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VOA Fest – Dia 3 – 06/08/17 @ Quinta da Marialva, Corroios

Terceiro e último dia e aquele que registou o maior número de pessoas entre a assistência, embora inicialmente tal não se tenha notado muito. Talvez pelo intenso calor que se tem feito sentir nos primeiros concertos, sem praticamente sombras no recinto para abrigo. E devido ao calor e ao sol, temos que tirar o chapéu tanto às bandas que tocam nos primeiros slots do dia do VOA como ao público. Com o sol a queimar impiedosamente, não deverá ser fácil manter os níveis de entrega e entusiasmo (de ambas as partes) perante tal calor.

Isso não impediu que os Colosso, a primeira banda a inaugurar o certame, tivessem tocado com tanto entusiasmo e entrega, sem falar da perfeição técnica. Com um som bastante complexo, conseguiu perceber-se tudo na perfeição e o colectivo liderado por Max Tomé cativou apesar de não tocarem um som propriamente fácil de assimilar. A boa música tem sempre esse efeito. Uma actuação que correu muito bem e mais importante que isso, foi recebida muito bem. Uma banda que urge ver e ouvir sem estas contingências de tempo mas com a mesma qualidade de som.
A exemplo daquilo que aconteceu nos dias anteriores, era a vez de abrir os braços para as sonoridades mais modernas. Já presenciámos esta fórmula muitas vezes e apesar de não sermos os maiores entusiastas de algumas destas propostas, somos forçados a concordar que é uma táctica que resulta, pelo menos no que diz respeito à recepção por parte do público. A banda espanhola (e que refrescante termos uma banda espanhola a falar em castelhano – porquê o inglês?) Killus é dona de uma sonoridade que mistura as referências de Rob Zombie com Misfits e Wednesday 13 com metalcore industrial e nu metal. Nada de particularmente inovador ou interessante mas que cumpre o seu propósito de aquecer o público, que efectivamente aqueceu. A postura em palco (com o baixista a ter um fetiche qualquer em esfregar as partes baixas) e a imagem dos Killus também ajudou muito ao ambiente de festa. “Ultrazombies” e “Satanachia” foram dois destaques da sua actuação.
Os Don’t Disturb My Circles foram os primeiros a estrear o palco Loud! e pode-se dizer que foram um aperitivo para uma das grandes atracções do dia, os The Dillinger Escape Plan. Com o som mais equilibrado, comparativamente com o dia anterior, a banda lisboeta despejou o seu hardcore espásmico e intenso sem dó nem piedade e mesmo assim soar melhor aos ouvidos do que qualquer banda que tenha tocado no dia anterior. Caos e um furacão em forma de vocalista ou vocalista na forma de furacão – por vezes até parecia que a sua cabeça até ia rebentar – e uma banda bastante coesa, abriram o certame da melhor maneira.
Um dos momentos mais aguardados era sem dúvida a chegada dos senhores do death metal da Flórida: Obituary. E apesar disso, nunca nos passaria pela cabeça que desse um concerto que os colocasse em muito boa condição para ser considerada uma das bandas do festival. Sem intros, sem gimmicks, de qualquer espécie, apenas death metal. Bom e velho death metal na forma da “Internal Bleeding” em versão instrumental. Apenas no clássico “Chopped In Half” que John Tardy abriu a sua boca e evidenciou uma das vozes mais únicas no panorama da música extrema que demonstrou ainda estar em excente forma.
Os Obituary nunca foram das propostas mais violentas e brutais do death metal norte-americano. Aliás, o andamento das suas músicas está mais perto do downtempo do que propriamente do uptempo, no entanto a banda concentrou aqui as suas malhas mais intensas e foi do início ao fim um corropio de circle pit que levantou muita poera. Passeando autenticamente por quase todo o seu reportório, parando de vez em quando para abastecer o depósito com cerveja, a banda colocou o público ao rubro e devolvia toda a energia que lhe era entregue em forma de bateria, baixo, guitarras e voz. Um poderio que revela bem todo o saber e classe dos veteranos.
Por falar em saber e classe de veteranos, já era altura dos Grog estarem presentes num evento desta envergadura. Com um excelente álbum às costas (“Ablutionary Rituals”), a banda de Pedro Pedra tem vinte e cinco anos de carreira e uma vasta experiência em desbastar e distribuir fruta. Apesar de algumas falhas no micro de Pedro, o som que vinha do palco Loud! – e tendo em conta o género – esteve quase perfeito, fora um pormenor ou outro.
O grande foco da sua actuação foi mesmo o já mencionado último álbum de originais com malhões como “Savagery”, “Sterile Hermaphrodite” e “Gore Genome a marcar o tom e o nível de qualidade. Claro que também não podiam faltar clássicos como “Vaginal Teen Grind Fluids Make Us Groove”, “Sado Masoquistic Butchery. Mais do que ser uma lição em grind, foi uma lição em como cativar o público e metê-lo a mexer. Missão cumprida.
Existem aqueles que nem precisam de se esforçar. É o caso dos The Dillinger Escape Plan, que concentraram um bom número de pessoas à frente do palco principal e abanaram-nas, mandaram-nas ao ar e ainda as arrastaram pela poeira. A banda está a finalizar a sua digressão de despedida e esta foi a última oportunidade para os ver ao vivo. E é algo digno de ser visto. A sua música não é de fácil absorção e por isso raramente provoca amores à primeira audição, mas vê-los a tocar é toda uma outra questão.
Se ver os outros fizesse emagrecer, então depois do concerto de domingo deve haver muitas pessoas com  a cintura bem larga. Como é que é possível se mexer assim? Mesmo quem não gosta, é impossível ficar indiferente à forma como Greg Puciato e companhia transformam o que é um ritual de uma banda numa autêntica maratona de espasmos musicais, dissonâncias e luzes psicadélicas. “When I Lost My Bet?”, “Surrogate” e “One Of  Us Is The Killer” e a cover alucinada do clássico “Sunshine Of Your Love” dos Cream foram alguns dos temas em destaque.
A última banda do palco Loud! é uma das mais excitantes propostas do underground nacional: Os The Ominous Circle. Chegaram viram e tão a sobreviver. O ambiente do palco onde se encontravam era único, com umas fornalhas a arder enquanto a lua iluminava tudo de cima. O que a banda perde em movimento e em espectáculo no que diz respeito à sua actuação, ganha em presença e ambiente. Mas como sempre nestas ocasiões, o que interessa mesmo é a música.
Praticamente sem comunicação com o público – e também não era necessário – e com um som esmagador, o melhor de todo o festival naquele palco – a banda saiu do VOA com mais uns fãs, definitivamente. E nem sempre são necessários circles pits para se provar o seu valor. Uma banda a rever, de prefência com este som, que é logo metade da tarefa facilitada.
Para acabar uma maratona de três dias, os Trivium. Para começar nada mais justo que a “Run To The Hills”, uma das grandes influências da banda, em forma de introdução. E assim que eles entram após uma segunda intro é a loucura generalizada. “Rain” foi o tema que inaugurou a actuação da banda, que estava no nosso país pela segunda vez e parece que foi a sua presença que motivou a maior enchente do festival. Não fosse alguns desequilíbrios entre a voz de Matt Heafy e o os restantes membros e o som da sua guitarra estar demasiado estridente e teria sido uma actuação particamente sem falhas.
A banda conseguiu conquistar o público sem dificuldade, muito graças à simpatia e humildade de Heafy que partilhou mais que uma vez o quão estava agradecido pela presença no concerto e pela forma como permitiram a ele e aos seus colegas de banda estarem ali a fazer o que gostam – referiu que o facto do público entoar as melodias das guitarras o faz recuar até aos tempos em que era miúdo e via concertos dos Iron Maiden, pensando como seria bom estar naquela posição. “Kirisute Gomen”, “Like Light To The Flies” e “The Throes of Perdition” foram alguns dos melhores momentos de toda a sua actuação. No final e após mais de uma hora e meia banda e fãs saíram satisfeitos e disseram para si mesmos e provavelmente para os amigos: “Até para o ano.”
Support World Of Metal
Reportagem por Fernando Ferreira
Fotos por Sónia Ferreira
Agradecimentos a Prime Artists e PEV Entertainment

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