Entrevistas

WOM Entrevista – Alcatrazz

Alcatrazz, um nome incontornável na história do rock. Com álbuns que marcaram uma geração, a banda norte americana é uma instituição que influenciou uma geração. “Born Innocent” marca o regresso, após um hiato e com ele surge uma banda revigorada, determinada e com ganas de mostrar ao mundo que estão vivos! A World Of Metal, com os devidos agradecimentos a Serena Furlan e a Gary Shea, conhecido baixista e membro original, pela amabilidade e disponibilidade para esta entrevista, que deixou em exclusivo de que no próximo ano teremos um novo disco de Alcatrazz! – Por Miguel Correia // Foto por Alex Folca

Olá Gary, boa tarde, como estás? Tudo bem?

Sim Miguel, tudo bem comigo e por aí?

Tudo, também. Muito obrigado por esta entrevista. Para mim é um enorme prazer estar aqui estes minutos com alguém que faz parte de uma banda que influenciou uma geração como a minha. O que sentes quando és confrontado com algo do género? Quando te dizem que a tua música fez e continua a fazer parte de uma vida?

Olha, antes de mais muito obrigado pelo teu interesse e de certa forma é uma ajuda em tempos difíceis para todos nós. Bem, respondendo à tua pergunta, claro que é uma honra tal afirmação. É no mínimo maravilhoso quando alguém reconhece o nosso trabalho e sim, compreendo o “fazer parte” de uma vida, a banda tem muitos anos, há naturalmente muitos fans que nos acompanham e apreciam o nosso trabalho desde os nossos primeiros tempos e, repito, é sempre um orgulho ouvir isso, acredita que significa muito, é o nosso combustível para nos motivar e ao olhar para trás perceber entre muitas coisas que valeu a pena e que continua a valer.

“Os Alcatrazz são uma marca! Uma afirmação do Graham e eu não podia estar mais de acordo, mas acima de tudo uma marca que esteve parada tanto tempo…torna assim difícil dar-se a conhecer para uma nova geração. Afinal já lá vão uns bons anos desde o último lançamento de originais.

Bem, sem dúvida, mas de certa forma o nome da banda manteve-se falado, conhecido, há um passado, inegavelmente positivo que nos ajudou a ser conhecidos a escrever as nossas páginas, logo a coisa manteve-se ativa. Claro que precisávamos de fazer mais, mas tudo tem o seu tempo, as coisas aconteceram como todos sabem. No fundo as pessoas nunca se esqueceram da banda. Temos de nos lembrar que uma banda funciona como uma empresa, tem a sua gestão, o seu negócio, com todas as responsabilidades inerentes, por isso essa afirmação, mas concordo teríamos de nos manter algo mais ativos, mas por outro lado é como te disse o nome está lá e é disso que se trata.

Estão os Alcatrazz de corpo e alma no mesmo caminho?

Ah sim, sem dúvida. Somos as mesmas pessoas, com outra maturidade, com outras perspetivas e isso ajuda. Quando percebemos que temos de remar todos para o mesmo lado a coisa é mais fácil de fazer, o caminho percorre-se e estamos mesmo com muita vontade de fazer coisas novas.

Vamos falar de “Born Innocent” e dar-te os parabéns pelo excelente trabalho…colocando a banda, onde nunca deveria ter saído. Há por aqui uma lista extensa de colaborações, mas para mim há uma que se destaca, não por ser melhor ou pior, nada disso, mas porque se trata de um elemento que no passado fez parte da banda, Steve Vai. Possivelmente vocês nem tiveram juntos para o processo de composição ou gravação, mas como sentes em estar a tocar “Dirty Like The City”. Qual é a sensação de trabalhar com ele novamente depois de tantos anos?

Sempre mantivemos contato dentro do possível e sempre se manteve a amizade com o Steve. Voltar a trabalhar com ele foi maravilhoso. Ele deu-nos a ouvir “Dirt Like The City”, nós adoramos e decidimos avançar com ela para o álbum. Sabes, há aqui um sentimento muito bom de ter todos os amigos juntos novamente, tocarmos, divertirmo-nos com o que estamos a fazer. Ter tantas colaborações resultou em algo mais colorido, mais dinâmico e ficamos muito felizes com tudo o que se proporcionou neste disco.

Se surgir a oportunidade de ele estar ao vosso lado em palco…

Adoraria, é sempre bem-vindo!

E Malmsteen? Tu trabalhaste com os dois, comparativamente…

Olha, são, como todos sabem, guitarristas diferentes, com estilos e personalidades diferentes e é sempre bom trabalhar e partilhar um palco com músicos assim, claro que se aprende muito, que nos obriga também a dar o máximo e isso significa crescer e aprender. Um mais clássico, outro mais experimentalista por assim dizer. Acima de tudo foram bons tempos, juntos fizemos grandes músicas e foi muito divertido partilhar esses tempos tão diferentes com eles.

Falamos de música claro e naturalmente no grande motive que nos trouxe aqui. “Born Innocent” é o resultado de algum trabalho em material de arquivo ou são tudo ideias novas?

Tudo material novo, foi esse o caminho usado em “Born Innocent”. Tudo começou antes desta situação pandémica, estávamos cheios de ideias e outro material foi chegando de quem colaborou connosco e partimos do zero por assim dizer.

E trinta e sete anos depois temos o regresso dos Alcatrazz pela porta grande. Quais as principiais diferenças que sentiste ao entrar num estúdio par agravar com os restantes elementos da banda?

Acima de tudo, muita vontade de estarmos juntos e de fazer coisas novas. Toda a maturidade facilita neste processo. Foi maravilhoso! De certa forma parecia que era a primeira vez que estávamos juntos e que tínhamos de passar por todo aquele processo. Nem parecia que já tínhamos percorrido uma estrada enorme juntos! Voltamos a sorrir juntos, a criar e viver bons momentos juntos, sem qualquer pressão, deixar correr o tempo. Olha o que senti foi, um grupo de amigos que se juntou para tocar e ver no que dava (risos) e acabamos por gravar um disco. Por outro lado, mostrar a todos que ainda mantínhamos as nossas capacidades inatas e que somos capazes de fazer coisas muito boas juntos.

Olhando para atrás o que terias feito diferente?

(risos) Adorava ter aprendido a tocar piano (risos), uma falha na minha vida, mas ainda vou a tempo de o fazer. Mas, olhando par atrás, tive de fazer as minhas escolhas, umas boas outras más, mas tu sabes que isso faz parte da vida nem sempre somos bem-sucedidos nas nossas escolhas…falhei o piano por isso (risos). Acima de tudo a vida é uma aprendizagem e em todos os momentos temos de tirar as nossas lições e seguir o nosso caminho. Se formos a ver, no caso de Alcatrazz a banda teve o seu sucesso, outras nem passam da garagem ou da tentativa em estúdio de fazer algo, nós conseguimos e isto também é a minha história, por isso é sempre bom, volto à tua primeira pergunta, ouvir alguém reconhecer com palavras bonitas, o nosso trabalho. Não me arrependo de nada, fiz o que achei melhor fazer, só do piano (risos)…

Tiveste um período fora da banda, seguiste um caminho diferente até ao momento em que foste convidado para voltar para um concerto um Tokyo. Sentiste aí que vocês estavam de volta?

Esse concerto em Tokyo marcou-nos imenso, é verdade. Não foi Alcatrazz, mas era eu o Jimmy e o Graham e sentimos aquela agitação e vibração toda de estar ali juntos. Sabes que ser músico não é fácil. Anos de estrada, gravações, viagens, ensaios e tudo o mais. Por vezes quase que esquecemos que temos família, com filhos para criar e ver crescer. Aconteceu comigo, acontece com muitos de nós. Acaba por ser uma profissão dura nesse sentido. Há momentos em que percebemos então que temos de fazer escolhas, lá está, e elas tem de ser de acordo com tudo o que nos rodeia. Tenho três filhos, eles naquela altura precisavam de mim e agora já sou avô (risos).

Qual é a melhor música deste disco para ti?

Boa pergunta, gosto muito de todo o álbum, acho que é muito consistente do primeiro ao último segundo.

E como surgiu a ideia para o título?

Uma ideia do Graham. Quando nascemos, trazemos toda aquela pureza. Vimos despidos de tudo e a ideia teve como base esse conceito.

Qual o melhor disco na tua opinião?

(risos) Wow, não sei, mesmo…pergunta difícil! Tenho alguns temas favoritos em todos eles, mas escolher um é quase impossível (risos). São todos discos com bom material e olhando para trás todos eles foram feitos à época, ao momento e todos tem algo de importante para nós, claro, como te disse há músicas que gosto mais do que de outras, mas isso não destaca um álbum do outro!

Há planos para um próximo disco?

Ah sim, já temos muita coisa gravada, tens aqui uma informação quase em primeira mão para os vossos leitores. No próximo ano irá sair um novo trabalho!

E o projecto Rock Island Orchestra?

Sim, um projeto que mantenho com o Jimmy Waldo. Continuamos sempre que possível a fazer música, uma forma de nos mantermos ocupados e ativos e a fazer aquilo que amamos fazer. Algo paralelo no nosso percurso. Fazemos uns shows, gravamos e é isso.

O álbum termina com uma música bastante surpreendente musicalmente “For Tony”. Sei tratar-se de uma dedicatória ao irmão de Graham que faleceu há uns anos. E é sobre isso que te quero falar, tudo um dia chega ao fim…Gary, a vida é feita disto e temos assistido à partida, no meu caso de alguns dos meus ídolos, no teu caso colegas de profissão e possivelmente amigos. Até quando vamos ter Alcatrazz?

Olha Miguel, tu sabes e compreendes que há muita coisa contra nós nesta fase da vida: a idade, a saúde algumas limitações que vão chegando e temos de aprender a lidar e viver com isso. Um dia de cada vez, um passo de cada vez é assim que penso. Ninguém sabe o dia de amanhã. Mais 10 anos de banda? Talvez sim, talvez não… Acima de tudo deixar um legado!

Algum conselho que queiras deixar para quem começa agora?

Nunca desistam dos vossos sonhos. Lutem, acreditem, deem tudo o que tem para fazer aquilo que acham e sentem ser o melhor e o mais correto nas vossas vidas. Nunca aceitem um não como resposta! Se alguma vez encontrarem alguém que não aceite ou goste do vosso trabalho, sigam em frente, procurem quem goste e aprecie aquilo em que vocês acreditam.

Um conselho de vida! Mr. Gary Shea!

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