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WOM Reviews – Gåte / Metadevice / Ser / Sarram / Oslo Tapes / Sigillum S & Macelleria Mobile Di Mezzanotte / Marco Franco / Odraza

WOM Reviews – Gåte / Metadevice / Ser / Sarram / Oslo Tapes / Sigillum S & Macelleria Mobile Di Mezzanotte / Marco Franco / Odraza

Gåte – “Til Nord”

2021 – Indie Recordings

Quando se pergunta qual o poder da música, a resposta imediata é “fazer sonhar, fazer sentir, um mundo de sensações novas. Se perguntarem porque é que fazemos o que fazemos, a resposta é taxativamente tão imediata quanto egoísta – “porque há a possibilidade de sonhar e sentir com um mundo de sensações novas”. E quando passa pela mesa de trabalho um EP assim, é como se tivessemos renovados os votos de paixão e dedicação pela causa. Folk norueguês com um enorme sentido de profundidade e emocionalidade épicas. Diz o comunicado de imprensa que este EP, que contém regravações de velhos clássicos da banda e que abre também a porta para aquilo que vão fazer no futuro. Não é preciso me convencerem mais, afinal antes mesmo de fazer a pergunta, a resposta surgiu logo: “é por isto, é por isto que fazemos o que fazemos”.

9.5/10
Fernando Ferreira

Metadevice – “Turba”

2021 – New Approach Records

Depois do lançamento da faixa épica “Fallen Outside Of Memory” no ano passado, Metadevice está de regresso para o seu segundo álbum de originais e com algumas novidades para o seu industrial/noise que desde cedo se categorizou como único dentro da oferta no panorama nacional e internacional. A grande novidade é a inclusão da voz de Rui Almeira (vocalista dos NU, banda que já passou por estas páginas e que é um dos grandes tesouros do rock experimental nacional ainda por descobrir) que através de spoken word ou de forma mais entoada traz-nos declamações quer em português como em inglês. A desesperança é a palavra de ordem e vive através da opressão do ouvinte, com até mais maleabilidade do que aquela que se espera encontrar num disco de industrial/noise. Há uma estética que poderia pertencer facilmente numa banda sonora de um filme e é nesse contexto de desesperança crónica a trazer-nos imagem que reside a maior conquista de “Turba”.

9/10
Fernando Ferreira

Ser – “Valsa de Curto Pé”

2021 – Raging Planet

Cool. Primeiro termo que surge em pensamento conforme “Sem Tempo” se faz ouvir. Lembrar o primeiro impacto que bandas como Clã, Ornatos Violeta e Mesa tiveram aquando das primeiras aduções. Um bom gosto gigante na forma como estes temas estão construídos e como conseguem cativar sem que estejamos a pensar em rótulos – mas sabendo que é mais forte que eu, seria colocá-los ali entre o indie e pop/rock alternativo. Um conjunto de temas ambicioso e que apesar de surgir num período complicado para a cultura em geral e música em particular (algo que vai para além de períodos pandémicos), acredito que será sem dúvida um marco na música nacional. Fantástico Ser, que nos embala com esta valsa marcante.

9/10
Fernando Ferreira

Sarram – “Albero”

2021 – Subsound

Valerio Marras e o seu projecto Sarram já são velhos conhecidos nossos. Podemos dizer que nos acompanha praticamente desde o início. Por isso é sempre com grande satisfação a cada momento que o vemos a lançar mais um trabalho e também verificamos a sua evolução. Depois de um som mais minimalista com “Silenzio”, editado no ano passado, Valerio está de volta com este Albero que apesar de não prescindir desse minimalismo – que acaba por estar inerente à estrutura do som deste trabalho – transcende para uma maior profundidade e abrangência. Não só ambient nos é apresentado como também o drone mas desta vez com mais distorção. Atrevo-e a dizer que será o seu melhor trabalho até ao momento, que flui todo como um só, apesar de dividido em oito músicas. Perde-se a noção do tempo mas ganha-se pela forma como somos obrigados a olhar para pedaços da nossa própria psique. Alguns nem todos agradáveis mas que resultam no completar do todo que somos.

9/10
Fernando Ferreira

Oslo Tapes – “Ør”

2021 – Pelagic

Não os Oslo Tapes não são noruegueses, são italianos e este é o seu terceiro álbum. Para quem só chegou agora, prepare-se para uma daquelas viagens desconcertantes. Já apanhámos muitos álbuns difíceis de catalogar (e quase sempre por consequência difíceis de interiorizar) mas este deve bater recordes. No entanto, ao contrário do que disse atrás, é bem fácil de interiorizar e absorver. Isto porque há um feeling psicadélico irreal – quase onírico – que percorre cada um destes temas. Isto com cada um deles com uma vibe bem específica. Existem momentos de transe que são imediatos (“Zenith” é um deles, com um ambiente místico) enquanto outros demoram a entrar e a assentar – o que não quer dizer que não se tornem depois os favoritos (“Bodo Dakar” neste caso). Multiplicidade de sensações num álbum que busca reacções e interacção do ouvinte. E consegue, com sucesso. Uma forma diferente de fazer música psicadélica.

9/10
Fernando Ferreira

Sigillum S & Macelleria Mobile Di Mezzanotte – “Blues And Doped Flowers From Twenty Three Years After Eschaton”

2021 – Subsound Records

Como já disse muitas vezes, gosto destas experimentações onde duas entidades (mais ou menos semelhantes) se juntam para um propósito comum. De um lado, Sigillum S, colectivo dono de uma sonoridade que vai do electrónico ao noise. Do outro, os Macelleria Mobile Di Mezzanotte que lhe dão forte no noise e power electronics. Ou pelo menos davam até passarem a dar mais importância a ambientes mais cool e próximos do ambient. Portanto pode-se dizer que temos quase duas faces da mesma moeda. O resultado é um disco com duas faixas que se fundem uma na outra, onde o chillout (ou pelo menos o feeling do chillout e até do trip hop) domina. É só trinta minutos e esse é o grande defeito porque no final sabe a pouco. O lado bom é que a viagem é tão boa que conseguimos dar diversas rodagens sem que se canse.

8.5/10 
Fernando Ferreira

Marco Franco – “Arcos”

2021 – Revolve

O piano tem, por si só, um imaginário muito próprio. Seja em conjugação com outros instrumentos clássicos, seja em componentes mais modernas ou simplesmente a solo, o som do piano traz-nos logo imagens muito específicas. Essa cor está agora em exclusivo no segundo álbum a solo de Marco Franco. São oito temas onde as melodias mais suaves surgem, mais próximas do um ambiente jazz – como que a lembrar ligeiramente Keith Jarrett – do que do clássico. Para relaxar e para viajar para quem gosta de olhar para dentro e encontrar reflexos do mundo exterior ou simplesmente ideais de consciência, esta será uma fantástica ferramenta.

8/10
Fernando Ferreira

Odraza – “Acedia”

2021 – Godz Of War Productions

Este é um EP estranho. Em formato digital saiu com apenas um tema, “Acedia II” que tem pouco mais de vinte minutos e é uma deambulação por o que parece ser um exercício livre para nos trazer uma banda sonora. Vinte minutos mas que no fundo antes de atingir essa marca, tem uns minutos de silêncio para depois apresentar umas melodias de sintetizador da década de oitenta. Já a versão física traz um “Acedia II” que ao contrário do primeiro tema, aposta sobretudo na componente mais ambiental e electrónica. Um trabalho estranho, como já disse (e odiando me repetir, é porque quero que não se esqueçam) mas que é uma boa surpresa para quem gosta de ambient. Não sei se o próximo álbum da banda vai trazer algo neste género, mas estou curioso.

8/10
Fernando Ferreira

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