Entrevistas

WOM Entrevista – Commando

Commando é um novo projecto do underground nacional, motivado por puro amor à música. Especificamente, puro amor ao thrash, crust, death, crossover e… já dissemos thrash? Rui Vieira, mestre de projectos como Miss Cadaver, Machinergy e Baktheria, na guitarra juntou-se a José Graça na bateria e o resultado foi “Love Songs#1…”, um das bombas nacionas do nosso underground de 2020. – Por Miguel Correia / Foto por Andreia Vidal

Rui, começo por te perguntar como surgiu a ideia para este projeto e porquê o José Graça?

Da minha parte, é a necessidade de produzir, de fazer acontecer. Essa é a primeira razão. Já conhecia o José desde 1990/91, estivemos 25 anos sem contacto mas quando soube que ele tocava bateria, pensei: “Epá, é isso, não mexas mais!”. Depois de umas conversas pelo Messenger e um encontro, acordámos em compor e gravar um álbum. E aqui está ele!

A minha opinião sobre “Love Songs #1…” já é do teu conhecimento, mas naturalmente a minha pergunta tem de acontecer, porquê um disco com esta sonoridade? Como chegaram à conclusão de que era isto que vocês queriam fazer?

O que aconteceu aqui foi o que devia acontecer sempre: puro entretenimento no local de ensaio e let it flow! Posso, seguramente, afirmar e com a minha experiência de 30 e tal anos nestas andanças, que sem o José, “Love Songs #1…” seria impossível de concretizar. Um álbum com estas características só pode acontecer porque há maturidade, experiência e muita sintonia. Este alinhar de planetas, de personalidades, é muito invulgar e talvez aconteça uma vez na vida. A premissa era a descontração e a desconstrução. Tivemos sempre em mente bandas como Comme Restus e Mamonas Assassinas. Mas também é uma homenagem às nossas influências, embora de forma divertida e peculiar, digamos. Baptizámo-lo de crossunder!

Commando é um projeto inspirado, mas também inspirador. É algo de um disco só ou o próximo passo está dependente do sucesso de “Love Songs #1…”?

Não sabemos. Na verdade, temos tantas ideias que não consigo responder com certezas. De facto, Commando é, para já, uma aventura de estúdio e foi algo especial. Não sei se conseguiremos replicar este ‘momentum’. A possibilidade de um “Love Songs #2…”, ficará em aberto.

Falamos de inspiração, qual a tua maior inspiração enquanto músico?

Essa é tramada. A nível metálico, é o thrash e o death, ou seja, clássicos dos 80’s e early 90’s. Mas também muito punk (que vai de crust a grind) e até música pop. Tudo é influência para nos tornar músicos mais completos. Individualmente, frontman’s como Max ou Mille contribuíram, decisivamente, para cantar e tocar guitarra.

Quais as músicas que te deu mais gana em fazer? 

“Metal Is The Lei” foi a primeira e talvez a que resume o espírito de Commando. É uma homenagem assumida a “March of the S.O.D.” e o ponto de partida para o resto do álbum. Portanto, a sua importância é indiscutível. As restantes têm, cada uma, as suas particularidades. Sem excepção, deram-nos todas um gozo tremendo.

Tenho de falar na capa fantástica, como foi trabalhar com o Francisco Marcatti?

Bastante fácil. Entrei em contacto, falámos da possibilidade dele criar o artwork para nós, houve concordância, acordámos valores e foi isso. Para nós, um sonho. Tudo correu na perfeição e, como imaginávamos, o resultado final ficou brutal. É mais uma daquelas coisas que fazem valer a pena andar nisto.

Tens percorrido a estrada da cena nacional, olhando para trás achas que fizeste o que foi possível fazer ou estás identificado e completamente preenchido com as tuas escolhas, musicalmente falando.

Não. Sou musicalmente insaciável. Enquanto puder, e existindo possibilidade financeira e tempo, continuarei a procurar, digamos, o “álbum perfeito”! Mas perdi muito tempo nos anos 90, essa é a minha maior mágoa, por assim dizer. Perdi oportunidade de consolidar, efectivamente, alguma banda da altura. Também viver em Arruda não ajudou mas, se fosse hoje, não tinha alinhado e permitido certas coisas. Tinha seguido o meu caminho! Mas… “o Diabo sabe por ser velho, não por ser Diabo”.

Os tempos atuais são difíceis para todos, economicamente já percebemos que não vai ser fácil e falamos de uma indústria que na minha opinião terá de se reinventar para enfrentar os próximos tempos. Achas que as coisas vão gradualmente voltar ao normal ou algo terá de ser feito para manter a máquina a rodar.

Acho que muita coisa vai mudar. É inevitável. Quais os moldes não sei, sinceramente. Mas o ser-humano tem uma capacidade incrível de se adaptar e reinventar, como já vimos noutras ocasiões. Quando a Internet chegou, a indústria ficou em pânico. Pensavam que era o fim dos lucros! Afinal, reinventou-se e, hoje, ganham mais que nunca. Disto poderá sair algo melhor para músicos e promotores. “Não se pode desperdiçar uma boa crise”, já dizia Churchill. Este é um momento único nas nossas vidas e ninguém está preparado mas, gradualmente, chegaremos a alguma normalidade. Ficarão ensinamentos, mudanças, melhor preparados mas a vida vai continuar, tem de continuar, embora com mais precauções. 

Commando é para subir a um placo quando for oportuno?

Reproduzir este material ao vivo terá de ser algo bem trabalhado para não decepcionar. E se é para desiludir, mais vale estar quieto. É um disco complexo, não impossível de reproduzir ao vivo, mas envolveria muitos ensaios, busca de mais dois ou três elementos. Não é fácil e nós também já não vamos para novos e, sinceramente, esta vertente de criação preenche-nos bastante. Mas a porta está sempre aberta…

E na tua carreira, qual é o teu próximo passo?

Para já, é mais um lançamento (o segundo em dois meses e em plena pandemia Covid-19), o de Ancharge, projecto de grind, d-beat, crust, também com o José. Tenho sempre a cabeça ocupada com ideias. Já me envolvi em montes de coisas mas há algo que surge, às vezes, inesperadamente. No futuro, haverá Miss Cadaver, talvez Baktheria ou Machinergy. Gostava muito de fazer um EP de Bicéfalo. Há outro novo ‘bebé’ musical a ser preparado e um outro desafio absolutamente novo mas fora da música. Mas isto também é tudo muito volátil e espontâneo. Aparece pessoal do nada e pumba, disco novo! 

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