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Reportagem Sabaton, Accept, Twilight Force @ Coliseu do Porto, 20 de Janeiro de 2017

Quem viveu o heavy metal na década de oitenta e noventa, bem pode sentir que não há melhores tempos como os actuais. Porquê? Por podermos viver tempos em que temos concertos com este pacote de bandas sem estarmos propriamente num festival. Tirando raras excepções, o power metal também não é um estilo que tenha muito tempo de antena fora desse contexto festivaleiro. O que só torna ainda mais apetecível este cartaz. Os Twilight Force que tiveram um boost na sua carreira com o seu segundo álbum (“Heroes of Mighty Magic” cuja crítica fizemos nestas mesmas páginas) que teve edição pela Nuclear Blast visitavam o nosso país pela primeira vez; os Accept são um dos nomes mais clássicos do heavy metal, uma das bandas históricas que ainda mantém o seu nome vivo com excelentes trabalhos de estúdio, mesmo sem Udo; e claro, os Sabaton, o regresso depois de uma longa e incompreensível ausência dos nossos palcos.
A noite começou a hora certa com os Twilight Force a espalharem o seu power metal de cariz sinfónico que faz lembrar um pouco Rhapsody (com “Fire” ou do “Turilli”). Se em disco não ficámos particularmente impressionados, principalmente por essa semelhança, a verdade é que o seu som revelou-se mais que apropriado para o início das hostilidades. Apesar da sala ainda estar a receber espectadores, o entusiasmo era mais que evidente e a banda não foi imune ao mesmo, dando de volta toda essa energia. Dividindo a sua actuação praticamente em dois, onde tivemos os quatro primeiros temas retirados do já mencionado último trabalho de originais e as duas últimas músicas no álbum de estreia, “Tales of Ancient Prophecies”, foi uma actuação comum que apenas encontrámos um potencial problema. O mesmo que encontrámos nos álbuns de estúdio como já foi mencionado atrás.
Talvez os lugares comuns sejam demasiado… comuns para quem procura algo mais original. Afinal o impacto dos Rhapsody foi muito grande e o beco sem saída onde eles se enfiaram também, pelo que essas fragilidades facilmente são reconhecidas também nos Twilight Force. Adicionalmente e infelizmente o som da banda, pelo menos da posição onde estávamos, fez com que se perdesse muitos detalhes da sua música, mas o seu entusiasmo energético e a sua entrega foi suficiente para contornar esta questão e para conquistar aqueles que eram mais cépticos, como nós próprios. No final ficámos com vontade de os ver em melhores condições, apesar de não termos mudado a opinião em relação ao seu som – algo que também estaremos abertos a tal no próximo álbum de estúdio.
A mudança do palco foi relativamente rápida, estando já grande parte dos elementos cénicos presentes e a antecipação crescia para ver um dos grandes nomes do heavy metal, não só da Alemanha, ou até da Europa, mas do mundo. Poderá parecer uma posição algo ingrata para uma banda com este estatuto histórico estar a abrir para os (mais ou menos) “novatos” Sabaton – tal como se sentiu provavelmente o mesmo com os Testament com os Amon Amarth – mas antes ter uma hora de Accept e ver temas imortais como “Princess Of The Dawn”, “Fast As A Shark” e “Balls To The Wall” do que nada. E a banda demonstrou grande profissionalismo e genuinamente grata pela oportunidade de estarem a tocar para o público português.
O mais recente lançamento da banda alemã é o trabalho ao vivo “Restless & Live”, registado originalmente em 2015 (e ao qual em breve nos vamos debruçar) e o alinhamento é uma versão resumida desse registo. Tivemos assim o início com temas mais recentes como “Stampede” de “Blind Rage” – o último álbum de originais – e “Stalingrad”, tema-título do álbum de 2012. Ao contrário do que acontece com muitas bandas em estatutos semelhantes, as músicas da nova fase foram muito bem recebidas, demonstrando que a banda não anda propriamente a passear e a viver às custas do seu passado. Ainda tocaram da fase mais recente os temas “Final Journey” (com o seu inesquecível trecho da “Aurora” da peça Peer Gynt do compositor Grieg) e “Teutonic Terror” que foram igualmente bem recebidos. 
No entanto, isso não invalida que os momentos mais altos tenham sido mesmo aqueles em que o passado foi revisitado. O clássico “Restless And Wild” foi o primeiro a dar o mote e o entusiasmo foi generalizado. Do mesmo álbum foram retirados os temas “Princess Of The Dawn” e “Fast As A Shark”. Se o primeiro é uma lição como interagir com o público, o segundo é heavy metal a mostrar o caminho de como o thrash metal se deve portar, e onde Wolf Hoffmann e Uwe Lulis brilharam. E claro que “Metal Heart” e “Balls To The Wall” também seriam indespensáveis numa actuação histórica que torna obrigatório esta banda voltar cá em nome próprio com mais tempo de antena. 
Destaque para a actuação do guitarrista Wolf Hoffmann, que é um verdadeiro animal de palco, tocando com um feeling próprio de quem nasceu com uma guitarra na mão. Mark Tornillo também esteve bem na sua difícil tarefa de suceder o monstro de palco que é Udo, no entanto a sua voz demonstrou algumas fragilidades em alguns momentos. O que importa reter é que tanto a banda, como o som, como o público estiveram no seu melhor nível, sendo mais que um aquecimento para Sabaton. Foi um verdadeiro desafio que os Accept deixaram para a banda cabeça-de-cartaz.
Não sabemos bem se houve propriamente um vencedor, já que as duas bandas são bastante diferentes pelo que qualquer comparação seria logo à partida inútil. O que podemos dizer é que apesar da reacção extremamente positiva por parte do público aos Accept, grande parte do mesmo estava lá por serem fãs dos Sabaton, pelo que a espera a que todos os preparativos obrigaram fizeram com que a antecipação fosse crescendo até níveis insuportáveis. Primeiro, teve-se direito a uma intro orquestral longa que preparou o público para o espectáculo que estava prestes a começar. Depois foi a vez da versão que a banda fez de “In The Army Now”, clássico single do duo sul-africano Bolland & Bolland e popularizado pelos Status Quo. Enquanto a gravação se fazia ouvir no Coliseu, tínhamos dois soldados com detectores de minas a colocar o aviso de perigo. Um dos muitos excemplos de como a parte cénica pode resultar de forma simples.
“The Ghost Division” deu o mote para o início da actuação. Assim que o pano foi aberto e o palco ficou revelado por completo, pudemos ver o belo do tanque em todo o seu esplendor, um nível de componente cénica que não é muito comum ver no Coliseu do Porto. Algo a que apenas nos ficámos habituados a ver em bandas como Iron Maiden e que mostra que os Sabaton são seus mais que dignos sucessores. “Sparta” foi outro dos casos onde vimos a componente cénica a brilhar, com uma série de figurantes vestidos de soldades espartanos a marcar o ritmo da música com as suas lanças e escudos.
O último álbum de originais “The Last Stand” foi o centro das atenções, demonstrando a confiança no mesmo, apesar de, na nossa opinião, como falámos nestes mesmas páginas, este álbum é inferior aos últimos trabalhos dos Sabaton. Ainda assim, pudemos constantar que os temas escolhidos resultam muito bem cima do palco, melhor do que em disco. O impacto pelo menos é bem mais forte e a reacção do público a temas como “The Last Stand” e “The Blood Of Bannockburn” foi equiparável à reacção a outros clássicos.
Por falar em clássicos, “Swedish Pagans”, “Carolus Rex” e a inevitável “Primo Victoria” não poderiam deixar de aparecer, temas que são dos favoritos dos fãs e que mostram bem o estatuto que a banda já atingiu. Não só das suas músicas mais orelhudas dependeu a banda, espalhando a sua simpatia em diversas intervenções onde normalmente pontuava a boa disposição principalmente entre o frontman Joakim Brodén e o guitarrista Chris Rörland. Num desses momentos, Brodén relembrou a primeira vez em que os Sabaton estiveram em Portugal, numa digressão com Edguy. Nessa época ele tocava teclados e cantava. Com um teclado no centro do palco, gerou-se uma brincadeira em que se insinuou que ele já não sabia tocar e que caberia ao novo guitarrista Tommy Johansson assumir esse papel. O resultado foi uma bem conseguida versão acústica da “The Final Solution”.
Temas sucedendo-se rapidamente (e podemos apontar duas razões para este factor. Primeiro, as músicas da banda são curtas e segundo, o público estava mesmo absorvido pela actuação da banda sueca) e em pouco tempo chegou-se à recta final do espectáculo, terminando com um tema que já se tornou um verdadeiro clássico: “To Hell And Back” do anterior trabalho, “Heroes.” Apesar das dúvidas com que o último trabalho nos deixou (e sobre o qual também não mudámos a opinião), é inegável que em cima do palco os Sabaton são uma máquina bem oleada e que estabelece uma forte ligação com o seu público, sabendo perfeitamente dar um espectáculo memorável. E foi precisamente isso que se viveu na gelada noite de vinte de Janeiro de 2017, onde cá fora a temperatura poderia estar muito baixa (a roçar os negativos) mas lá dentro o calor era mais que muito. Uma grande noite de heavy metal, para todas as gerações e gostos.

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