WOM Report – Trinta & Um, Crab Monsters @ RCA Club, Lisboa – 29.06.19
Esta era uma noite especial. Uma noite aguardada por muitos dos presentes e por todos os que conhecem e reconhecem a importância do pilar do hardcore nacional que são os Trinta & Um. O evento era marcado pelo regresso da banda de Linda-A-Velha aos palcos, uma celebração da sua carreira, carreira essa que completa no próximo ano vinte e cinco anos de existência. A acompanhá-los tiveram os Crab Monsters, banda de Castelo Branco que teve a honra de abrir a noite e de aquecer o público presente.
Comecemos precisamente por eles. Quando subiram ao palco, a sala estava a meio gás – o que, devo admitir, me causou alguma apreensão, já que esta celebração merecia, logo à partida e sem saber como iria decorrer, casa cheia. Uma intro com uma canção que nos transportou para um plano onírico, seria logo trocada pela pujança de “Violent World”. Assim que o vocalista começa a cantar, jorra uma tromba de cerveja na sua direcção. Estava feito o baptismo e estava dado o mote para aquilo que se iria ter durante o alinhamento. Hardcore musculado com o centro das atenções no álbum “High On Guts” que foi tocado na íntegra.
Se a função de uma banda de abertura é aquecer o público para a banda principal, ninguém pode apontar o dedo aos Crab Monsters. Em muitos momentos a banda conseguiu evocar o espírito do hardcore, do punk e do rock’n’roll e até fazer a ponte perdida entre os três géneros (como se pode notar na excelente “Eat C.R.A.B.S.”) e fazer sentir a energia da sua música, energia que nos fez sentir a todos que estávamos vivos. E bem vivos. Definitivamente esta é uma banda que vale a pena conhecer e apoiar.
Findada a actuação dos Crab Monsters, era chegada a vez de desmontar o palco da banda de Castelo Branco e começar a preparar para a chegada dos Trinta & Um. O mítico “Fado do 31” do Rodrigo deu a indicação que todos precisávamos. A sala já bem mais composta, lotou por completo aquando a entrada dos membros que mais celebrizaram a carreira dos Trinta & Um. Tudo se tornou mais pequeno porque estava em palco uma grande banda. “Viver No Subúrbio” é o primeiro tema do mítico “O Cavalo Mata!” e também foi o primeiro tema do seu alinhamento no RCA Club. O público acompanhou logo Zé Goblin nas letras de uma obra que marcou toda uma geração e género musical no nosso país.
Essa comunhão com o público foi o que mais marcou este concerto – em “Assaltei O Banco”, por exemplo, Zé Goblin deixava de cantar e o público preenchia o vazio deixado com a sua voz. Não houve espaço para respirar naquele início fulgurante, com “Porque Eu Acredito” a criar um verdadeiro frenesim, com corpos a voar ou surfar do público para o palco e vice versa. Zé Goblin esteve comunicador como sempre o conhecemos. Sincero de coração, com boca ao pé da alma e não se cansou de agradecer ao público, à banda e à Hell Xis por estarem ali naquele momento. Assinalou também os vinte anos desde o lançamento do já mencionado “O Cavalo Mata!” precisamente antes de tocar o tema título. Que foi motivo de mais rebuliço. Do bom LVHC.
Por falar em LVHC, esse espírito foi muito mencionado por Goblin e sentido através de músicas como “Não Há Regresso”, “Pela Calada”, “Tourada” e tal como o próprio mencionou, mais do que música é um sentimento e naquela noite, eramos todos de Linda-A-Velha. Todos os temas percorridos tiveram um impacto no público e é quase infrutífero citar todos mas não poderemos deixar de parte a dedicatória deixada a Sérgio “Bifes” Curto que serviu o mote a um dos momentos mais intensos da noite, precisamante “LVHC”. A banda saiu de palco e não demorou muito para voltar para mais quatro temas onde num deles Zé Goblin ficou sem micro e o público acabou por fazer a sua vez. Chegado ao final do tema, o vocalista diz “vamos fazer uma cena à antiga, vamos tocar outra vez!” ao que todos aderiram sem hesitar.
O final inevitavelmente chegou mas mesmo assim Zé Goblin não estava convencido tendo até anunciado que iriam tocar o set todo novamente. Sarrufo na guitarra, Rações na bateria e Rolão no baixo ainda acederam para mais dois temas mas apesar das “provocações” de Goblin a dizer ao público para cantar “vocês são uns meninos”, a noite viria findar ali mesmo, em alta, com uma banda de coração cheio, um público exausto mas também igualmente preenchidos pela noite acabada de viver. Para a memória fica o regresso de uma das mais marcantes bandas do nosso underground e a recepção por parte de um público que fez questão de lhes mostrar que LVHC é mais do que um período enfiado numa caixa temporal ou palavras deitadas cá para fora apenas porque garante visibilidade nesta era de luta por visibilidade no vazio das redes sociais. Que LVHC somos todos nós.
Texto Fernando Ferreira
Fotos Sónia Ferreira
Agradecimentos Hell Xis Agency
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