Report

WOM Report – River Stone Fest 2022 @ Rio de Moinhos, Penafiel

No sítio do costume mas num recinto mais aconchegante, o River Stone 2022 arrancou com meia hora de atraso por causa do soundcheck extenso dos Mileth (sim, a última banda…); mas foi da maneira que deu tempo a mais algumas pessoas chegarem para assistir à actuação dos Demonik. Thrash metal madrileno, já com três álbuns editados (e ainda um quarto, “Ashes Of The Earth”, que é a versão em inglês do álbum de estreia cantado na sua língua natal, “Las Cenizas De La Tierra”) mas claramente desconhecidos do público português. Podiam ter sido melhor recebidos – temas como “Insomnia” ou “Monster” mereciam mais movimento – mas abrir um cartaz é muitas vezes ingrato. Uma boa banda, com uma presença em palco bastante expressiva, que depois do público estar já “aquecido” com um nome mais familiar talvez tivesse tido um feedback mais positivo.

Um nome como os Nihility, por exemplo, que ainda estavam a subir ao palco e as primeiras filas já fervilhavam de antecipação. A banda do Porto tem vindo a ganhar uma posição sólida no ranking do death metal nacional e o vigor com que nos trazem “Will To Power”, “Human Stupidity” ou “Prophecy Of Denial” justifica-o. Se são fãs do género e ainda não tiveram oportunidade de conhecê-los, experimentem o segundo álbum “Beyond Human Concepts”, editado em Janeiro, que também recebeu muito boas críticas (embora continue a achar que o seu melhor cartão de visita é em palco).

Uns problemas técnicos atrasaram o concerto dos Equaleft (e consequentemente ainda mais o festival) mas os groovers há muito que provaram ser a definição de “valeu-a-pena-a-espera”.  Foi com eles que teve início a “batalha da palha” – ritual que começa a fazer parte integrante do River Stone – e da qual os próprios Miguel Inglês e André Matos fizeram parte, conforme pode ser visto no live video oficial de “Strive”. Não é a primeira vez que eles saltam para o meio do público na última música, mas com toda aquela palha no ar, pensei que não iam fazê-lo. Parece que até foi quando se divertiram mais. Foi também neste palco que estrearam “And It Will Thrive” e, no final, cumpriram o seu próprio ritual da distribuição de biscoitos húngaros.

O heavy metal dos espanhóis Evil Hunter é do mais clássico que há – algumas passagens lembrando músicas de titãs do género, como Iron Maiden ou Judas Priest, mas nada suficientemente igual para que os acusem de plágio. Além de que o timbre de voz de Damián Chicano torna as músicas totalmente Evil Hunter. Alguns fãs do seu país natal seguiram-nos até Penafiel, mas não foram só eles que se divertiram ao som de “Fear Them All”, “You’ll Never Walk Alone” ou “Hot Leather” (esta, a dada altura, com grande parte do público a berrar aquelas duas palavrinhas no refrão). O segundo álbum, “Lockdown”, saiu em Outubro do ano passado, o nome e o tema-título claramente aludindo à pandemia, mas o ritmo da sua musicalidade corre bem livre.

O death metal melódico – sinfónico, até – dos Godiva também demorou mais que o previsto para fazer-se ouvir (nada relacionado com a maquiagem – a Daniela Sousa é uma profissional e todos os membros estavam devidamente caracterizados à hora marcada) e o público começava a ficar impaciente. Mas as tecnicalidades lá foram afinadas e se houve alguma falha durante o concerto, nem eu nem ninguém deu conta.  Nos poucos concertos (“obrigada”, Covid…) desde o regresso da banda há quatro anos, os temas do EP “Spiral”(2007) têm sido apresentados em versões mais requintadas – uma espécie de remaster ao vivo mas desta vez tocaram apenas músicas do álbum que estão a preparar, como “Empty Coil” e “Dawn”

Thrash tradicional continua a ser dos géneros que move mais metaleiros no nosso país, e sendo a única banda do cartaz de fora da Península Ibérica, fez todo o sentido que os cabeças de cartaz fossem os alemães Dust Bolt. E agora sim, as rodas de mosh ganharam uma nova vida, a condizer com a descarga de adrenalina que emanava do palco. Mesmo a balada “Exit”, que Lenny B. disse ser muito especial para ele e cujo vídeo tinha sido filmado no Porto, deixou os ânimos ao rubro. “Awake The Riot – The Final War”, “Bloody Rain” ou “Rhythm To My Madness” são apenas algumas das restantes músicas que fizeram jus ao título desta última. Old school thrash metal – nada mais a acrescentar.

Muitos deixaram o recinto depois dos Dust Bolt, o que foi totalmente injusto para os The Voynich Code. Sei que quem foi embora foi quem ficou a perder, mas a banda merecia mais. E isto vindo de alguém que não é grande apreciadora de technical death/deathcore e que está sempre atenta ao baixo, que nesta banda não é tocado por ninguém; mas sei reconhecer a excelência de temas como “Antithesis“, “Cleansed Soul” ou “The Darkest Side Of Truth” – estas duas retiradas do mais recente EP “Post Mortem” e que trilhou uma tour europeia onde resgataram o merecido reconhecimento. Em Rio de Moinhos, os poucos resistentes também valorizaram os lisboetas, levando Nelson Rebelo a brincar “estava a ver que não tínhamos direito a palha!”.

Depois de terem atrasado o início do festival com o seu soundcheck, e tendo técnico e mesa próprios, pensei que os Mileth não precisariam de mais verificações e ajustes. Pensei mal… Mas com tantos instrumentos – bouzouki, hurdy gurdy, gaita-de-foles… – acaba por ser compreensível. Folk metal assumidamente pagão, vindos da Galiza e a cantar sobre a mitologia local numa mistura de tons guturais com limpos femininos, é um conceito bastante interessante e festivo, adequado ao encerramento de um festival. Confesso que não fiquei até ao fim, mas creio que “De Bruma E Salitre” e “Petros, Axioma De Terra” não terão faltado.

Além dos agradecimentos habituais, quero parabenizar o Daniel Silva e toda a organização do River Stone por ter reunido tanta diversidade num cartaz só.

Texto e fotos por Renata Lino
Agradecimentos River Stone Fest


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