, Scour, Decline Of The I ,Neurosis

Jorge Pereira é um amante de música pesada e de cinema. Colabora com a World Of Metal e tem o seu próprio covil de reviews – Espelho Distópico. Predominance será a sua coluna mensal onde nos vai trazer reviews todos os meses.

This Gift Is A Curse – “Heir” – Criados em 2008 pelas mãos do vocalista Jonas A. Holmberg e do baterista Johan Nordlund os suecos This Gift Is A Curse têm deixado a sua marca numa carreira que apesar de longa não conta assim com tantos álbuns, ‘All Hail The Swinelord’ (2015), o segundo trabalho de originais da banda, foi provavelmente o álbum que projectou em definitivo os This Gift Is A Curse para um patamar de referência do Metal moderno. Dez anos mais tarde e com ‘A Throne Of Ash’ pelo meio os This Gift Is A Curse lançam ‘Heir’, o seu quarto álbum e também o melhor ou pelo menos o mais lapidado. Se no início da sua carreira a banda enveredou por uma sonoridade onde predominava o Sludge Metal e o Hardcore pese embora a influência de um Black Metal fosco, opaco e cru já se fizesse notar, ‘Heir’ mostra uns This Gift Is A Curse cada vez mais determinados em dar preponderância ao Black Metal em detrimento dos outros subgéneros já mencionados, a sua presença não desapareceu apenas perdeu protagonismo. Apesar da saída de um dos seus fundadores quatro anos antes (Johan Nordlund) ‘Heir’ exibe uns This Gift Is A Curse com uma capacidade de composição e genuinidade invejáveis, temas como ’Kingdom’, ‘Death Maker’ ou ‘Ascension’ comprovam que a banda encontrou em definitivo a sua identidade musical, um Black Metal simultaneamente frenético e estelar com fascinantes e imprevisíveis variações dominadas pelo Sludge Metal/Hardcore (Sludgecore). (9/10)

Pothamus – “Raya” – É mais uma das estreias absolutas de 2020, falo dos Belgas Pothamus com o seu primeiro álbum de originais ‘Raya’, e que estreia. Sendo que o Atmospheric Post-Metal não é de todo a vertente que mais aprecio do Post-Metal desta vez fiquei rendido, ouvir ‘Raya’ é embarcar numa verdadeira viagem transiente, caracterizada pelos riffs longincos, lentos e dissonantes apoiados por uma secção rítmica criteriosamente tribal ampliando e de que maneira a dimensão hipnótica do álbum. Os Pothamus conseguem em ‘Raya’, juntar ao seu evidente padrão de Post-Metal sedimentado a partir do Atmospheric Slugde Metal dos icónicos Neurosis uma tendência do Drone Doom ambiental dos Om resultando num magnético, fluido e intangível transe formidavelmente espelhado em faixas como ‘Orath’, ‘Viso’ ou o tema titulo ‘Raya’. Num ano onde o Post-Metal teve indubitavelmente um crescimento assinalável ‘Raya’ é inquestionavelmente um dos lançamentos que mais destaque merece. (8.5/10)

Scour – “Gold” – A espera foi longa muito longa mesmo, falo da estreia do novo projecto do lendário vocalista Phil Anselmo, Scour. Depois de três EP’s já com alguns anos chega finalmente a estreia na vertente de LP por parte dos Scour através do álbum simplesmente intitulado ‘Gold’ (é difícil de acreditar que a banda foi formada em 2015). A banda que agrega membros de bandas de renome como Cattle Decapitation, Pig Destroyer ou Misery Index tem na figura do seu carismático vocalista o grande destaque e curiosidade pese embora o fascínio de Anselmo por sonoridades extremas não ser propriamente novidade. “Cozinhado” num banho-maria entre Black Metal, Grindcore e Death MetalGold’ pode pecar por uma certa previsibilidade e falta de originalidade contudo tudo isso é compensado por uma execução e perícia na hora de acelerar vertiginosamente numa escalada de violência impar onde desfilam os riffs que vão alternando o perfil entre o Black e o Death e uma bateria demolidora orientada preferencialmente para o Grindcore. Se os Britânicos Anaal Nathrakh andam a desbravar terrenos nestes meandros musicais há mais de duas décadas agora é a vez de os Scour se juntarem à “orgia” de devastação com temas de uma incessante e corpulenta brutalidade tais como ‘Cross’, ‘Infusorium’, ‘Hell’ ou ‘Invoke’. O interesse de ‘Gold’ vai muito para além das excelência dos grunhidos do incontornável Phil Anselmo. (8/10)

Decline Of The I – “Johannes” – Já não é propriamente uma novidade a fortíssima ligação entre o Black Metal e a França, sem duvida um dos mais prolíferos países do mundo no que ao infame subgénero diz respeito, mais um dos bons exemplos desta afirmação é o quarto álbum de originais dos Gauleses Decline Of The IJohannes’. Decline Of The I é o mais pessoal projecto do multifacetado Adrastis Korgan que depois de uma primeira trilogia inspirada no trabalho do cirurgião e neurologista Francês Henri Laborit começa agora uma nova trilogia baseada na obra do filosofo Dinamarquês Søren Kierkegaard onde ‘Johannes’ é apenas o ponto de partida. Musicalmente ‘Johannes’ atrai-nos para uma verdadeira viagem emocional em direcção a um torturante e gélido abismo, alicerçada por uma desgastante e dramática dicotomia entre Black Metal intrépido e dantesco e um Post-Black decadente e suicida. Tal como os seus conterrâneos Merrimack ou Svart Crown também os Decline Of The I apostam numa vertente do Black Metal onde o aspecto emocional tem preponderância sobre agressividade e a contundência, comprovando mais uma vez que a hostilidade é mais imponente quando é potenciada por emoções. (8/10)

Neurosis – “Through Silver In Blood” – São a par dos Meshuggah uma das bandas mais influentes do Metal desde a viragem do milénio, falo dos Norte-Americanos Neurosis mais precisamente do seu quinto álbum de originais ‘Through Silver In Blood’ (1996). Se é provavelmente consensual que foram os Neurosis os “progenitores” do Post-Metal já é mais discutível se foi precisamente em ‘Through Silver In Blood’ que isso aconteceu, eu atrevo-me a dizer que neste álbum que foram criados os alicerces para a proliferação desse subgénero especifico, a influência de ‘Through Silver In Blood’ numa infinidade de bandas de Post-Metal no pós 2000 é indesmentível, todavia nem é essa a principal razão para a minha escolha da review retro, é que ‘Through Silver In Blood’ é a meu ver simplesmente o ponto mais alto da carreira desta incrível banda. Envolto numa hipnose suja, hostil e dissonante ‘Through Silver In Blood’ mostra-nos uns Neurosis completamente destituídos de dogmas ou barreiras musicais, uma espécie de “freeroll” por entre Sludge Metal, Hardcore, Post-Metal agregados a resquícios de um sem número de influências com um ambiente monolítico, heterogéneo e impiedoso onde se destacam as magnificas ‘Eye’, ‘Purify’ e ‘Locust Star’ mas especialmente o tema titulo que inaugura o álbum, uma monumental viagem com uma atmosfera simultaneamente exasperante, magnética e decadente. Por vezes injustamente desconsiderado ‘Through Silver In Blood’ é sem dúvida um dos álbuns mais marcantes não só da carreira dos Neurosis como de todo o universo do Metal.  (9/10)


 

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