WOM Report Blowfuse, Good Riddance, Sick Of It All @ RCA Club, Lisboa – 21.04.19
Antecipava-se uma noite de festa para o regresso dos norte-americanos Sick Of It All e Good Riddance e dos espanhóis Blowfuse e efectivamente foi o que todos os presentes no RCA Club tiveram. As portas abriram bem cedo o que permitiu que quando os Blowfuse subissem ao palco, já pudessem encontrar uma excelente moldura humana.
O ar condicionado já estava ligado a prever a noite escaldante que começaria logo com os Blowfuse, banda que nos tem visitado ultimamente e que a cada passagem tem deixado um rasto de actuações explosivas. “Dreams”, o tema de abertura do mais recente trabalho “Daily Ritual”, foi também o primeiro tema tocado na noite de Domingo e que evidenciou logo a energia inesgotável por parte dos espanhóis. Desde início que se criou um fosso – como é habitual – entre o palco e onde o público se concentrava mais. O vocalista/guitarrista Oscar Puig pediu para o público se chegar um pouco mais à frente. Aquela terra de ninguém era só para os bravos, com animação sempre garantida. Malhões como “Behind The Wall”, “Bad Thoughts” foram de festa.
Puig ainda agradeceu a presença do público, por ter comparecido mais cedo e por terem apoiado a banda quando estiveram recentemente no nosso país – o concerto no Popular de Alvalade ainda estava fresco na memória de muitos. Com temas como “Ripping Out” a serem cantados pelo público ou “Outta My Head” a provocar a confusão generalizada, no bom sentido, claro, e “Radioland” colocou um ponto final numa actuação energética que estava perfeitamente enquadrada no espírito do que se seguiria. Tirando o facto de no início a voz estar um pouco mais baixa em relação aos restantes instrumentos – não ajudando também o fio do micro ter sido arrancado por momentos na “Sunny Daze” – foi um grande concerto, o melhor que já vimos dos catalães.
Rápida mudança de palco e sentia-se que apesar de se sentir a sala cheia, que mais pessoas ainda estavam a chegar. O evento não pedia menos, afinal era o regresso dos Good Riddance ao nosso país após 18 anos de ausência – pelo menos essa foi a informação dada pela banda. A viver uma segunda encarnação após o interregno entre 2007 e 2012, a mistura da banda norte-americana entre o hardcore mais melódico e punk é lendária e é um dos nomes clássicos de toda a cena. A forma como “Weight Of The World” do já clássico “A Comprehensive Guide to Moderne Rebellion” foi recebida indicava que os méritos da banda não estão confinados ao passado. Russ Rankin, vocalista, chegou-se à frente com o micro e o público acudiu a cantar o refrão. Algo que se repetiu muitas vezes durante a sua actuação.
A simbiose entre o público e a banda foi memorável, havendo muitos momentos em que partilharam os deveres vocais (“Last Believe” e “Salt” foram bons exemplos) e outros ainda mais especiais, quando, por exemplo Chuck Platt foi buscar lenços para um fã que estava a sangrar do nariz enquanto tocava ou quando o mesmo Platt se dirigiu a um fã que gostava da t-shirt dele e que ele se importava de a emprestar durante o resto do concerto. Apesar de quem possa ser estranho ao género musical (ou filosofia) fique com a ideia de que a violência era constante, a verdade é que a entreajuda esteve sempre presente, mesmo nos momentos em que estalava a revolução como na “West End Memorial”. Ainda houve tempo para cantar os parabéns ao baterista Sean Sellers e para agradecer ao público, que realmente esteve incansável no seu apoio à banda. Diga-se de passagem que todos aqueles clássicos (uns mais recentes outros mais antigos) também assim o obrigavam. Épico.
O problema com os adjectivos é que quando se vive algo especial, fica-se com a sensação (por vezes real) de que estamos sempre a repeti-los. Mas que outra forma poderemos descrever um concerto dos Sick Of It All sem usar a palavra “épico”? Tarefa difícil para não dizer impossível. O momento mais aguardado tinha chegado e era palpável o entusiasmo. Assim que os irmãos Koller e companhia entraram em palco, RCA inteiro bateu palmas e enquanto se ouvia a distorção da guitarra a anunciar a “Take The Night Off”, o vocalista Lou Koller pediu para o público não ser tímido e se chegar mais à frente. Não sendo exactamente timidez aquilo que confinava o público mais atrás, o que é certo é que esse espaço ficou mais preenchido e antes que nos apercebêssemos, já havia toda uma frente unida a entoar as palavras de ordem.
A festa hardcore estava em grande e com uma carreira já tão vasta e ilustre, não houve nenhum momento menos intenso. Desde “Inner Vision” (do mais recente, e excelente, “Wake The Sleeping Dragon!”) a provocar um enorme escarcéu até à incontornável “Us Vs Them” cantada a plenos pulmões por um RCA em extâse. Som poderoso e equilibrado não prejudicou a energia constante da banda que simplesmente não parou quieta. Podem já ter décadas de carreira em cima das pernas mas a energia continua a ser a mesma como se estivessem agora a começar. Energia e entusiasmo partilhado pelo público que viu lhe ser dedicado a “Sanctuary” por todo o apoio. Alternando (já) clássicos mais recentes com mais antigos (“My Life”, a primeira música que a banda fez), até ao final a festa hardcore foi feita de forma rija, não faltando uma wall of death, com Koller, qual Moisés, a puxar pelos dois lados do RCA até os dois se juntarem de forma violenta.
O final foi apoteótico com a “Step Down” e embora ainda houvesse energias (e expectativa) por mais, seria mesmo o fim de uma noite de união punk/hardcore no RCA. A provar que a banda histórica nova-iorquina se rege pelos ideais que proclama, ainda ficaram um bom tempo a cumprimentar os fãs e a despedirem-se de um público que esteve sempre à altura das prestações de topo de topo de todas outras as bandas presentes no evento. Esgotado e inesquecível, uma noite de magia e a prova também que os momentos históricos não passam todos exclusivamente por estádios lotados e que as bandas históricas também tocam à nossa frente e não estão apenas ao alcance do olhar por um ecrã gigante.
Fotos por Sónia Ferreira
Agradecimentos Hell Xis Agency
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