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WOM Reviews – Vintlechkeit / Förgjord / Schattenfall / Taake / Deathcult / Morta / Justabeli / Idolatria / Schizochristo

WOM Reviews – Vintlechkeit / Förgjord / Schattenfall / Taake / Deathcult / Morta / Justabeli / Idolatria / Schizochristo

Vintlechkeit – “Svartskogen, Svartvinter / Dødssted”

2020 – Eternal Death

Seria totalmente absurdo da minha parte, arriscado até, negar a importância que a Noruega teve na génese do Black Metal que hoje temos. Inúteis debates sobre quem deu forma a, quem realmente criou ou deixou de criar o que quer que seja, são caminhos que não quero percorrer, tal é a parvoeira que por estes viaja. Assim sendo: Noruega & Black Metal em 2020. Sim, há. Sim, é bastante acima da média. Concebidos em 2017 por Ghoul, Vinter e Svarter, desde então, entre Demos, Splits e Compilações, editaram 30 lançamentos. Inegável a capacidade produtiva deste trio. Ignoro, isso sim, a qualidade da sua discografia, estando cingido a esta nova compilação que aqui vos apresentamos. “Svartskogen, Svartvinter / Dødssted” é a junção das Demos originalmente lançadas em 2019. O que temos, então, aqui?! Black Metal Ambiental como uma constante presença de um Black Metal gélido, como as fjordes do país de origem. 4 temas, 2 de cada Demo, 2 momentos distintos e demarcados: o lado Ambiental e o lado Black Metal. A Noruega deixou de criar bom Black Metal?! Não, de modo algum. Alguns músicos “conseguiram”, de algum modo, sair da esfera que há anos e anos os “assombra”, do TNBM? Quiçá. Não será, a uma primeira audição e sem conhecimento prévio da banda, uma que associaríamos à cena norueguesa, mas isso mostra que o universo Black Metal, mesmo na Noruega, é capaz de conceber algo que vai mais além das raízes do mesmo. Melodias geladas e dilacerantes. As queimaduras do frio, do vento gelado. É assim que imagino a transição deste som para algo real e palpável. A produção é lo-fi q.b., para nos dar aquele calafrio enquanto nos permite assimilar cada pedaço, de cada tema, como a devida atenção. A voz, enterrada na mistura, ajuda a criar este desconforto satisfatório, sentimento esse que é – ou deveria ser – natural no Black Metal. Aconselho? Dêem a devida atenção a este prolífico projecto, é capaz de muito bem vos surpreender.

9/10
Danie Pinheiro

Förgjord – “Laulu Kuolemasta”

2020 – Werewolf Records

Quando falo em black metal primitivo, é exactamente o som dos Förgjord que tenho em mente. A banda finlandesa tem mais de vinte anos de carreira mas não tem um historial rico de lançamentos, apesar de nos últimos anos o seu ritmo editorial ter aumentado bastante. Há toda uma atmosfera que é mais importante que riffs ou que qualquer outra coisa. Funciona tudo como um todo. O que significa que não é para todos. Vive pela atmosfera e por vezes magoa os ouvidos pela produção tosca mas mesmo assim consegue surpreender pelos pormenores melódicos que tira da cartola – ou neste caso, do gravador de quatro pistas. Não é para todos realmente, o que só faz com que seja mais bom.

8.5/10
Fernando Ferreira

Schattenfall – “Das Verderben”

2020 – Redifining Darkness / Wolfspell Records

Formados em 2017, os Schattenfall são uma banda alemã de black metal do tipo atmosférico. Após o lançamento de dois álbuns em 2017 e 2019, os germânicos estrearam este ano o seu mais recente EP “Das Verderben” (a desgraça). Felizmente, o EP não o é aos ouvidos dos seus ouvintes, sendo também de alertar àqueles com menor queda para os estilos ambiente, o facto de que a banda não mergulha muito intensamente nessa vertente. O ambiente aqui criado é um de tensão hipnotizante e não tanto depressivo como seria espectável de uma banda de uma banda deste estilo. Em geral o álbum cria um ambiente excelente sem qualquer tipo de furos através de um vocal rouco mas compreensível, com uma bateria gutural e com trabalho de guitarra pouco estridente mas muito envolvente, sendo que seria difícil de o enquadrar no género se fosse diferente.

8/10
Matias Melim

Taake / Deathcult – “Jaertegn”

2020 – Edged Circle

Pela 2.ª vez este ano, o Sr. Hoest aventura-se no mundo das parcerias, se assim o podemos colocar. Depois de “Pakt”, em que uniu forças com Whoredom Rife, “Jaertegn” vê-o aliar-se a Deathcult. Desta feita a cover escolhida é de Darkthrone (“Ravnajuv”), para contrapôr com a que nos apresentou previamente, de The Sisters of Mercy. De referir que os Deathcult dão-nos uma cover dos (mighty) Beherit (“Black Arts”). Fica já o comentário: ambas as covers estão imensamente bem conseguidas. Mas vejamos algo: que se pode esperar de um Senhor que há anos e anos palmilha o solo putrefacto e herético do True Norwegian Black Metal?! Somente resultados acima da média, claro. Sempre fiel às raizes do Black Metal norueguês, sem por um momento esquecer as suas linhas de criação, “Slagmark”, o tema original escrito para este Split, mostra-nos que os Taake – ou o Hoest – ainda estão capazes de nos dar, fãs sedentos de Black Metal, música que se mostra válida e capaz de ajudar o género a persistir. Com toda aquela garra tão característica da banda, o tema não foge dos moldes de sempre, mas este “de sempre” é sempre bom! Passagens lentas, que de imediato encetam numa selvagem cavalgada, desfile de riffs de guitarra com o cunho Taake. Passagens, outras, melódicas e melancólicas. Vamos de um extremo ao outro do espectro e saímos satisfeitos. O “lado” destinado aos Deathcult, banda onde também pontifica o Sr. Hoest, ladeado por ex-membros de Taake ao vivo (Thurzur e Skagg), e onde este se “limita” ao baixo, é mais um exemplo que a sigla TNBM ainda tem peso! Formados em 2006 e já com 2 álbuns às costas, os Deathcult são, na minha opinião, uma versão mais visceral do TNBM, que os Taake. Sim, as influências são sentidas, mas estes parecem-me muito mais “straight to the point” que os seus companheiros de Split, e a cover de Beherit vem-me dar razão, arrisco dizer! A mecânica do tema original – “Der Würger”, “O Estrangulador” – passa por intercalar momentos de agressividade com momentos mais calmos, para de seguida nos presentar com mais uma descarga de força e aspereza. É bom, ou não tivesse vindo de quem veio, mas fica um pouco aquém do apresentado por Taake. Quanto à cover de Beherit… Beherit é daquelas bandas que, para muitos, a “digestão” se torna difícil. Compreendo. Resultou bem. Lento, denso, escuro… Beherit. No geral o resultado final deste Split é bastante positivo. Se esperava mais de ambas as bandas? Mentiria se dissesse que não. Taake já nos habituou a material sempre acima da média e sempre “outside the box” (banjo, anyone?), Deathcult é um act um tanto ou quanto mais visceral, e mostrou-o.

8/10
Daniel Pinheiro

Morta – “Fúnebre”

2020 – Signal Rex

Badalona, Terras Catalãs, Morta, Black Metal. Este trio, formado por Cardhem (Baixo e vocais), M.W. (Bateria e vocais) e Necroceron (Guitarra e vocais), deu os primeiros passos em 2016. Todos eles músicos com várias experiências prévias no mundo da música, e do Black Metal em concreto, tendo inclusivé tocado juntos em projectos anteriores. “Fúnebre” é o 2.º trabalho da banda após a Demo “The Descent of Innanna”, de 2017. Com data de edição a 28 de Agosto pela nacional Signal Rex, em Tape e CD e, pela Poisonous Sorcery em formato Vinil, “Morta” mostra-nos uma banda com uma sonoridade actual, ainda que com diversas influências dos tempos áureos do Black Metal, especialmente audível no trabalho de guitarras: melódico, áspero. O som, Lo-fi q.b., ajuda a que a aura ocultista e mística assuma o domínio, tanto dos temas como do ouvinte. Aquilo que aqui temos é Black Metal em todo o sentido do termo / género. As vocalizações, profundamente “soterradas” por baixo da parede de som que os músicos criam, ergue-se para espalhar enxofre e incenso. Cáustico e, ainda assim, imensamente preenchido por melodia. “Fuego y Hueso”… Black Metal. 1 Pré-intro (?), 1 Intro, 5 Temas e 1 Outro. Não contem com inovações ao género ou passagens de mestria instrumental, aqui ides encontrar Black Metal, com sentimento e garra, harmonioso e místico, reminiscente dos anos 90 e com um toque de actualidade. Uma excelente contribuição, para o género, destes Catalães.

8/10
Daniel Pinheiro

Justabeli – “Intense Heavy Clash”

2019 – Edição de Autor

O Brasil tem um dom muito único para fazer black/death metal de qualidade (ou vice-versa), desde os primórdios da música extrema. Os Justabeli não chegam a esse ponto mas estão a criar uma carreira sólida ao longo dos anos. Este terceiro álbum lançado no ano passado evidencia isso. Temos uma certa aura nórdica – a lembrar um bocado os riffs de Dissection – e boas estruturas de temas que só pecam por uma produção onde a voz surge demasiado in your face. Tirando esses detalhes, e apesar do título estranho, “Intense Heavy Clash” é um bom álbum de música extrema e blasfema.

7/10 
Fernando Ferreira

Idolatria – “Tetrabestiarchy”

2020 – Signal Rex

Formados em 2013, o quarteto italiano edita em 2020 o seu 2.º álbum, e desta feita pela portuguesa Signal Rex. 5 anos distam entre este e o seu antecessor, ” Breviarium Daemonicus Idolatrorum”. É fácil, arrisco dizer, perceber que a temática do trabalho tem como foco um ataque à Cristandade, algo que já vem do anterior e que aqui ganha contornos bastante mais directos. As 4 bestas – Serpente, Noctule, Bode e o Abutre – personificadas em 4 temas, longos e densos. Donos de uma sonoridade Black Metal de contornos nórdicos – essencialmente suecos, quiçá – estes italianos desfilam capacidades técnicas que teriam que ser expostas desta forma tão “limpa” e perceptível. Imensa melodia, vocalizações próximas do Death Metal e a já referida capacidade técnica dos músicos, e o resultado final é um que agradará a adeptos da franja mais… “imaculada” do género. Aqui não há produção Lo-fi, há um som cheio e em que cada um dos pormenores, cada um dos pequenos solos, são claríssimos para o ouvinte. Temas densos e em que o peso não foi ignorado. Próximos de uns Funeral Mist, por exemplo, são uma banda que agradará a todos aqueles que gostam de Black Metal e de uma produção limpa e imediata, com um som cheio e forte!

7/10
Daniel Pinheiro

Schizochristo – “Mundo Sin Fin”

2020 – Edição de Autor

Apesar de ter uma clara preferência pela música com uma produção poderosa (na minha opinião, aumenta o seu potencial peso), o black metal é dos poucos estilos que consegue contornar esta “regra”, onde por vezes o som mau tem o seu charme. Até chegarmos a álbuns como “Mundo Sin Fin”, que embora tenha o seu charme lo-fi, nitidamente precisava de uma mão mais atenta na hora de misturar/produzir. Isto porque, mesmo sem perceber nada disto, dá a sensação de que pelo som da bateria estar demasiado alto (e comprimido) o resto sofre parecendo que se está a ouvir a música debaixo de água, principalmente quando o ritmo aumenta a velocidade. Algo que prejudica desde o início a apreciação. Não é trve da minha parte, eu sei, mas todos temos os nossos defeitos.

4/10
Fernando Ferreira

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