Review

WOM Reviews – Kerasfóra / Skinliv / Vermisst / BÂ’A / Úlfarr

Kerasfóra – “Denn die Todten Reiten Schnell“

2021 – Qalmana / Iron Bonhead Produuctions / Ars Negative

Assente numa base mais lenta que o normalmente escutado no Black Metal Sul-americano, Kerasfóra , chilenos, apresentam-nos a sua Demo de estreia. Sendo de Agosto de 2021, estranho que não tenha chegado a mim a informação deste trabalho, e deste projecto… still in time. Lento, fantasioso quase, melódico, romantizado de certa forma; vindo da zona gerográfica de onde vem, não esperava deparar-me com tamanha surpresa, mas wow! O recurso a teclas dá uma grandiosidade à música, sendo que, a par das guitarras, é aqui que vemos o quão boa esta Demo é. Novamente, bastante disitinto do Black Metal que normalmente nos chega destas costas, aqui temos uma abordagem igualmente singular, em que sentimos que a procura máxima é a melodia, e não a (quase fabricada) podridão da maioria do Black Metal a que temos acesso hoje em dia. O próprio nome da Demo, “We and the dead gallop thro’ the night” (“Lenore”, de Burger), acaba por ser uma excelente nomenclatura para esta: há todo um sentimento mórbido, ainda que romatizado; uma teatralização do estado da Morte; o embelezamento da decrépita realidade do Ser. Do 1.º ao último tema o ouvinte é transportado pelas palavras do poeta, acompanhado pela luz da Lua, em que o Black Metal melódico é a banda-sonora. Arrisco dizer que esta Demo funcionaria como a perfeita banda-sonora para o “Dracula” de Bram Stoker, ou não fosse o Amor um sentimento pesado e, por vezes, mórbido.

9/10
Daniel Pinheiro


Skinliv / Vermisst – “Split”

2022 – Nebular Carcoma Productions

Nem sabia muito bem de que forma iniciar esta review. Não encontrei, de certa forma, as palavras que melhor representariam a experiência sonora que é este Split, com especial incidência no desempenho apresentado por Skinliv. As melodias, envoltas num manto de obscuridade e um ritualismo quase palpável. Há toda uma ambiência maligna que se apodera do ouvinte, que nos arrasta, no prende e nos trucida. Adoro o ritmo a que a música se desenvolve: lento, arrastado, delicadamente estruturado de forma a levar-nos por etapas, e mais etapas, até um anti-climax, uma confrontação com a Negritude que nos abraça. Lírico? Demasiado cheesy? Honestamente… isto é Black Metal! É visceral e abrasivo; melódico e primitivo. Arrisco dizer que Skinliv é daqueles pequenos – enormes – tesouros, escondidos diante de todos. Agarrem, mas agarrem depressa. Este pessoal é brilhante. Encontramos linhas melódicas bastante segunda vaga, mas tão bem estruturadas, que depressa entendemos que estamos em território demarcadamente Skinliv. De seguida? De seguida Polónia, e Vermisst. Este trio não me era de todo desconhecido, e foi com expectativas que me “lancei” a este novo trabalho. Um pouco em linha com os companheiros de lançamento, também estes vivem em territórios tétricos e envoltos num sentimento fúnebre. Isto leva-me para aquela franja do Black Metal em que me sinto em casa: ambiências escuras e densas, ritmos lentos e pesados, o termo primitivo, aqui, encaixa na perfeição (primitivo é diferente de dissonante, só assim como nota). As teclas, que tão bem preenchem os espaços, dão aos temas aquele sentimento… tétrico. Engraçado que sempre associei este trio, sempre os “pintei” de uma forma muito cerimonial, uma cerimónia fúnebre. Um pouco como o que fazemos – ou podemos fazer – com os “nossos” Defuntos, esta realidade da Morte, do Funeral, encaixa na ideia musical de ambos, ainda que de formas distintas: a dor da Morte e do acto de enterrar um amor, a este imaginário mais físico e palpável do espaço cemitério. Fez sentido? Esperemos que sim. De qualquer forma, todo este imaginário é devidamente delineado através do recurso às teclas, essencialmente, e a uma excelente estrutura instrumental. As vozes… são as vozes do Além. Em jeito de conclusão: dos melhores Splits que já tive a oportunidade de ouvir.

9/10
Daniel Pinheiro 


BÂ’A – “Egrégore”

2022 – Osmose Productions

“Egrégore” é um álbum de black metal da banda francesa BÂ’A que faz o suficiente para captar a atenção dos fãs do género numa vertente mais atmosférica, mas parece-me que insuficiente em atrair outros fora do género. Há boa moda antiga, este trabalho tem poucas faixas, mas com duração suficiente para equivaler a um álbum “normal” e segue uma estrutura bastante típica do género – instrumental a preencher a totalidade do álbum com tons distorcidos e com o vocal rouco a se moldar na tela que se monta, sem nunca assumir o local principal. No geral, este trabalho não sai muito das normas do black metal que se apresenta como uma boa audição, mas que não (me) agrada o suficiente para se tornar uma recomendação especifica.

7/10
Matias Melim


Úlfarr – “The Ruins of Human Failure”

2021 – Purity Through Fire

Formados há mais de uma década, os britânicos Úlfarr regressam com mais um EP. Um conjunto de 6 músicas em pouco mais de 25 minutos. É Black Metal, com força e hostilidade. Não contém descobrir atmosferas elaboradíssimas, ou intrínsecas melodias… isto é Black Metal! Soa bastante a algo saído da Noruega, como tantos outros por esse Mundo fora. Para quem absorve tudo aquilo que os país das fiordes expele, está aqui um caso que segue essa exacta linha. Pessoalmente, não encontro nada de extraordinário neste lançamento. É mau? De forma alguma. “Mata a minha fome” de Black Metal? Não. Em dados momentos sinto que estou num álbum de Thrash, não pela velocidade a que os riffs rasgam os canais auditivos, mas pela abordagem. Curiosidade: Úlfarr é um músico, os seus instrumentos, e o seu computador. Raios no Varg, que sem se aperceber deu azos a esta realidade solitária mas é então que algo ocorre! Após os 4 temas iniciais somos recebidos por uma malha bastante mais interessante: lenta, densa, uma melancolia daquelas que vai resgatar aquilo que o acima referido músico concebeu no Passado. É aqui, quando abrandamos o ritmo e criamos estas melodias mais negras, mais “mortas”, que este trabalho ganha outra luz. Isso mesmo, luz… mas negra. “Forgotten By Time” “arrasta-se” por 8 minutos e 42 segundos, e são imensamente superiores ao que ouvimos até agora neste lançamento. Não desafia as regras do género, nem tem pretensões de tal, mas apresenta-nos algo bem concebido. “Cold in Death” é uma peça instrumental que encerra o EP, e de que forma. No geral é um EP com duas faces, duas abordagens – quase que me dá vontade de escrever “Split” – que ganha mais vida, quando “morre”.

7/10
Daniel Pinheiro


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