WOM Report – Obsidian Kingdom, Gaerea @ RCA Club, Lisboa – 13.11.21
É tanto impressionante como encorojador termos no nosso país à beira-mar plantado uma série de eventos de música pesada a acontecer no nosso país. A maior parte tratando-se de consumo interno, exceptuando os nuestros hermanos Obsidian Kingdom que depois de passarem pelo Hard Club no dia anterior, desceram até ao RCA Club para o segundo concerto no nosso país, o segundo também onde foram acompanhados pelos nossos Gaerea, eles a finalizar o ciclo “Limbo” e que eram obviamente um grande chamariz para esta noite de música extrema. Atrevo-me a dizer até mais do que os cabeças de cartaz mas não foi de todo um cartaz desequilibrado como já iremos provar mais à frente. Curiosamente, no dia anterior, as posições estavam invertidas e foram os portugueses que foram a banda principal.
Assim que as luzes se começam a apagar e se começam a ouvir os primeiros sons que eram o chamado para que a os Gaerea entrassem em palco, o público atendeu imediatamente ao chamado e estava pronto para se mergulhar no abismo que é sentido como pessoal para cada ouvinte. Como sempre, não houve comunicação entre o público e a banda ficando apenas a mesma encarregue à música. A aura criada foi, como sempre, tão densa que por vezes parecia uma parede. Uma parede que por vezes embatia contra o nosso corpo e que por outras simplesmente se fechava à nossa volta. Aquela claustrofobia característica e já esperada.
Apesar de “Limbo” ter sido lançado em 2020, em plena pandemia, os Gaerea foram uma banda que, com mais ou menos dificuldade, conseguiu tocar ao vivo com alguma regularidade e isso (e também o facto do concerto da noite anterior) demonstrou que a banda está num pico de forma incrível. O público recebeu esta actuação com a esperada admiração e reverência (totalmente justificada) conforme os mantras iam sendo ecoados por uma sala muito bem composta. Fica a curiosidade para ver como é que a banda se vai reinventar não só a nível musical como a nível de apresentação ao vivo. O melhor do fim de uma era é a expectativa para a seguinte que se apresenta.
Por falar em expectativa, tenho que dizer que as minhas estavam algo baixas em relação aos Obsidian Kingdom. Tendo começado o culto, com “Mantiis” de 2012, um álbum espantoso, as expectativas estavam tão altas que o seguinte, “A Year With No Summer” simplesmente não conseguiu atingir apesar de não ser um mau álbum. “Meat Machine” já teve um impacto mais positivo sem renegar por completo o anterior trabalho. Com este tipo de expectativas, a forma como a banda catalã se apresentou e agarrou desde o primeiro instante foi, no mínimo, impressionante.
Um concerto que juntou em quase igual medida os três álbuns e os fundiu de uma forma que até me fará rever os ditos com um outro ouvido crítico. A primeira coisa a assinalar foi não haver praticamente comunicação com o público – algo que têm mais em comum com os Gaerea para além de estarem ambos na Season Of Mist. A principal diferença com os Obsidian Kingdom é que apesar dessa falta de comunicação não faltaram momentos onde a banda demonstrou a emoção de estar em cima do palco, frente aquele público que recebeu toda essa energia (acrescida à música, claro) e devolveu em dobro. Uma sinergia emotiva que teve muitos pontos altos. Um deles quando Om Rex Orale, o baixista, saltou para meio do público na “Endless Well”.
Uma das principais razões para que as diferenças estilísticas entre os três trabalhos não se notassem foi sobretudo graças a um alinhamento muito bem construído e que permitiu haver uma dinâmica muito interessante ao longo de toda actuação. Tal como um filme ou uma peça, sem qualquer tipo de intervalo. Que não é fácil de definir assim como o próprio som da banda, que além da componente mais extrema (black/death) tem aquela aura muito própria do post-metal e que chega até a provocar verdadeiros momentos de chillout, com elementos electrónicos.
Sendo a componente orgânica importante (mais que nunca) na vida e tendo já experienciado concertos onde o factor mecânico e rigído da actuação era omnipresente, os Obsidian Kingdom são um exemplo de fazer algo com essa base sem deixar de soar e ser sentido como orgânico. E depois de demasiado tempo a presenciar álbuns ao vivo gravados em estúdio ou a ver concertos em stream, sentir esta energia crua é fantástico. Tanto para nós como para a própria band, que através do seu vocalista Rider G Omega deu a entender isso mesmo com as únicas palavras que disse “Thank You Lisboa, incrível. Best Gig Ever”. Em abono da verdade, somos forçados a concordar.
Texto Fernando Ferreira
Fotos Sónia Ferreira
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