WOM Report Not Dead Yet Fest @ Sociedade Recreativa Estrelas do Feijó, Almada – 29.09.2018
O fim do dia despedia-se calmo, numa rua de bairro algures no Feijó. A noite que começava sossegada levou um abanão de metal com a abertura da 1ª edição do festival Not Dead Yet Fest, trazido pelas mãos da produtora Soundblast Productions.
Mas não há outra maneira de contar a história, que não a realidade. Um evento que reúne nomes num cartaz impressionante, muito talento nacional e também algumas bandas de relevo internacional, especialmente dedicado às sonoridades mais extremas de death metal, teve tudo para dar certo, não fosse a muita falta de adesão por parte do público: algumas dezenas de presentes. Tudo estava certo, todas as condições, o som seria impecável, naquela casa que é a Sociedade Recreativa Estrelas do Feijó, há boa comida, bebida, bons acessos, aquele ambiente.
Várias coisas podem estar na origem desta situação; após o súbito fecho do Stairway Club, onde estava previsto se realizar este evento, poderia-se colocar em causa o próprio seguimento do festival, e já foi uma conquista conseguir a sua concretização, especialmente com todas as condições que se verificaram. Por outro lado, na mesma noite, aconteceu em Lisboa o Back To Skull, também com cobertura da World Of Metal. Mas ainda assim, no Feijó merecia-se mais. Temos uma produtora que deu os 10 litros para organizar um festival de death metal?! Nomes impecáveis, valores acessíveis para os dois dias, uma oportunidade imperdível. Wake up people!
Esta falta de afluência do público não foi impedimento de grandes atuações, como reportamos a seguir. All set. É a noite do death metal.
Undersave
Os Undersave de Lisboa iniciaram as hostilidades ainda com uma sala praticamente vazia, algo que não fez justiça ao talento incrível da banda, já presente na cena underground desde 2004.
Em 2017 gravaram o seu mais recente e segundo álbum de originais, “Sadistic Iterations: Tales of Mental Rearrangement”, agora disponível via a Chaos Records, e também na página de Bandcamp da banda. Este disco repleto de excelentes malhas, também já aqui passou pelas páginas de streaming e reviews da WoM.
Tempo de passar à acção. Após uma história de várias mudanças de formação ao longo dos anos, uma demo, EP, e dois discos de originais, o que agora assistimos é a uma máquina de som brutal. A meio da prestação, apresentaram então malhas do novo disco: somos servidos de bom death metal técnico, denso, num blend de riffs polidos, muitas vezes com um sabor clássico old school, mas sempre pesado, consistente.
Durante os 30 minutos em que tocaram, devastaram a sala, o som perceptível, e como se quer, alto. Mostram que estão em excelente forma, preparadíssimos para detonar em palco. Tentem acompanhar os esforços da banda, e assistir ao próximo concerto – CTX Metal Fest III / Centro Cultural do Cartaxo – vão perceber do que estou a falar, fãs de death metal serão largamente recompensados.
Disaffected
Um nome nacional de peso neste cartaz do primeiro dia do festival, e com um tremendo novo álbum na bagagem, e ainda raras as vezes que temos a oportunidade de os ver atuar ao vivo… mais que motivos para marcar presença num concerto imperdível de Disaffected. Com um regresso imponente, trouxeram uma setlist de luxo, para 40 minutos de boa música, onde se destacou o novo álbum ‘The Trinity Threshold‘ (disponível via Chaosphere Recordings) e uma viagem ao passado ao som dos temas do álbum de estreia ‘Vast’, de 1995.
Abrem com classe, ao som de ‘Waters Of Saleph’, logo seguida de ‘Glossolalia’, e ainda do novo álbum, tivemos ‘Pi Alpha Centurian’ e ‘Conquer By This’. É difícil classificar um género de metal neste novo trabalho da banda, isso seria como colocar a arte num caixote. Muito mais que death metal progressivo, é um balanço de riffs audazes com uma bomba de técnica e partes melódicas e ambientais, um mundo de bom som onde a sensação é estranheza mas também frescura.
Em termos de qualidade do som na casa: equilibrado, pesado, e embora tivesse um bocado de dificuldade em distinguir as teclas, por vezes, é todo um conjunto que funciona.
Do álbum ‘Vast’, originalmente lançado em 1995, agora reeditado via Chaosphere Recordings (edição deluxe de 2015), tivemos direito aos temas ‘Unlimited Vision’, ‘Cold Tranquility’, e que melhor pérola de demolição que ‘Vast – The Long Tomorrow’ a fechar o set. Nas palavras do baixista António Gião, eles tocam com pica para 5 ou para 500. E deram-lhe muito bem. Felizes os presentes.
Confiram o talento da banda na atual formação e tirem vossas conclusões porque ‘The Trinity Threshold’ é um estrondo de álbum, na página de bandcamp.
Neocaesar
21h30 em ponto, hora em que sobe ao palco a primeira banda internacional da noite. Os Neocaesar vêm de Roterdão, Holanda, onde se formaram em 2013, e são antigos membros dos primórdios de Sinister dos idos ’90. Banda nova, músicos veteranos.
Gravaram um álbum de estreia ’11:11′, com produção em nome próprio e editado em Dezembro de 2017 a título independente. O álbum foi muito bem recebido e meses mais tarde a banda viria a assinar com a espanhola Xtreem Music, que disponibiliza agora o álbum em formato físico, e em suporte digital na página de Bandcamp.
Foi este álbum que os Neocaesar serviram quase na íntegra, não fosse a exceção de deixarem fora do alinhamento a belíssima instrumental ‘Sigillorum Satanas’.
O vocalista Mike van Mastrigt comunica aos presentes, introduz os temas, a casa tem apenas algumas dezenas de pessoas. Uma intensidade de som que merecia muito mais público. Eric de Windt carrega na bateria, ao passo que Michel Alderliefsten toma o pulso indomável nas quatro cordas, eles têm aquela postura badass death metal clássico, o som está mais alto agora e toda esta parte rítmica é uma afinada máquina demolidora, metal de alto nível.
Deram o melhor ao tocar oito temas brutais e com um som espetacular na atuação. Grande pomada.
Fleshcrawl
Início de rompante, sem aviso prévio, é para rebentar. Vindos da Alemanha, os Fleshcrawl regressam para tocar em Portugal passados 10 anos desde a última passagem por cá, altura em que tinham lançado o álbum ‘Structures of Death’.
Esta é uma banda ao vivo com um som estilhaçante e imperdoável. Para fãs de death metal clássico a roçar o grindcore. Vamos lá a ver se nos entendemos: apesar de não editarem um álbum desde essa altura, a banda apresentou um repertório com 15 temas, deambulando entre as suas raízes nos meados dos ’90, com ‘From the Dead to the Living’ (1994), ‘Slaughter at Dawn’ e ‘Dark Dimension’ (1997).
Os Fleshcrawl estavam a partir no aço, entre alguma interação com os presentes, e uma goles de vinho, o som deles galopava sempre com consistente brutalidade. O set alternava-se com temas do último álbum, em que incluíram ‘Structures of Death’, ’Into the Fire of Hell’ e ‘Written in Blood’.
A música é directa e atravessa tudo, rebenta tudo. Tentavam puxar pelo público. E conseguiram. Poucos na linha da frente, mas mosh é mosh, sejam 10 ou 100. Continuaram a rasgar até ao fim, com dois temas guardados para o encore.
Diz que a banda está a planear o tão aguardado longa-duração para ser lançado no final de 2019. Verificada a forma em palco, só se prevê uma bela dose de bestialidade. Podem conferir a obra na página oficial da banda.
Na próxima sexta dia 5 de Outubro, nova dose com o segundo dia do festival. Acompanhem o guia musical que passa por aqui, e apareçam para fazer a festa na casa.
Texto e Fotos por Hélio Cristovão (@MoonInMercury)
Agradecimentos: Soundblast Productions
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