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WOM Reviews – Shredding Extravaganza / Dream Theater / Jupiter Hollow / Voivod / Dawnwalker / Mustard Gas And Roses / Royal Hunt / Ectratis

WOM Reviews – Shredding Extravaganza / Dream Theater / Jupiter Hollow / Voivod / Dawnwalker / Mustard Gas And Roses / Royal Hunt / Ectratis

V/A – “Shredding Extravaganza”

2020 – Larvae Records

Excelente ideia, esta da Larvae Records juntar num só disco, uma série de nomes que tratam a guitarra como rainha. Confesso que há muitos aqui que me surgem pela primeira vez – ou se calhar já os conhecia mas não no contexto a solo – mas essa é a parte boa desta compilação. Numa altura em que a informação está sempre in-your-face e que está tudo ao alcance (e que completamente anulou o poder que as compilações tinham de levar música a nova ao povo), é impressionante verificar como conseguimos ficar rendidos a nomes que não conhecíamos. E apesar daquilo que se possa ficar a pensar pelo título, não se trata apenas de uma vertente metal. Temos uma vertente mais fusão (Zé Pedro e Pedro Mendes) ao lado de abusos que em nada ficam a dever a Jeff Loomis (José Sousa), sem esquecer os nomes incontornáveis (Paulo Barros, Tó Pica e Gonçalo Pereira) e da vasta oferta rock e metal (Diogo Agapito, Rute Fevereiro e Hélder Olivereira), ora mais tradicional (Filipe Ferreira, Artur Capela, Pedro Silva e António Soares), ora mais moderno (Kebras, João Jacinto, Alex Moreira, Miguel Azevedo). São quase oitenta minutos de guitarra a “falar” em português e a provar, provavelmente para muitos cépticos, que Portugal tem um grande stock de valores.

9/10
Fernando Ferreira

Dream Theater – “Distant Memories – Live In London”

2020 – InsideOut Music

Inevitavelmente sabia-se que ia dar nisto. Ao ser anunciada a digressão que ia passar por Portugal e que ia recordar, na íntegra, o álbum que transfigurou a carreira dos Dream Theater, “Metropolis Pt.2 – Scenes From A Memory”, sabia-se que inevitavelmente teriamos o CD/DVD/Blu Ray da praxe. E assim foi. Olhando para trás e pecebendo que foi um dos últimos concertos do ano, não deixa de se sentir que foi num outra mundo, numa outra vida. De certa assim foi. Só tivemos acesso ao suporte áudio, pelo que só me posso debruçar sobre a música mesmo. Divido em três discos, temos, como o título deixa bem claro, um claro foco entre o útimo álbum, “Distance Over Time” e o dito álbum conceptual, com algumas saltadas selectivas ao vasto repertório da banda. “Untethered Angel”, “Fall Into Light”, “Barstool Warrior”, “Pale Blue Dot” no início e “At Wit’s End” (e “Paralysed” como faixa bónus, um tema que não tocaram no Campo Pequeno) no final foram os escolhidos e de outros trabalhos só tocaram a “A Nightmare To Remember” e “In the Presence Of Enemies Part 1”. O grosso do interesse estava sobretudo em revisitar “Metropolis Pt. 2” mais de vinte anos após o lançamento mas temos que admitir que este é mesmo um lançamento apenas para fãs fanáticos. Sendo a segunda vez que tocam o álbum na íntegra e que o lançam como um produto, quem tem saudosismos dessa altura, talvez não tenha tanto interesse neste lançamento a não ser por puro coleccionismo. O facto de estar em três discos quando poderia estar também em dois tambem é sinal dos tempos, onde antes a banda tinha facilidade em tocar três horas por concerto. Não se pode ter sempre a mesma estaleca e este álbum é uma justa e merecida homenagem a um álbum que é, na minha opinião, um dos grandes álbuns conceptuais da história da música e do metal progressivo de uma banda que mudou bastante em duas décadas mas soube envelhecer bem. É nisso que este álbum merece ser destacado. A celebração de um dos grandes álbuns depois da celebração mais contida do último álbum de originais. Dizer que falta qualquer coisa é redundante, afinal é Dream Theater. Para não faltar nada só mesmo ouvindo a discografia quase na íntegra, mas é um álbum que serve para assinalar a passagem do tempo, a distância que vai entre a realidade e as memórias que temos do passado.

8/10
Fernando Ferreira

Jupiter Hollow – “Bereavement”

2020 – Edição de Autor

O duo canadiano de Ontario não gosta de rótulos, dizendo “gostar de manter as opções abertas”, o que realmente ajuda na prossecução do seu projecto musical com um metal alternativo a pender para o progressivo. Em 2020, “Bereavement” definiu-se como o segundo disco de originais de dois jovens na casa dos 20, aliás com menos de 25 anos. Apesar da juventude, este segundo álbum marca uma maturidade muito acima da média, demonstrando fortes influências em bandas como Tool, Dream Theater ou até pioneiros como King Crimson e, porque não, em ELP. Os ainda independentes conseguem um belo resultado, surpreendido pelas fantásticas composições sonoras e letras muito experientes e valiosas. “Bereavement” é polivalente e diverso, com rock progressivo e metal progressivo numa fusão uníssona que vai espantar com a inclusão intensiva de teclados e sintetizadores, bem como de elementos de pós-produção realmente interessantes.

8.5/10
João Braga

Voivod – “Lost Machine”

2020 – Century Media Records

Os Voivod não são uma banda normal. Desde o início que se tem essa percepção, mesmo quando tocavam uma forma de thrash metal técnico e esquisito. Como todas as bandas que… não são normais, eles trazem um som muito próprio e uma identidade que é única. É comum apelidar o que fazem de metal progressivo porque também não há outra melhor descrição – que não pareça forçada como pós-thrash prog punk metal/rock. Com quase quarenta anos de carreira, seria complicado encontrar tempo suficiente para focar toda a sua carreira. Como tal existem muitos álbuns que ficaram da fora do alinhamento, surpreendentemente o passado mais recente, sendo uma escolha que recaiu entre temas do último álbum “The Wake”, temas de EPs como “Post Society” e “Fall” e ataques cirúrgicos a álbuns clássicos como “Killing Technology” e “Dimension Hatröss” sem faltar a clássica “Astronomy Domine” de Pink Floyd. Curiosamente e perante uma banda que aparentemente tanto nos últimos anos, este é um trabalho bem heterogéneo e por isso uma excelente representação de uma banda de culto em cima dos palcos.

8/10
Fernando Ferreira

Dawnwalker – “Ages”

2020 – Edição de Autor

“Ages” foi a minha porta de entrada para o mundo dos Dawnwalker. Diz o comunicado de imprensa que esta banda não tem dois álbuns iguais. Isso poderá ser potencialmente bom – a manter a diversividade – como mau – já que posso ficar tão preso a estes temas que algo substancialmente diferente possa implicar já expectativas frustradas. Mas chega de mim. O que “Ages” tem é uma abordagem refrescante ao metal progressivo e à forma como o junta a uma ambiência “pós-qualquer-coisa” não muito definida. Essa indefinição acaba por ser a sua maior arma, algo que nos vai intrigando enquanto a música vai encantando. É uma daquelas tempestadas perfeitas em que tudo se conjuga para trazer algo muito bom e memorável. E é inevitável não ter expectativas em relação ao próximo álbum (ou anterior) quando este é assim tão bom.

9/10
Fernando Ferreira

Mustard Gas And Roses – “We Are One”

2020 – Edição de Autor

Podemos abordar este trabalho de muitas formas mas por muito que se tente andar à volta da questão, o que é certo é que estes Mustard Gas And Roses (que raio de nome!) chamam a atenção por ser o novo casulo criativo de um tal de Michael Gallagher, de uns tais saudosos Isis. Pronto, já tirámos isso do caminho. O que também é importante salientar rapidamente é que não é unicamente aí que reside o seu valor. Os que pensam em Isis, não vão encontrar aqui o mesmo tipo de intensidade. As coisas estão um pouco mais atmosféricas e mais emocionais. Ainda mais atmosféricas e ainda mais emocionais e não tão pesadas. A paixão não é imediata mas há aqui material para um pequeno affair. Um EP encorajador.

8/10 
Fernando Ferreira

Royal Hunt – “Dystopia”

2020 – NorthPoint 

Os Royal Hunt não são uma banda de fácil acesso. Tem dois álbuns na sua discografia que são clássicos (“Moving Target” e “Paradox”) mas não são uma banda que entre à primeira para quem gosta de heavy metal melódico, para quem gosta de power metal e para quem gosta de progressivo. Sempre teve características muito próprias que fez com que fosse fácil distinguir o seu som. O que também fez com que seja complicado para não se sentir que não se está sempre a fazer o mesmo. “Dystopia” é um bom álbum de Royal Hunt onde a banda não tem receio desse seu som característico mas desta vez dota-o de canções sólidas. Devo dizer que há por aqui certos detalhes que poderiam ficar de fora – a intro longa por exemplo, poderia ser muito mais curta. O facto de também termos uma série de convidados que resultam em termos temas que nem sequer são cantados pelo vocalista D.C. Cooper, também faz com que nos questionemos da razão dessa decisão. Serão temas que a banda espera não tocar ao vivo? Será que a voz de D.C. Cooper (a acusar o peso da idade) já não está a altura para esses mesmos temas. Questões secundárias, admito, que apenas surgem na tentativa de tentar perceber melhor o que está por trás. “Dystopia” não é, nada mesmo, um mau álbum. Antes pelo contrário, é bastante sólido como um todo mas há uma sensação de faltar algo, de algo não estar bem. Felizmente temas como “The Art Of Dying” conseguem inverter, ainda que temporariamente, essa sensação.

7/10
Fernando Ferreira

Ectratis – “The Artificial Spirit”

2020 – Ectratis Music

Álbum de estreia deste versátil projecto, Ectratis. Versátil porque apesar do rótulo rock progressivo lhe assentar bem, consegue apresentar diversas abordagens do mesmo. Aquele que prevalece é mesmo a abordagem que nos faz lembrar a década de oitenta, quando as bandas de rock progressivo da década de setenta começaram a transformar o seu som de forma a ficar mais acessível. É uma one-man band, portanto há por aqui limitações que são expectáveis num projecto assim – por vezes aquilo que uma música precisa para evoluir é mesmo a interacção de ideias e uma perspectiva diferente. Suave e com bastante classe – instrumentalmente está muito bem conseguido – mas incapaz de nos apresentar temas memoráveis ou que não soem como algo recuperado de um arquivo qualquer da década de oitenta.

6/10
Fernando Ferreira

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