WOM Report – Gold, Earth Electric @ RCA Club, Lisboa – 25.09.19
Certos espectáculos dão-nos a vontade de começar o relato pelo fim – de uma forma informal é sempre como o fazemos – e dizer “que grande noite!” Nalguns casos há uma certa facilidade em descrever o porquê do entusiasmo, mas noutros torna-se difícil quando o processo de apreciação, que normalmente é uma simbiose entre o que se vê e o que se sente, é poderoso ao ponto de parecer que se fecharmos os olhos se vê melhor. Um paradoxo parecido ao de encontrar duas grandes bandas como Gold e Earth Electric a tocar numa casa que poderia estar muito mais cheia do que efectivamente esteve.
Comecemos pelo início, sim? Earth Electric. A banda de Carmen Simões e Rune Eriksen poderia parecer à partida deslocada do universo dos Gold mas ficaria provado que as diferenças estilísticas iriam desaguar as duas no mesmo ponto: o transe. O palco estava disposto de maneira diferente daquela que é habitual no RCA, já preparado para a banda holandesa que viria de seguida, com a bateria posicionada do lado esquerdo do palco em vez do centro. Mais espaço disponível ficou ao centro com Carmen, a última a entrar em palco a ter mais espaço para actuar e sentir a música, assim como Rune e Alexandre Ribeiro (baixista).
Este poderá ser um lugar comum mas definitivamente que corresponde à realidade dos eventos da actuação dos Earth Electric: o espaço vazio de pessoas ocupou-se não só com o som mas com o sentimento que o incatalogável som da banda transmite – podemos tentar stoner progressivo esotérico mas se calhar faria tanto sentido como outra coisa qualquer. Temas como “The Endless Road” e “Meditate, Meditate” têm sempre um forte impacto, ainda mais do que se esperava ao vivo, retirados do álbum de estreia “Vol.1: Solar”, foco principal da actuação. Performances individuais fantásticas onde se destaca o poder de Ricardo Martins na bateria, sempre algo digno de se ver, mesmo estando algo escondido.
Os Gold entraram em palco com a intro da Sínead O’Connor a declamar “War”, ligeiramente alterada, velho clássico de Bob Marley, para entrar logo a matar com o mantra hipnótico de “Wide- Eyed”, um efeito que aliás poderá ser expandido a todo o espectáculo em si. Muito graças às diferentes camadas construídas pelo ataque triplo das guitarras mas principalmente pela voz de Milena Eva. Sem espaço para respirar seguiu-se “He Is Not”, mais um tema do último álbum “Why Aren’t You Laughing”, que foi o centro da actuação, compreensivelmente. A postura do público era de contemplação e também absorção pela música que vinha do palco.
Havia um paradoxo de proximidade/distância entre a banda e o público presente no RCA Club. Se por um lado o público demonstrava o seu afecto sempre que lhe era possível (ou seja, quando havia espaço para tal entre as músicas) e a Milena Eva retribuía de certa forma com reverência e vénias, agradecendo a simpatia, por outro parecia que cada um dos músicos estava no seu próprio mundo. O que também é compreensível, já que o mesmo se calhar poderia ser dito de cada um dos presentes, seja em que ponto se estava na sala. Também houve incursões pelos dois anteriores trabalhos (“Optimist” e “No Image”) com destaque para a “Summer Thunder” e “O.D.I.R.”
O final viria com “Till Death Do Us Part” e “Mounting Into Bitterness” em forma de grande apoteose e a banda saiu de cena de forma tão rápida que se equivale à experiência de ouvir aquele álbum ou de ver aquele filme que quando acaba se quer sempre mais. Ou reviver tudo novamente. Uma noite épica ao alcance de apenas alguns que saberiam o quão especial seria. E especial é apenas eufemismo para as emoções sentidas e vividas.
Texto Fernando Ferreira
Fotos Sónia Ferreira
Agradecimentos Amazing Events
Support World Of Metal
Become a Patron!