WOM Reviews – Enigma Experience / Cross Bringer / Bent Out Of Shape / Overcharge / The Bouncing Souls / Chamber / Case 39 / Insanidade
WOM Reviews – Enigma Experience / Cross Bringer / Bent Out Of Shape / Overcharge / The Bouncing Souls / Chamber / Case 39 / Insanidade
Enigma Experience – “Question Mark”
2020 – Fuzzorama Records
É impossível não pensar em Chris Cornell quando ouvimos a voz de Marice Adams, pelo que há desde logo uma enorme marca ou rótulo que surge associada a este álbum de estreia. Assim que se ouve o primeiro tema, mesmo que seja um tema épico de dez minutos, é impossível não pensar em Soundgarden – culpa também da música que tem aquele híbrido de Sabbath alternativo que a banda de Seattle tinha. Mas há mais do que esse lugar comum, tenho de admitir. E há muito mais do que apenas memória de um vocalista que já partiu de uma banda que já acabou. Apesar do cheiro alternativo, a tendência progressiva está bem presente, pelo menos na forma como os temas se desenrolam e nos embalam de um sítio para outro. Sem extravagâncias, de uma forma muito sóbria. Uma estreia bem promissora.
9/10
Fernando Ferreira
Cross Bringer – “The Signs Of Spiritual Delusion”
2020 – Consouling Sounds
A mistura do black metal com o hardcore e o sludge não é nova mas parece que estamos condenados a encontrar novos níveis máximos de intensidade, como aqueles que nos surgem aqui nas mãos da estreia dos Cross Bringer. Um álbum que tendo sido registado durante o período convulso de pandemia, retrata mesmo isso, emocionalmente, essa violência nem sempre contida, nem sempre exposta, latente, que visa espalhar-se como uma doença terminal. Divago. É um trabalho que tem como conceito a confusão interna provocada pela fé ou pela mudança de paradigma que deixa um ser humano sem ter onde se agarrar, com as estruturas da sua personalidade destruídas. É essa negritude, é essa escuridão e confusão dos sentidos que perdura ao longo deste trabalho que não tendo mais de meia hora, tem um impacto que perdura horas. Estreia impressionante.
8.5/10
Fernando Ferreira
Bent Out Of Shape – “Who Laughs Last”
2020 – Demons Run Amok
A capa não parece, mas é de uma banda punk. Deliciosamente irónica. Os Bent Out Of Shape trazem neste 7” um street punk/oi que não tem problemas nenhuns em se instalar desde o primeiro momento em que lhe tomamos conhecimento. São quatro temas inesgotáveis que nos fazem pensar nos momentos (não tão distantes como parecem) em que tinhamos o prazer de cantar hinos como este sem ter que nos preocupar com distanciamento social. Derrotismos longe, porque isto mesmo a ser entoado unicamente com a nossa voz no conforto do nosso lar, não deixa de ter um forte impacto. Para quem o vinil não é apenas uma moda, este item é não só apetecível como recomendado.
8/10
Fernando Ferreira
Overcharge – “Metal Punx”
2020 – Planet K Records
Motörhead, para sempre Motörhead. Podem passar mil anos mas Lemmy será sempre recordado. Quer pela sua própria música quer pela forma como inspirou e continua a inspirar gerações de música. É o primeiro nome que surge quando se ouve “Metal Punx”, o mais recente trabalho dos italianos, que também é o seu terceiro. É um álbum descomprometido com o heavy metal a surgir misturado ao punk e a trazer aquela fórmula embrionária que depois levou ao punk. Cru, selvagem e maravilhosamente inspirado, “Metal Punx” é uma daquelas obras que nos faz lembrar como a música pesada é a única que consegue fazer homenagem a algo que já tem muito tempo e ainda assim soar maravilhosamente fresca.
8/10
Fernando Ferreira
The Bouncing Souls – “Volume 2”
2020 – Pure Noise Records
Um álbum acústico de uma banda punk parece ser algo improvável não é verdade? Pois é precisamente o que temos aqui. É o tipo de coisa capaz de irritar qualquer fã mais hardcore afinal estas coisas das versões, acústicas ou não, são todas uma tentativa capitalista de vender a alma ao diabo. Em abono dos Bouncing Souls, os temas aqui recriados ficaram com uma atmosfera muito própria, quase folk celta. Não só é uma forma de dar uma outra vida aos temas mais clássicos da banda como também atrair e apelar a um público diferente. Na minha opinião foi uma táctica vencedora.
8/10
Fernando Ferreira
Chamber – “Cost Of Sacrifice”
2020 – Pure Noise Records
Espásmico. Algo que induz ou lhe foi induzido espasmos. Instrumentalmente, é a maneira como nos soa o hardcore de “Cost Of Sacrifice”. Espamos de raiva, furiosa mas ainda assim a tentar conter-se. A não fazer grande sucesso nessa tarefa mas ainda assim a tentar. Costumo dar à dinâmica uma enorme importância e este caso não é excepção até porque apesar de não ser, à primeira audição, uma questão relevante, tema após tema, o padrão estabelece-se e fica-se convencido do oposto. Mas mesmo com essa questão a pairar, temos diversos pontos onde, após uma audição mais atenta, conseguimos discernir que ela está presente. Temas como “Impulse” são o exemplo máximo disso mesmo. Um trabalho para testar os limites da dinâmica. Se é demasiada (tanta que fica a faltar na mesma) ou se é apenas uma prova de que é preciso ir para além da superfície.
7.5/10
Fernando Ferreira
Case 39 – “Kick The Devil”
2020 – STF Records
Os Case 39 surgem rotulados como punk rockers (verdade seja dita com uma mistura de punk com rock e aquele espírito descomprometido dos Motörhead) e embora seja uma aplicação muito vasta do termo, não deixa de fazeer sentido. A nacionalidade fica logo a nu. Embora cantem em inglês, a entoação revela logo a nacionalidade germânica. É um conjunto de temas descomprometido, com uma produção crua, como se espera aliás. Não tem tantas dinâmicas como aquelas que desejaríamos mas no final cumpre o seu propósito de entreter e ainda consegue apresentar algumas melodias que ficam – como a “Romantic Fools”
6/10
Fernando Ferreira
Insanidade – “Hello Suckers”
2020 – Edição de Autor
Os Insanidade não enganam ninguém. Tocam punk rock com letras cantadas em português e atitude que está patente desde a produção algo precária às vocalizações que parece que estão a querer estourar uma coluna (das nossas quando ouvimos ou o microfone de quando foram registadas) ou arrebentar uma veia do pescoço do vocalista, tal não é o esforço (visível). É desconfortável para os ouvidos e é o grande problema destes temas que não aproveitam o seu potencial. Uma outra abordagem vocal com mais dinâmica – não é isso que os vai tirar o rótulo de punk do lombo – seria muito bem vindo.
4/10
Fernando Ferreira